EXTRA: Pais denunciam à polícia professora que classificou morte de menina Sofia como ‘justiça divina’

Ana Carolina Torres e Fabiano Rocha

Os pais da menina Sofia Lara, de 2 anos, estão na Delegacia de Repressão a Crimes de Informáticas (DRCI) para buscarem orientações de como podem denunciar a professora Denise Oliveira, que classificou a morte da criança como “justiça divina”. Ela ainda acusou o o policial militar do 16º BPM (Olaria) Felipe Fernandes, de 34 anos, de ter participado das mortes de cinco jovens em Costa Barros, na Zona Norte do Rio. O crime foi registrado como calúnia.

– Perdi minha filha e ainda tenho que passar por isso, ler essas coisas. Porque assim, eu vou ser muito sincera com você: não estou com tanto ódio do bandido (que disparou a bala perdida que atingiu Sofia). Ele não pensou: “vou matar uma criança”. Mas essa mulher riu de uma criança morta. É inaceitável. Em momento algum minha filha vai pagar por morte de ninguém. Ela é um anjinho. Essa mulher nos agrediu física e moralmente – disse Hérica Fernandes, de 33 anos.

Hérica não aceitou desculpas de professora
Hérica não aceitou desculpas de professora Foto: Fabiano Rocha / Extra

Segundo ela, Denise enviou uma mensagem, pelo Facebook, pedindo desculpas:

– Ela falou que não é mãe e tal, não tem noção da dor de uma mãe. Mas não é questão de perdoar ou não. Quero que ela pague na Justiça pelo que fez.

Hérica, mãe de Sophia, e Felipe mostram álbum de fotos de Sofia recém-nascida
Hérica, mãe de Sophia, e Felipe mostram álbum de fotos de Sofia recém-nascida Foto: Marcelo Theobald/EXTRA

Já Felipe se queixou ainda do fato de Denise tê-lo citado como responsável por mortes:

– Ela estava denegrindo, de certa forma, a imagem da instituição Polícia Militar. Não pode generalizar o erro, ou não, de colegas. Minha esposa se sentiu muito ofendida – disse.

Felipe e Hérica na chegada à DRCI
Felipe e Hérica na chegada à DRCI Foto: Fabiano Rocha / Extra

Sobre o comentário contra a filha, o pai falou que não tem ódio pela professora, mas afirmou que ela tem que ser punida:

– Minha filha não poderia ser culpada de um crime dos colegas (os PMs acusados da morte em Costa Barros). Ela não tem nada com isso. Não tenho raiva, não tenho ódio (de Denise Oliveira). A minha filha me ensinou muito amor. Mas ela foi muito infeliz no comentário e tem que ser punida, sim, pelo erro.

Entenda o caso

A professora de História da rede estadual de ensino do Rio Denise Oliveira viralizou após escrever em seu perfil no Facebook que a morte de Sofia foi uma “justiça divina”. No texto, ela ainda acusou o pai da criança de ser do 41º BPM, de onde eram os policiais que participaram da morte de cinco jovens em Costa Barros, na Zona Norte do Rio, em novembro de 2015. Ela diz que “ontem a dor de uma família, hoje a dor é na sua família”.

O perfil da professora, que foi retirado do ar
O perfil da professora, que foi retirado do ar Foto: Reprodução

O pai da menina não faz parte do batalhão citado por Denise e nem é acusado do crime que ela cita. Os PMs que respondem pelas mortes em Costa Barros são: o soldado Antônio Carlos Gonçalves Filho, o cabo Fábio Pizza de Oliveira da Silva, o soldado Thiago Resende Viana Barbosa e o sargento Márcio Darcy Alves dos Santos. Os quatro estão presos.

– Meu marido sequer era daquele batalhão. É um policial militar exemplar – disse Hérica.

A postagem de Denise recebeu uma enxurrada de críticas. A uma delas, Denise respondeu: “Ah, esqueci de dizer, podem xingar à vontade, Deus já fez a parte dele. A você só resta xingar mesmo. Kkkkkk”. O perfil da professora foi retirado do ar, mas o post viralizou e é compartilhado em muitos grupos e perfis de policiais militares. Um deles escreveu:

“Se alguém conhece o pai da criança que morreu baleada dentro do Habib’s, mostre a ele pois essa “senhora” tem que ser processada. Meus sentimentos ao Policial”.

Outras pessoas também reagiram:

“Que absurdo meu DEUS, não dá nem para acreditar nisso!!!”.

“Ele já está sofrendo demais. Acho que não merece ver esse lixo de postagem”.

“Não sei nem o que falar, porque se eu começar a expressar tudo o que estou pensando vou parar só amanhã”.

“Essa senhora deveria procurar fazer alguma coisa boa pelo próximo e para de falar uma m* dessa!”.

“Vamos sim denunciar para Secretaria de Educação”.

“Credooo… lamentável”.

A menina morreu com 2 anos
A menina morreu com 2 anos Foto: Reprodução

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Professora é alvo de sindicância

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação que informou que abrirá uma sindicância para apurar a conduta da professora. Além disso, a profissional não poderá poderá voltar ao trabalho enquanto a sindicância não terminar:

“A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) ao tomar conhecimento imediatamente instaurou comissão de sindicância para apurar o ocorrido. A Seeduc informa, ainda, que as escolas de sua rede estão em período de férias e tanto o diretor da unidade de ensino em que a docente trabalha quanto a direção regional foram orientados a não alocarem a professora até o fim da sindicância”.

Denise também foi procurada e, por e-mail, informou que não teve intenção de de ofender ninguém e que fez apenas “uma analogia entre as família destruídas pela violência”:

“Eu gostaria de esclarecer que em nenhum momento faltei com o respeito a menina Sofia (sic), a qual chamo de anjo. O que eu fiz foi uma analogia entre as família (sic) destruídas pela violência. Não sei pq as pessoas deram esse vulto todo a um post, que não tinha a menor intenção de ofender ninguém. Eu exclui meu face, e não pretendo voltar a ativa lo (sic). As pessoas não conseguem fazer uma simples interpretação de texto. Estou assustada com tudo isso”.