Manoel Soares: onde está a solução para o problema de violência no Estado

14068525_1190844420937083_1254633029155274803_oColunista do Diário Gaúcho 

A onda de violência que toma conta do Estado faz com que a sociedade clame por soluções que chegam a contrariar o que acreditamos ser correto em nome do que é necessário. A primeira solução que ouço nas ruas é que um Capitão Nascimento seria o ideal agora. Muitos acreditam que, em horas de crises como essa que estamos, é preciso ter uma polícia que mate sem pena para mostrar quem manda. Óbvio que uma polícia nesses moldes vai cometer injustiça e muito inocente vai pagar o pato, como já aconteceu.

Outra figura que ganha força em situações assim é a do Zé Pequeno. Quem mora em favela sabe que, em boca que tem patrão, os bandidinhos chinelos sabem que não podem fazer arrastão nem matar mãe de família na porta de escola, pois, se fizerem isso, vão sofrer quando voltarem para a quebrada. O problema é que, em qualquer uma das hipóteses, a solução para a violência é mais violência.

Com uma polícia e um chefe de boca que matam sem dó, estamos apagando um incêndio com gasolina. Se tivermos uma polícia que mata sem pena, teremos traficantes e bandidos revidando sem pena, mas a vingança deles nem sempre é no policial, mas no cidadão. É como uma bolinha de pingue-pongue: com a força que batemos, ela volta.

Solução

Se, por outro lado, acreditarmos que a redução da violência está ligada a uma conivência com lideranças criminosas que vão segurar seus “exércitos”, estaremos entregando parte da cidade nas mãos de bandidos. Países como Colômbia e alguns do Norte do continente africano viveram essas realidades.

Em nenhum dos casos, a violência foi reduzida: nem com a extrema violência policial nem com a conivência com bandidos. A verdade é que o os tiros que matam mães e as lâminas que cortam cabeças são resultados de anos de descaso e, enquanto não resolvermos na ponta, nada vai sair do lugar.

Um bandido de 20 anos que mata hoje, há 15 anos, era um menino de cinco anos que não recebia oportunidades para ir além do seu beco. O crime foi o passaporte para ele ser alguém. Óbvio que ele foi um fraco que cedeu às tentações. Eu mesmo cresci no meio do crime e não virei bandido. Como eu, 95% das favelas não são do crime. Por pior que seja a situação, as soluções não estão no Capitão Nascimento nem no Zé Pequeno.

DIÁRIO GAUCHO