ZERO HORA: Trabalho igual, salários diferentes

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ZHA ofensiva contra a criminalidade em Porto Alegre a partir de amanhã vai reunir policiais militares (PMs) de origens e remunerações diferentes para um mesmo tipo de trabalho.

Desde que foi lançada, no começo do ano, a Operação Avante da Brigada Militar (BM) conta com cem PMs deslocados do Interior que recebem diárias – somariam R$ 5 mil mensais –, pagas sem atrasos. Outros 60 PMs da Avante integram batalhões da Capital, sem direito a diárias porque atuam na área onde estão lotados, sofrendo com os salários parcelados. E os 150 integrantes da Força Nacional recebem diárias que representam acréscimo mensal de R$ 7 mil.

– Enfrentamos situação muito difícil. Como motivar os colegas para trabalhar? – lamentou Leonel Lucas, presidente da Abamf, associação que representa os servidores de nível médio da BM.

COMANDANTE DA BM PEDE APOIO DA POPULAÇÃO

O tema é motivo de preocupação na cúpula da corporação. O comandante-geral, coronel Alfeu Freitas, pediu compreensão aos policiais da Capital e solidariedade da população.

– Precisamos incentivá-los, valorizá-los. Peço ao cidadão de bem de Porto Alegre que, ao encontrar um PM, estenda a mão para um cumprimento. A Força Nacional vem em apoio, mas depois vai embora, e quem vai ficar aqui são os nossos policiais, que estão todos os dias nas ruas, na chuva, no frio, no sol, trabalhando em defesa dos gaúchos.

Amanhã, o governo deve anunciar o calendário de pagamentos referente ao mês de agosto com um novo parcelamento de salários.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
O que é a Força Nacional de Segurança?
-Criada em 2004 para auxiliar Estados em situações emergenciais, atende a pedidos de governadores, mas também atua para dissolver distúrbios em áreas federais.
Quem a integra?
-Policiais militares e bombeiros de esquadrões de elite das polícias militares estaduais, além de agentes de polícia civil (para investigações) e peritos criminais (para necropsias). Os profissionais passam por treinamento na Academia Nacional de Polícia, da Polícia Federal, em Brasília, que vai de especialização em crises até direitos humanos. Após capacitação ou atuação, reintegram-se às forças de segurança de seus respectivos Estados. Na operação atual, foram enviados a Porto Alegre exclusivamente policiais militares.
Quais equipamentos tem à disposição?
-Pistolas .40, carabinas 5,56mm (fabricadas no Brasil pela Imbel, mesmo calibre das forças de paz da ONU), além de instrumentos de menor potencial ofensivo, equipamentos de proteção individual, como joelheiras, bornais, escudos e máscaras contra efeitos químicos para operações de dispersão de tumultos. Para transporte, utilizam picapes com tração nas quatro rodas. Chegaram ao Rio Grande do Sul 120 policiais em 30 viaturas que permanecerão no Estado enquanto durar a operação emergencial da Força em território gaúcho. São aguardados outros 30 policiais ao longo da semana, totalizando 150.
Como irão atuar?
-Eles serão incorporados ao efetivo da Operação Avante da Brigada Militar (BM), que já está trabalhando em Porto Alegre. Esses militares não serão enviados ao interior do Estado. As ações da Avante são planejadas com base em indicadores de criminalidade. Assim, a polícia prioriza o emprego de policiais militares (PMs) de acordo com os dias e horários de maior incidência dos crimes. Os agentes da Força Nacional vão atuar nas ruas, em pontos-chave, trabalhando em abordagens e barreiras. Inicialmente está previsto o emprego dele em dois turnos, no começo da manhã e final de tarde, em áreas onde mais acontecem os roubos de carros, a pedestres e a estabelecimentos comerciais. A convocação da tropa tem efeito simbólico, porque atende aos anseios da opinião pública e, mesmo que o reforço se limite a 150 homens, qualquer ajuda é bem-vinda. Ainda assim, o número é ínfimo frente ao déficit de policiais militares (PMs) no Estado, que deveria ter 37 mil brigadianos e conta hoje com apenas 19 mil.
Como costumam agir?
-Os agentes atuam de maneira conjunta, com três ou mais viaturas da Força em comboio. Como não haverá gaúchos no efetivo (que já tenham conhecimento da área), será incorporado a esse grupo viatura da BM. O objetivo é conhecer a cidade e identificar os principais pontos de ação. As missões serão pré-definidas no dia anterior. Também haverá postos-base em locais estratégicos durante os horários de pico.
Quando começarão a atuar?
-A partir de hoje serão repassadas as instruções a oficiais que comandam frações da tropa. A previsão é de que eles estejam nas ruas a partir das 6h de terça-feira.
Quanto tempo permanecerão no Estado?
-Ainda não está definido. A lei prevê que a Força Nacional permaneça em operação por 90 dias, tempo que pode ser renovado conforme a situação.
Onde ficarão alojados?
-Serão instalados no complexo de quartéis do bairro Praia de Belas, na área do 1º e 9º batalhões da BM, e no Departamento de Logística e Patrimônio, onde devem ficar durante o período em que ficarão no Estado.
Será possível diferenciá-los dos brigadianos locais?
-Os agentes vestem uniformes diferentes dos utilizados pela BM, de cor cinza com estampa camuflada (farda megapixel), indicado para qualquer terreno e ambiente. Cada policial leva no braço direito as bandeiras do Brasil e do Estado de origem. Os agentes vestem ainda capacetes (abertos ou com viseiras) no mesmo padrão ou boinas na cor vinho, conforme o tipo de ação, além de coletes balísticos e coturnos pretos. As picapes de transporte, com sirenes e giroflex, têm inscrições da Força Nacional pintadas em todos os lados da carroceria, com número individual de identificação nas laterais e na parte traseira, além de uma bandeira do Brasil.
De quem é a palavra final em uma ocorrência?
-Da BM. O encaminhamento administrativo e judiciário e a burocracia decorrente da ação também será responsabilidade da corporação.
A quem vão obedecer?
-Serão subordinados à BM e comandados por um major da Polícia Militar do Paraná. O único a ostentar uma bandeira do Rio Grande do Sul na farda durante a apresentação da tropa, ontem, era justamente o diretor da Força Nacional, tenente-coronel da BM Alexandre Aragon, que ficará apenas alguns dias na Capital. Depois, vai para o Rio de Janeiro, onde estará gerenciando as operações de segurança da Paraolimpíada.
R$ 7 mil
é o valor que será pago mensalmente pelo governo federal em diárias para cada um dos policiais de outros Estados que vieram ao Rio Grande do Sul pela Força Nacional de Segurança. O gasto mensal em diárias para os 150 homens será de
R$ 1.050 milhão

REFORÇO VAI ÀS RUAS AMANHÃ

FORÇA NACIONAL CHEGOU ontem à tarde em Porto Alegre com 30 viaturas e tropa de 120 homens. Outros 30 desembarcarão nos próximos dias. BM utilizará agentes para encorpar ações da Operação Avante, principalmente contra roubos

Reivindicada há pelo menos um ano para aplacar a onda de violência que aterroriza os gaúchos, a Força Nacional de Segurança Pública desembarcou no final da tarde de ontem em Porto Alegre.

Um comboio de 30 viaturas com 120 agentes de outras unidades da federação cruzou o país a partir do Rio de Janeiro para ajudar a Brigada Militar (BM) a tentar reduzir a criminalidade na Capital. As instruções ao grupo serão repassadas às 6h de amanhã no ginásio da Academia de Polícia Militar, no bairro Partenon. Em seguida, as equipes irão às ruas com os policiais da Operação Avante – a mais importante da BM.

Outros 30 policiais desembarcarão em Porto Alegre nos próximos dias. O apoio significa reforço de quase 100% ao efetivo da BM na Capital que atua na Avante. Somados aos 160 PMs que já trabalham exclusivamente na ofensiva, o contingente de policiais chegará a 310 na Capital.

– Vamos dobrar o efetivo. A operação será mais visível. Estamos bastante otimistas de que poderemos obter bons resultados – afirma o coronel Mario Ikeda, comandante do policiamento da Capital na BM.

Ele explicou que o objetivo primordial é escalar os policiais da Força Nacional em ações de combate aos roubos – de carros, ao transporte coletivo, a estabelecimentos comerciais e de ensino e a pedestres – em áreas mais conflagradas. O trabalho se dará com mais ênfase no início da manhã e no final de tarde. Estão previstas atividades de patrulhamento com viaturas e também em barreiras. De acordo com Ikeda, as equipes também poderão, em um segundo momento, auxiliar o policiamento nas periferias, sobretudo onde o tráfico de drogas e os homicídios são mais intensos.

A entrada do comboio da Força Nacional em Porto Alegre foi saudada por palmas de pedestres e buzinaços de motoristas. Pontualmente às 16h51min, caminhonetes pretas com emblema da corporação cruzaram o portão do 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM), um dos três quartéis onde o grupo será alojado por tempo indeterminado.

Com fardas, armas e equipamentos para pronto emprego, os policiais foram conduzidos para o ginásio do 9º BPM para rápida formatura. Sob gritos intercalados de “Brasil”, a tropa foi recepcionada pelo comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas.

– Sejam muito bem-vindos para nos apoiar no policiamento ostensivo de Porto Alegre. Os brigadianos estão fazendo muito bem a sua parte, e os senhores vêm em boa hora para somar esforços – enalteceu Freitas.

PLANO ALTERADO PARA APROVEITAR VIATURAS

Quando foi anunciado o pedido de socorro ao governo federal, a BM chegou a divulgar que integrantes da Força Nacional atuariam na guarda externa de presídios, liberando PMs dessa função para o patrulhamento de rua. A proposta foi alterada porque os policiais se deslocaram para Porto Alegre em viaturas e não em ônibus, como estaria previsto.

– Em um momento como esse, não seria razoável deixar 30 viaturas paradas – explicou Freitas.

A segunda-feira está reservada para descanso do grupo. A partir da tarde, sete oficiais que comandam as frações da tropa se reunirão com os comandantes de batalhões da BM na Capital para “conhecimento do terreno” e para traçar estratégias de ação. Embora o comandante da Força Nacional, o tenente- coronel da BM Alexandre Aragon, seja gaúcho, os demais integrante são de outros Estados e não estão familiarizados com a cidade.

– Nossa ideia é levá-los pessoalmente aos locais, principalmente aqueles considerados mais críticos – disse Freitas.

JOSÉ LUÍS COSTA

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