ZERO HORA: Por que Sartori escolheu Schirmer para a Segurança

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123Alertado para a repercussão negativa de nomear justo para a segurança o “prefeito da Kiss”, Sartori foi em frente e resolveu dar ao amigo uma chance de renascimento político

ZERO HORA

Não foi pelo conhecimento técnico, muito menos para agradar aliados e eleitores que o governador José Ivo Sartori escolheu o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, para comandar a conturbada área de segurança pública. Sartori optou por Schirmer por ser um dos poucos homens em quem confia. Foi uma decisão pessoal, tomada sem o aval dos dirigentes de partidos aliados, que até minutos antes do anúncio respondiam com a mesma frase à indagação sobre a escolha:

— Não é possível.

Alertado para a repercussão negativa de nomear justo para a segurança o homem que será para sempre lembrado como o prefeito de Santa Maria à época da tragédia da boate Kiss, que matou 242 jovens, Sartori foi em frente e resolveu dar ao amigo uma chance de renascimento político.

Nesta sexta-feira, no anúncio, nenhum dos dois falou em Kiss até o repórter Mateus Ferraz, da Rádio Gaúcha, fazer a pergunta que dominava as redes sociais: como lidavam com o constrangimento? Sartori respondeu que Schirmer não foi condenado civil ou criminalmente e não está sendo processado.

A Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria divulgou dura nota de repúdio à nomeação de Schirmer (confira abaixo). A manifestação define a escolha como “um deboche à população do Rio Grande do Sul”.

Apesar de toda a repercussão negativa, Schirmer passará a ser um dos homens mais fortes do governo. A condição de amigo de Sartori desde os anos 1970 lhe dá vantagem na disputa por verbas com a Fazenda e com outras áreas da administração. Vai despachar direto com Sartori.

Como o cobertor é curto, não está claro quem será sacrificado para aumentar os investimentos em segurança.

E por que Schirmer aceitou, sabendo que seria malhado feito Judas na Sexta-Feira Santa? Porque quer tentar apagar o rótulo de “prefeito da Kiss” com um trabalho na área mais crítica do Estado. Sartori o convidou para “ajudar no governo”, mas Schirmer disse que só aceitaria ser secretário se fosse da Segurança. O prefeito joga a vida nesta empreitada. Trata o convite como uma ¿missão¿ em que precisa “acertar ou acertar” e pede um voto de confiança dos gaúchos para mostrar que é capaz.
Aliás:

Pelo andar da carruagem, o secretário da Fazenda, Giovani Feltes, deixará o governo antes de ter de anunciar como será pago o 13º salário. Deputado federal, Feltes não precisa de emprego.


Nota da Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria:

TRAGÉDIA DA KISS – Nota de repúdio ao secretário de Segurança do Estado

Ainda perplexos com a notícia divulgada esta tarde em Porto Alegre, de que Cezar Schirmer assumirá como novo Secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, vimos pela presente externar nosso mais veemente repúdio e indignação com a notícia. O sentimento de que essa nomeação trata-se de um deboche à população do Rio Grande do Sul não é só nosso, mas é compartilhado por milhares de gaúchos que rapidamente se manifestaram indignados nas redes sociais lançando o nome de Schirmer aos trend topics seguido pelo nome da boate Kiss. Isso porque o Estado e também o Brasil sabem que Schirmer é um prefeito negligente, que não fiscalizou e permitiu que uma tragédia, que podia ter sido prevenida, se consumasse ceifando deforma torpe a vida de 242 jovens e deixando centenas de feridos e milhares de familiares e amigos destruídos. Depois da tragédia, Schirmer, diferentemente do que disse em seu discurso esta tarde, foi. sim, covarde, se escondeu, não deu respostas, não assumiu sua parcela deresponsabilidade, não abriu investigação alguma para apurar os fatos dentro da prefeitura. Ele tinha o dever de ter tomado providências e saiu ileso de toda essa tragédia, sem dar respostas às vítimas, aos familiares e à sociedade de Santa Maria e do Rio Grande do Sul. Se Schirmer não está respondendo a processos, como foi dito na coletiva de hoje, é porque ainda não houve justiça pela tragédia da boate Kiss e nenhum agente público foi responsabilizado, o que causa permanente indignação não apenas às vítimas e aos familiares, mas a toda a sociedade santa-mariense e gaúcha. Repudiamos a nomeação de Schirmer como Secretário de Segurança Pública porque o prefeito já demonstrou que não tem estima pelas vidas humanas, que não se comove com as tragédias e que não assume suas ações e responsabilidades como gestor público. Por isso, é uma vergonha diante do Brasil termos esse prefeito como Secretário de Estado em uma pasta relevante para a sociedade. Governador, em vez de abraçar o prefeito, abrace as vítimas da maior tragédia do Rio Grande do Sul e nos ajude a buscar Justiça e reparação e não coloque quem não soube cuidar da segurança de uma cidade e de seus jovens para cuidar da segurança de todo o Rio Grande!

Entrevista: "Estou consciente da dimensão do desafio", diz Cezar Schirmer Lauro Alves/Agencia RBS

Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)”

Entrevista: “Estou consciente da dimensão do desafio”, diz Cezar Schirmer

Atual prefeito de Santa Maria foi anunciado como secretário da Segurança do Estado na tarde de sexta-feira aaa

Por: Ticiana Fontana
Em meio a uma das mais graves crises na segurança, com índices de criminalidade batendo recorde no Estado, a indicação do atual prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), para comandar a Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi recebida com surpresa. E também com críticas. Especialistas questionam ainda se a experiência política do novo secretário será capaz de suprir a ausência de conhecimento técnico.

O Diário fez uma entrevista no começo da noite de sexta-feira com Schirmer, que repetiu o pedido de um voto de “confiança” e uma “chance” para fazer diferença à frente da pasta. Ainda não sabe a fórmula, vai focar na área e, depois, decidir quais medidas adotará (veja entrevista abaixo).

Schirmer deve renunciar ao cargo de prefeito nos próximos dias, com data a ser confirmada na próxima segunda-feira. Sobre o sucessor, afirmou que confia num bom governo de José Haidar Farret.

Medida anunciada

Na missão de secretário, disse que fará o possível para colocar em prática as medidas anunciadas nos últimos dias pelo Gabinete de Crise, como atrair policiais militares aposentados para voltarem à ativa com um aumento de gratificação, a retomada do pagamento de abono-permanência para que PMs em exercício não se aposentem – cerca de 400 – além da antecipação do chamamento de 770 policiais militares e 220 agentes da Polícia Civil.

No entanto, é da Fazenda que partem os valores investidos nessas ações.  Ainda não existe uma estimativa de quanto custarão essas novas medidas, mas o governador já disse que vai remanejar recursos de outras áreas e conta com uma melhora da economia nacional, consequentemente de um aumento de receita em nível estadual.

Entrevista:

Diário de Santa Maria– Como um político assume a pasta da Segurança em meio à tamanha crise que o Estado enfrenta?

Cezar Schirmer – Estou consciente da dimensão do desafio. Mas se não acreditasse que é possível enfrentá-lo, não teria aceitado o cargo. Não vim aqui para conseguir o emprego porque teria oportunidades bem melhores na iniciativa privada.

Diário – A principal crítica é que o senhor não tem conhecimento técnico, como o senhor responde ela?
Schirmer
– Eu peço um voto de confiança. Deixa eu trabalhar. Não tenho conhecimento técnico, mas lá (na secretaria) tem gente altamente qualificada, assessores técnicos que vão ajudar. Fui secretário da Fazenda e da Agricultura e não era técnico, não sabia a diferença ente um pé de parreira e um de couve. E, modéstia à parte, vai lá ver o resultado que obtive. Não façam prejulgamentos. Não entraria se achasse que a situação era irreversível, que não dava para melhorar. Me deem um tempo.

Diário – Quanto tempo?
Schirmer
 – Estou mudando o foco, decidi de hoje para amanhã. Sou amigo do Sartori há 40 anos, não tenho o direito de dizer, esse problema não é meu. Sou um homem público. Não sei quanto tempo isso. Não muda do dia para a noite. Há muitos fatores. Estamos perdendo essa guerra para a violência e a droga. Não é só aumentar o número de policiais que vai acabar com a criminalidade, é uma série de fatores. A segurança é um assunto de interesse geral da comunidade, é um somatório. Obviamente, a responsabilidade maior é do Estado. Vou procurar outras opiniões e recursos, dentro das secretarias, na sociedade, no Poder Judiciário, MP, OAB, igreja.  É uma calamidade brutal, não adianta dizer que é o município, Estado, União. Precisamos pegar todos juntos.

Diário – Qual o prazo que o senhor se dá?
Schirmer –
Não vou te dizer a partir de tanto tempo. Deixa eu tomar pé da situação e vou dar a resposta.

Diário – Mirou o Beltrame e acertou no Schirmer, o senhor será comparado, como lidar com isso?
Schirmer –
Vou procurá-lo para pedir ajuda. Ele sabe, tem conhecimento, experiência, sabedoria. É amigo meu, é uma pessoa que confio. Obviamente, vai me dizer, dar orientações sobre o que fazer, onde atacar, o que priorizar. Sou humilde, quem não sabe, não pode ser pretensioso.

Diário – Muitas pessoas não gostaram de o prefeito da cidade da Kiss assumir a Secretaria de Segurança Pública, o que o senhor responde?
Schirmer –
Não estou sendo processado ou denunciado. Nem eu nem a prefeitura fomos considerados responsáveis na Justiça.

Diário – Vai apresentar medidas ou pacotes?
Schirmer  –
Não acredito em pacote, as pessoas vão sentir no dia a dia. Não posso te declarar, o que já tenho um esboço na cabeça. Vou atrás de medidas anunciadas.

Diário – A falta de dinheiro do Estado e o parcelamento de salário o assustam?Schirmer – Obviamente, mas o Estado não faz por que quer, é um problema grave e complexo.

Diário – Mas o senhor é secretário e será cobrado também por isso, como vai responder?
Schirmer –
Não sei o que te responder. Me dá um tempo. Daqui há um mês, posso responder essas perguntas. Me deem um voto de confiança. Uma chance é só isso que peço.

Diário – Qual o seu recado para Santa Maria?
Schirmer
 – Na segunda-feira, vou dar uma coletiva e falamos sobre a cidade. Sou um cara muito apegado à família e a Santa Maria. Aceitei porque quero fazer a diferença. Em relação à cidade, faltam só quatro meses para o fim do governo. Tem muita coisa andando, ontem (quinta-feira), anuncie a estação experimental, tem várias ruas importantes sendo asfaltadas. Farret vai fazer um belo trabalho, e é uma forma de homenagear esse fiel companheiro de tantos anos.

Diário – Vai levar gente de Santa Maria?
Schirmer –
Pouco… Talvez uma secretária, algum assessor, não sei, não pensei nisso ainda.