O medo de ser a próxima vítima

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13895106_1119077844880456_8549062260886261124_nPESQUISA COM 3,2 MIL pessoas revela que três em cada quatro brasileiros temem ser assassinados

ZERO HORA

A violência que extrapola limites e faz vítimas por bala perdida, em aeroporto, em supermercado e na frente da família é realidade que não se restringe a Porto Alegre. Pesquisa nacional revela que três em cada quatro brasileiros têm medo de ser assassinados. Os dados foram divulgados ontem, em levantamento feito em agosto pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) que integra o 10º Anuário da Segurança Pública. O levantamento ouviu 3.625 brasileiros com mais de 16 anos, em 217 municípios de todos os portes e 76% responderam que têm medo de ser morto.

Na Rua Madre Paulina, no bairro Rubem Berta, todos os dias, quando o relógio marca 19h, uma mãe que mora numa das casas da via se encerra na sua moradia. O cadeado é fechado no portão e ninguém mais sai. Qualquer barulho diferente é motivo para alvoroço.

– O que sinto é pânico. Nunca pensei que um dia pudesse sentir isso dentro da minha própria casa – desabafa a mulher de 34 anos que prefere não ser identificada.

Há 10 anos, quando chegou à Vila Santa Maria, recorda que não havia muros entre as casas. Hoje, todas as residências são cercadas. A violência já a fez perder o emprego e faz os filhos faltarem dias de aula. O medo é de ser a próxima vítima. Na rua, a sensação é nítida. São apenas 200 metros com 50 casas. E desde o começo do ano, quatro pessoas foram assassinadas.

Três delas, segundo a polícia, sem qualquer relação com a criminalidade. No mês passado, os adolescentes Graziela Rasquin de Pereira, 16 anos, e Juliano Santos, 17, foram mortos em um ataque com tiros de fuzil a esmo contra uma festa a céu aberto nessa rua. Oito jovens ficaram feridos. Em janeiro, Lucas Longo Motta, 12 anos, morreu com uma bala perdida no mesmo local. O ataque também deixou feridos, entre eles o filho de 14 anos dessa moradora.

– Ele estava brincando com o Lucas e nem teve tempo de ver de onde vinham os tiros. É isso que dá mais medo, eles aparecem, atiram e a gente não tem nem como se proteger – desabafa.

O menino foi ferido nas costas e, para cuidar dele e dos outros três filhos – de três anos, 10 anos e 18 anos –, a mãe viu-se obrigada a abandonar o emprego.

– Tenho medo de levar e buscar meu filho na creche. Depois, fico em casa porque não quero meus filhos expostos – diz.

EDUARDO TORRES

O ANUÁRIO
-Criado em 2006, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulga anualmente o levantamento da criminalidade no país baseado em dados coletados via Lei de Acesso à Informação.
-Neste ano, juntamente com o Anuário, foi divulgada pesquisa encomendada ao Datafolha com a percepção da violência pela população.
-Foi a primeira vez que a pergunta sobre o medo de ser assassinado entrou no levantamento.
NÚMEROS ALARMANTES
-A cada nove minutos, uma pessoa é morta violentamente no país. Foram 58.492 vítimas em 2015, queda de 2% em relação a 2014 no Brasil. No RS, o caminho é inverso. Foram 2.777 em 2015, 3,1% a mais do que no ano anterior.
– 73% das vítimas são pretos e pardos.
-Em dois anos, mais de 1 milhão de carros foram furtados ou roubados no país. Entre 2014 e 2015, enquanto houve estabilização deste índice no país. No RS, houve crescimento de 17,8%.
-Em 2015 houve redução de 10% nos registros de estupros no país em relação a 2014. No Estado, a redução foi ainda maior, caindo 43,6%.
-76% dos brasileiros têm medo de ser assassinados.
-57% acreditam que bandido bom é bandido morto.