ZERO HORA: Três exemplos do uso de tecnologia para combater a criminalidade

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Em Santa Catarina, projeto PM Mobile possibilita registro e impressão de boletim de ocorrência na hora nas viaturas Foto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS
Em Santa Catarina, projeto PM Mobile possibilita registro e impressão de boletim de ocorrência na hora nas viaturas
Foto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS

Polícias de Santa Catarina, São Paulo e Canoas  buscam opções para modernizar e agilizar o trabalho das corporações da segurança pública cada vez mais fragilizadas pela falta de pessoal 

Por: Schirlei Alves ZERO HORA

Entre profissionais que experimentam projetos inovadores na área da segurança para aprimorar o trabalho das forças policiais no país, uma reflexão é comum: a tecnologia não substitui o policial, mas pode facilitar o trabalho dele. Com efetivo cada vez mais deficitário, o jeito é agilizar as ações e qualificar a produtividade. E um simples aplicativo de conversa no celular pode se transformar em aliado quando a comunicação é peça-chave na atividade.

Em meio a escalada de violência no Estado, em especial em Porto Alegre, que tem contado com apoio da Força Nacional de Segurança para tentar reduzir os índices de criminalidade, a reportagem foi em busca de exemplos em que a tecnologia ajuda no combate ao crime.

Confira abaixo inovações implantadas pelas polícias militares de Santa Catarina, que tem modernizado o policiamento ostensivo por meio de um aplicativo em celulares e tablets, e de São Paulo, que otimizou recursos com registro de flagrantes por videoconferência em cidades sem delegados de plantão.

Há ainda um exemplo gaúcho, de Canoas, que decidiu aproveitar a gratuidade do WhatsApp para estabelecer canal de interação com a comunidade e, assim, ter acesso rápido e fácil a denúncias.

 Ocorrência em um clique em Santa Catarina

Em tablets e smartphones, PMs de Santa Catarina podem consultar câmeras, placas de veículos e mapear ações nas cidadesFoto: Maykon Lammerhirt / Agencia RBS

Os policiais militares de Santa Catarina estão dando adeus ao jeito convencional de registrar ocorrência. Os protocolos em papel e parte das funções realizadas pelo rádio transmissor, estão sendo substituídos por um aplicativo instalado em tablets e smartphones. A Polícia Militar (PM) garante que reduziu pela metade o tempo de atendimento de uma ocorrência. O PM Mobile está sendo testado pela Brigada Militar de Caxias do Sul.

– Além de diminuir o tempo de atendimento, qualificou a informação que entra no sistema. Tivemos economia de papel e de recursos humanos, já que eliminamos processos de retrabalho. É mais tempo disponível com menos esforço – diz o capitão Joamir Campos, responsável pelo setor de inovação tecnológica da PM catarinense.

O aplicativo possibilita acesso a câmeras de monitoramento das cidades, informações de procurados, mapa de localização das viaturas mais próximas e GPS. Uma impressora térmica acoplada ao veículo disponibiliza o boletim de ocorrência na hora, e os policiais ainda podem registrar provas de crimes por meio de áudio e vídeo.

Para colocar o projeto em prática em 70% do Estado, a PM contou com investimentos do Poder Judiciário e do Ministério Público. A expectativa é alcançar 100% das guarnições até março do ano que vem.– Nada substitui o ser humano. Mas a tecnologia agiliza o tempo de resposta à sociedade – avalia Elisandro Lotin, diretor da Associação dos Praças de Santa Catarina.

Depoimento a distância em São Paulo

Por videoconferência, delegado em São Sebastião registra flagrantes feitos em Ilhabela, Ubatuba e CaraguatatubaFoto: Sérgio Lopes / Polícia Civil de São Paulo

A Polícia Civil paulista implantou salas de videoconferência em delegacias de quatro cidades do litoral norte do Estado. Por meio de webcam, o delegado que está na central montada na delegacia de São Sebastião, toma o depoimento de presos em flagrante e dos policiais responsáveis pelas ocorrências em Ilhabela, Ubatuba e Caraguatatuba. Sem o recurso, as guarnições teriam de percorrer distâncias que chegam a 200 quilômetros. O projeto foi implantado há um mês, no turno da noite. A expectativa é ampliar para todos os horários.

– Onde havia necessidade de cinco (policiais), fica um. Libera pessoal para trabalhar na atividade fim, que é a investigação – destaca o delegado assistente da Delegacia Seccional de São Sebastião Odair Bruzos.

O Sindicato dos Delegados de São Paulo e órgãos de defesa se manifestaram contra o projeto por acreditarem que a transmissão prejudica o direito do preso.

– O contato do ser humano com outro ser humano é imprescindível em um momento como esse – contesta o presidente do sindicato, George Melão.

WhatsApp é aliado em Canoas

Central de monitoramento municipal filtra informações e denúncias recebidas por meio de grupos no aplicativo Foto: Lauro Alves / Agencia RBS

A Secretaria de Segurança Pública de Canoas, na Região Metropolitana, criou grupos de WhatsApp que são monitorados por guardas municipais. Dois agentes são encarregados de observar os 26 grupos abastecidos por quase 5 mil moradores. Eles filtram as informações e utilizam as câmeras de monitoramento das ruas para checar as denúncias. O canal de interação com a comunidade foi criado no início de 2015. Os integrantes dos grupos foram capacitados por meio de oficinas.

– O contato serve tanto para receber informação como para gerar. Já utilizamos o canal para desfazer boatos de arrastão, por exemplo. Não dá para ficar no mundo analógico enquanto a sociedade está no mundo digital – constata o secretário de Segurança, Alberto Kopittke.

Outra ferramenta de interação com a comunidade deve ser posta em prática até o final do ano. Cerca de 40 alarmes comunitários serão instalados em quatro bairros da cidade. Em torno de mil moradores devem ser capacitados para acionar o alarme, que será integrado com a central de monitoramento, toda vez que houver situação de perigo.

Em 2009, Canoas chegou a instalar um detector de tiros conhecido como ¿shotspotter¿, muito utilizado nos Estados Unidos. A tecnologia americana deixou de funcionar no final do ano passado porque a licença de uso do equipamento ficou cara.