O GLOBO: ‘Polícia é lenta, e os criminosos, rápidos’, diz ex-secretário nacional de Segurança

jose-vicente-filhoJosé Vicente da Silva Filho sugere mais investigação no combate ao crime

Vera Araújo – O Globo

RIO — Ex-secretário nacional de Segurança, o coronel reformado da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho fala da crise na segurança pública do país.

Como frear a violência no país, principalmente, em estados do Nordeste?

Sergipe e Rio Grande do Norte ocupam as primeiras posições em número de homicídios. Nos últimos anos, não tivemos uma política nacional com um modelo de gestão e tecnologia da informação para os estados, nem bancos nacionais de dados criminais e de identificação civil únicos e atualizados. Sem isso, a vida do criminoso fica mais fácil.

Há falta de gestão nos estados?

Sim. As estatísticas devem servir não só para informar a sociedade, mas como ferramentas para se preparar o policiamento nas ruas. O que acontece hoje? A polícia é lenta, e os criminosos, rápidos.

Como fazer um planejamento diante da atual crise financeira?

A solução é investir em talentos. Escolher as pessoas certas, por exemplo, para investigar, crimes violentos como homicídios. Não precisa de helicópteros e viaturas potentes. Além disso, a cobrança por resultados é fundamental. Para isso, é necessário monitorar o desempenho de todas as unidades policiais de perto. O que observamos, é que há um investimento em unidades de elite, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope), por exemplo, quando é a delegacia ou distrito policial que vai trazer os resultados com as investigações para a prisão de criminosos. No Rio Grande do Sul, que está vivendo uma das piores crises, houve uma queda do número de prisões. Sergipe, ao contrário, é um dos estados que oferece o melhor salário aos policiais, no entanto, os homicídios cresceram. É isso que os governos dos estados têm que tentar evitar que aconteça.

O que fazer para vigiar as fronteiras?

São 17 mil quilômetros de fronteira entre o Brasil e outros países. Não é fácil. O combate no território nacional pode ser mais eficiente, como a fiscalização de empresas de segurança que perdem centenas de armas como pistolas e revólveres, mais usadas em assaltos.

Na sua opinião, faltou o governo dar prioridade à segurança pública nos últimos anos?

A prioridade do governo tem que ser a segurança. Eu colocaria acima da educação e da saúde. Segurança trabalha com urgência. A educação tem que ser resolvida a médio e longo prazo. É preciso desenvolver uma nova capacidade de gestão. No modelo de segurança implantado pelo Rio de Janeiro, por exemplo, por que os helicópteros da Polícia Militar funcionam, enquanto os da Polícia Civil estão parados? Tem que haver uma junção entre as duas polícias para usar os aparelhos de segurança. Isso é fundamental, além de economizar em recursos.

As rebeliões em presídios têm se tornado frequentes. O crescimento do número de facções criminosas nas unidades proporciona isso?

Não vejo como o aumento do número de facções criminosas possa influenciar na ocorrência de rebeliões. A superlotação nos presídios, essa sim, é o estopim para as rebeliões. É a fragilidade em relação aos presídios. Enquanto não se resolver esse problema, melhorando as condições dos presos, as rebeliões vão ocorrer. Pode acabar a facção “a” ou “b”. Eles se articulam para resistir.