OSCAR BESSI: Carta a 2017

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Por Oscar Bessi CORREIO DO POVO

Seja bem-vindo caríssimo 2017. Perdoe se parecemos ansiosos em recebê-lo, quase empurrando o outro aí, mas é que esse teu antecessor, vou te contar, não deixará saudades. Mesmo. Aliás, não sei por que vocês, novos anos, e os políticos têm esse péssimo costume: chegam cheios de promessas, criam um clima de esperança, aí no andar da carreta mostram que é tudo farinha do mesmo saco. Então saem nessa passada melancólica, deixando a grande maioria descontente e inquieta pela troca. Eu sei, é só o relógio que anda e os números que modificam, isto não traz qualquer milagre, o que vinha estragado, estragado prosseguirá. Mas o senhor podia mudar esta escrita, hein, seu 2017? Chegar bem e se manter assim. Porque a coisa tá braba, feia mesmo. Sabe aquela sensação que ultrapassa a normal frustração humana com a sua finitude e deixa, ao nosso redor, o ar pesado, com a desconfiança de que é o fim dos tempos? De que piorar é impossível? Eis como estamos. No limite. Então se aprochegue, vivente. O tempo urge. Não escrevi carta a Noel, desta vez. Ele não teria como me presentear com as coisas que peço. Então, tchê, resolvi escrever pra ti. Só tu podes dar um jeito nesta confusão. Queremos, por aqui, que em 2017 a consideração pelo outro seja um vírus que tome conta de todas as mentes, que a vida tenha mais importância do que qualquer outro interesse, do jeitinho cotidiano que fura a fila ou estaciona na vaga de idosos e deficientes ao gestor que se empanturra de desvios e favores ilícitos. Que se respire fundo e se pense em cada gesto da vida, porque é de uma comunhão imensurável de gestos que se faz o convívio. Que a lei seja lei, e que ela seja para todos, e que enquanto regra seja compreendida como matriz necessária para a preservação das diversas liberdades, estas liberdades tão diferentes entre si, mas que merecem a mesma chance, a mesma atenção, as mesmas oportunidades de triunfar. E que haja justiça. Que a justiça dos homens não seja ignorada pelos próprios homens, ainda mais aqueles que deveriam ser os primeiros a compreendê-la e acatá-la como exemplo. Que os fanatismos e intolerâncias não nos deixem mais com essa sensação de que, no caos, a justiça poderá ser feita pelas próprias mãos. Que a justiça divina nos ampare e olhe, com atenção especial aos policiais que, ultrajados em sua dignidade, precisam oferecer todos os dias sua vida na defesa desta sociedade, e aos professores que poucas condições terão para evitar que esta sociedade se torne uma mera e acelerada fábrica de bandidos. Que a coisa pública seja para o coletivo, não mais lixo a ser jogado na privada. Enfim, só queremos respeito, meu caro 2017. Algo que não vemos há um bom tempo.