CORREIO DO POVO: Convívio inusitado na Praça da Alfândega

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Chama a atenção a cena localizada ao lado do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS). Durante a Feira, dois homens conversam por alguns minutos sem se importar com o evento acontecendo ao redor. Ambos em seu horário de expediente, o policial militar Felipe Morais (31 anos) e o jornaleiro e artesão Renon Silva (30 anos) iniciam a conversa por terem um amigo em comum.

Felipe se sente atraído na profissão pelo sentimento de poder ajudar os outros. Embora não tenha o hábito de ler durante o ano inteiro, aprecia a obra de Leonardo Gudel “ Sangue Azul – Morte e corrupção na PM do Rio”. Na família, faz questão de estimular a leitura para a filha e afirma que a Feira é importante para as crianças explorarem outro universo além da tecnologia.

Renon Silva lê durante o ano inteiro e sua obra mais presente é a Bíblia: “ li todo o Antigo Testamento”, lembra. Divide-se em dois turnos, pela manhã é jornaleiro e à tarde, trabalha como artesão. Mesmo com o Ensino Médio em andamento (quase finalizando, ironicamente, faltando apenas a matéria de Artes) acha positivo as pessoas frequentarem a Feira mesmo em um momento de crise no país.

A convivência pacífica é emblemática não só pela rivalidade historica mas pelos tempos polarizados tanto no âmbito social quanto na política. Mesmo assim, espontaneamente, o policial ressalta: “ não tem problema nenhum nós conversarmos aqui, numa boa. A gente muitas vezes está em lados contrários por conta do trabalho, mas não gostaria de trabalhar em determinadas situações”, afirma.

A chuva forte encerrou a conversa da dupla que parecia se conhecer há muito tempo. Com um aperto de mão, se despediram e trocaram palavras positivas. Voltaram a exercer suas funções, opostas.

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