ZERO HORA: IMPEACHMENT DE SARTORI NÃO DEVE PROSPERAR

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Os baixos índices de popularidade de Sartori, o atraso nos salários e o não cumprimento da lei do piso não são suficientes para Silvana acatar o pedido do Cpers

O arquivo é o provável destino do pedido de impeachment do governador José Ivo Sartori, protocolado ontem na Assembleia Legislativa pela presidente do Cpers, Helenir Schürer. Embora o Congresso tenha inaugurado com a presidente Dilma Rousseff a modalidade impeachment pelo conjunto da obra, o clima na Assembleia em nada se assemelha ao que permitiu o avanço do processo contra Dilma. Aliada de Sartori, a presidente Silvana Covatti (PP) não tem vocação para Eduardo Cunha.

Os baixos índices de popularidade de Sartori, o atraso nos salários e o não cumprimento da lei do piso não são suficientes para Silvana acatar o pedido do Cpers. Mesmo não se configurando o crime de responsabilidade, a presidente foi polida. Ouviu os argumentos do Cpers, garantiu que o pedido será analisado com respeito e encaminhou o documento à Procuradoria da Assembleia.

– Entendemos a seriedade deste pedido e o analisaremos com a devida atenção e profunda responsabilidade – disse a deputada, que, na origem, é professora.

O movimento do Cpers é político. Depois de uma greve fracassada, que paralisou parte das escolas por 53 dias sem conseguir avanços significativos, o sindicato busca outra forma de chamar atenção para a situação dos professores que, mais uma vez, terão os salários parcelados e não vislumbram qualquer possibilidade de receber o 13º salário em dia neste ano.

Ontem, em entrevista ao Jornal do Almoço, da RBS TV, Sartori lembrou que, quando era candidato, recusou-se a assinar um documento elaborado pelo Cpers, em que os candidatos se comprometiam a pagar o piso do magistério até o final do mandato:

– Não assinei o documento porque sabia que não teria como cumprir.

Na história recente do Rio Grande do Sul, dezenas de pedidos de impeachment de governadores foram protocolados no Legislativo e arquivados pelo presidente da Assembleia. Olívio Dutra (PT) foi alvo de um pedido no primeiro ano de governo, movido pelo advogado Paulo Couto e Silva. A causa, o rompimento do contrato com a Ford, não se enquadrava nos critérios para afastamento de um governador, mas, para desgastá-lo, a oposição “cozinhou” o processo por mais de dois anos.

O único pedido acatado por um presidente do Legislativo foi contra Yeda Crusius (PSDB), em julho de 2009, à época em que Ivar Pavan (PT) comandava a Assembleia. Em outubro, o pedido foi rejeitado com a aprovação do relatório da deputada tucana Zilá Breitenbach, por 30 votos a 17.

Helenir Schürer entrega o documento a presidente da Assembleia, deputada Silvana Covatti. (Foto: Guerreiro/ALRS)
Helenir Schürer entrega o documento a presidente da Assembleia, deputada Silvana Covatti. (Foto: Guerreiro/ALRS)

CORREIO DO POVO: Vem mais pela frente

Primeira mulher a presidir a Assembleia gaúcha, Silvana Covatti está consciente da responsabilidade e das cobranças que virão independentemente da posição que tome em relação ao pedido de impeachment do governador José Ivo Sartori feito pelo Cpers. Cabe a ela a decisão sobre arquivar ou dar prosseguimento ao pedido. O tema será levado hoje à reunião da mesa diretora e à procuradoria-geral, que se manifesta sobre os requisitos formais. Como Sartori tem maioria no Legislativo, mesmo que Silvana decida pelo prosseguimento, o que não é provável, são remotas as chances de o processo prosperar. A maior bancada de oposição, a do PT, também teria dificuldade em avalizar a proposta em função do discurso contra o impeachment de Dilma Rousseff. O líder Luiz Fernando Mainardi, afirmou à coluna que o tema será pauta de reunião, mas antecipou que os deputados petistas não serão “irresponsáveis como os golpistas em nível nacional”. “Não faremos um julgamento político. Sartori foi eleito para governar quatro anos e, salve situação grave em contrário, só a população, nas urnas, tem o direito de impedir a continuidade de sua gestão”. O Executivo limitou-se a classificar o documento como inconsistente, atribuindo a iniciativa à “conhecida radicalização política” do Cpers. Para o líder do governo, Gabriel Souza, o pedido representa factoide político. Nos bastidores da Assembleia, no entanto, já circula a informação de que uma nova solicitação de impeachment está sendo preparada, desta vez, pela OAB.