‘A gente é torturado todo o final de mês’, diz PM sobre salário parcelado

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PM aposentado Moisés Costa dos Santos diz estar em depressão.
Governo do estado parcela salários dos servidores há nove meses.

Roberta SalinetDa RBS TV

Há nove meses seguidos recebendo o salário de forma parcelada, servidores do Executivo gaúcho acumulam dívidas e se viram como podem. Com contas atrasadas, pagando juros no banco, muitos precisam de ajuda de amigos até para comer (veja na reportagem).

PM aposentado está com dificuldade para pagar as contas (Foto: Reprodução/RBS TV)
PM aposentado está com dificuldade para pagar as contas (Foto: Reprodução/RBS TV)

É o caso do policial militar aposentado Moisés Costa dos Santos. Ele mora com a esposa no bairro Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre.

Seu Moisés costuma fazer bico para conseguir sustentar a família. No entanto, com o parcelamento do salário, a situação ficou ainda mais difícil. Além disso, ele também quebrou o pé e agora não consegue mais trabalhar.

“A gente cai na realidade e vê que um governo que deveria estar nos valorizando por tudo o que a gente fez pela sociedade, todos nós policias militares, e a gente é torturado todo o final de mês”, diz ele.

A preocupação da esposa, Eunise dos Santos, é com a saúde do marido. Seu Moisés sofre de depressão, toma muitos remédios, e ela tem medo que, por causa das dívidas e contas atrasadas, ele fique doente outra vez.

Esposa está preocupada porque o marido está em depressão (Foto: Reprodução/RBS TV)
Esposa está preocupada porque o marido está em depressão (Foto: Reprodução/RBS TV)

“Ele está apavorado, entra no negativo, é juros, juros do banco, e o salário não entra e ele está em pânico”, desabafa a mulher.

Membro da Associação de Policiais Militares, Seu Moisés recebe ajuda de amigos. Um deles levou uma caixa de leite ao colega.

“Às vezes uma conversa, uma mão amiga, um bate papo. Eu sei que para quem recebe é meio constrangedor mesmo, mas está vendo que o cara está mal, eu estou mal também, mas uma caixa de leite ajuda ele”, diz Clóvis Berneira, que também é PM aposentado.

“Eu me sinto agradecido”, retribui o colega.

Professora vende produtos para pagar as contas
Em Alvorada, na Região Metropolitana, mora a professora Andressa da Silva. Ela leciona em escola do município e do estado e diz que adora a profissão que escolheu. O problema é que não consegue mais se sustentar apenas exercendo a função.

Andressa é professora e vende produtos de beleza para poder pagar as contas (Foto: Reprodução/RBS TV)
Andressa é professora e vende produtos de beleza para pagar as contas (Foto: Reprodução/RBS TV)

“É uma profissão que sempre me encantou bastante, onde tem aquele retorno do carinho do aluno, então é uma profissão que realmente me realiza”, afirma ela.

Mas apesar de tanto amor pela sala de aula, Andressa não consegue se sustentar apenas com o salário de professora. Ela diz que a situação piorou bastante com o parcelamento dos salários. Por isso, no turno inverso da escola, ela anda pela cidade para garantir uma renda extra.

Andressa vende produtos de beleza, como batons, cremes e perfumes. É assim que ela tenta complementar a renda. Mas neste mês, o cenário se agravou. Com o nome no SPC, a preocupação é constante.

“Antes a minha venda era um extra, agora a minha venda serve para pagar as contas que deveriam ser pagam com o meu salário de professora”.

Para pagar os 343 mil contracheques, o governo precisava em outubro de R$ 995,6 milhões. Deste valor, porém, faltava quase tudo: R$ 841, 9 milhões. Até agora, cada servidor ganhou apenas R$ 780. O pagamento costuma ocorrer no último dia útil do mês.

O governo do estado diz que o que causou o problema neste mês foi o pagamento da folha de setembro, que também atrasou e que consumiu R$ 667 milhões dos cofres do estado. Também foram pagos na última semana de outubro depósitos para a saúde e outras despesas.

“O fato é que também tivemos um acréscimo de dificuldades, bloqueios de decisões judiciais que ultrapassaram os R$ 50 milhões numa única ação relativamente aos depósitos judiciais. Era um lugar que iríamos acessar esse volume de recursos. Tínhamos essa expectativa e lamentavelmente foi frustrada”, analisa o secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes.