MEDO AFASTA PÚBLICO DA PRAÇA

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feiraAPESAR DA SENSAÇÃO DE INSEGURANÇA, local é um dos mais vigiados da Capital desde a véspera até o final do evento

A noite não é mais a mesma na Feira do Livro. Quem frequenta o tradicional evento há tempo nota que, de uns anos para cá, o movimento nas bancas tem caído sensivelmente depois que o sol se põe. Para muitos, a sensação de insegurança é o principal motivo para afugentar o público da Praça da Alfândega.

– No domingo, eram umas 21h, e isso aqui estava deserto – conta a patrona Cíntia Moscovich, escorada na cadeira de praia que tem levado todos os dias para o centro da praça, onde passa o dia conversando com amigos e leitores. – A Feira não tem mais o mesmo movimento noturno que tinha há alguns anos. Houve uma época em que era quase preciso expulsar os visitantes das bancas para os livreiros conseguirem ir embora.

Marco Cena Lopes, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro (CRL), entidade organizadora da Feira, concorda que na última década o público que permanece na Praça da Alfândega depois das 19h tem se reduzido. Para ele, a sensação de medo é um dos fatores determinantes para a diminuição de circulação.

– Não adianta a gente dizer que a Praça da Alfândega é um dos lugares mais seguros da cidade neste período do ano. Ainda assim, há gente com receio de visitar o evento à noite.

Não é exagerada a declaração de Marco Cena a respeito da segurança da Praça. O espaço é realmente um dos mais vigiados de Porto Alegre desde a véspera até o final da Feira do Livro. Além de um posto fixo da Brigada Militar no evento, há também uma equipe de segurança privada contratada pela CRL circulando pela área. Segundo o major Éderson Trajano, comandante do 9º BPM, não houve nenhum roubo ou furto de veículo ou de pedestre registrado até ontem na 62ª Feira do Livro e imediações.

– Se não há público na Feira, não é por falta de segurança pública. Se faltasse segurança, haveria o registro de ocorrências. Não é esse o caso – assegura Trajano.

A aposentada Telma Monassa, que olhava calmamente os balaios das bancas no final da tarde de ontem, não se convence quando a família a desestimula de frequentar o evento alegando insegurança.

– Gosto de vir à Feira e ficar até o final do dia. Quando me dizem que é perigoso, sempre pergunto se algo ruim de fato ocorreu por aqui. Ninguém é capaz de me responder com algo concreto – afirma Telma.

Para Marco Cena, a sensação de insegurança é um fator a ser solucionado não apenas pela Feira, mas pela sociedade como um todo:

– Esse não é um problema apenas do nosso setor, mas de todo o comércio. As pessoas saem cada vez menos de casa. Muitas só frequentam shopping centers, e com muito cuidado. Mas nossa Feira resiste na Praça, que é o lugar dela. Não há quem venha de fora e não se impressione com essa movimentação em torno dos livros em um local público como este.

ALEXANDRE LUCCHESE ZERO HORA