SUL21: Piratini empossa novo comandante da BM criticando ‘aposentadoria compulsória’ na corporação

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Fernanda Canofre

O governador José Ivo Sartori (PMDB) empossou na tarde desta quarta-feira (11), no Palácio Piratini, o novo comandante geral da Brigada Militar, Cel. Andreis Silvio Dal Lago. A troca aconteceu devido à “aposentadoria compulsória” do atual comandante, Cel. Alfeu Freitas Moreira. Prestes a completar 35 anos de serviço dentro da BM, Cel. Freitas terá de deixar o serviço público no próximo dia 18.

Antes da nomeação do novo comandante, o governador concedeu ao Cel. Freitas, a medalha Negrinho do Pastoreio, entregue a personalidades que prestam relevantes serviços “em favor da pessoa humana, do Estado e da Pátria”. Durante o discurso em elogio ao trabalho “equilibrado e suave” do agora ex-comandante da BM, o secretário de Segurança Pública, Cezar Schirmer (PMDB), criticou a lei que o leva a se aposentar aos 53 anos.

“Temos a tristeza de vê-lo no auge de sua sabedoria e competência se aposentando compulsoriamente do serviço público. Isso é um exemplo do que não deveria acontecer no serviço público”, afirmou o secretário.

O governador, que quebrou o protocolo deixando Schirmer se manifestar antes, reiterou a fala dele afirmando “ter certeza de que Freitas não queria sair da Brigada antes”. Sartori destacou o percurso “natural” que levou o coronel ao comando da corporação. “Foi ao natural conduzido para ser Comandante, não tivemos nenhum preconceito com o governo anterior, quando [Cel. Freitas] foi subcomandante. Acho que a coisa mais odiosa que tem em política é o preconceito e a raiva. A raiva não constrói”, disse ele.

Sartori também destacou “celeridade, diálogo e inteligência” como virtudes do Comandante responsável pela Brigada nos primeiros dois anos de seu governo.

Segundo Schirmer, novo comandante, Cel. Andreis terá de seguir fórmula do antecessor de “fazer mais com menos” | Foto: Rodrigo Ziebell/SSP

Novo comandante terá de seguir o ‘fazer mais com menos’

Com as alterações no comando da Brigada, além da promoção do Cel. Andreis para o Comando Geral, foram anunciados ainda o Cel. Mário Ikeda – até então responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC) – como novo subcomandante e a permanência do Cel. Júlio Cesar Rocha Lopes como chefe do Estado-Maior da BM.

Cel. Andreis, assim como seu antecessor, assume em um dos momentos mais críticos da segurança pública no Rio Grande do Sul. Uma crise sentida especialmente dentro da Brigada Militar. Com salários parcelados, promoções em atraso e falta de materiais de trabalho, em 2016, a corporação bateu recorde de aposentadorias. Enquanto a lei estadual prevê mínimo de 37.050 policiais no efetivo do Estado, atualmente ele está em cerca de 15 mil policiais.

Após a cerimônia, Schirmer falou em coletiva de imprensa sobre a questão, e reiterou que assim como seu antecessor, o novo comandante terá de seguir “fazendo mais com menos”. Ele repetiu como resposta ao problema da defasagem no número de policiais com um provérbio chinês que já havia citado em sua posse como secretário: “É na escassez que se revela um gênio”. E seguiu: “Nós não podemos dirigir a segurança pública com a lógica de 10 anos atrás, quando tinha uma situação mais confortável do que é hoje (…) Falta efetivo sim, mas também temos de suprir de outras formas essa carência”.

O novo comandante, no entanto, falou sobre a importância na reposição do efetivo. A previsão é de que uma turma de 1.060 novos policiais possa assumir postos a partir de julho. Cerca de 160 formados em dezembro estão sendo alocados em Porto Alegre e na região metropolitana, consideradas as zonas mais críticas do estado. Porém, uma próxima leva, segundo Cel Andreis, ainda sem previsão de ser chamada, deve ter como destinação o interior.

“Há um estudo na corporação para que o próximo ingresso possa designar um número de policiais para atender municípios do interior, especialmente aqueles com menos de 5 mil habitantes”, afirmou ao Sul21. Nos último ano, cresceu o número de municípios pequenos do Estado que estão completamente sem efetivo da Brigada Militar.

Secretário também abordou sistema prisional

O secretário de segurança também falou sobre a situação do sistema prisional gaúcho. Schirmer disse que antes de retirar a Brigada Militar do Presídio Central, “a relevância primeiro é acabar com aquela chaga que envergonha o povo gaúcho”. “Nunca vi nada semelhante. A parte do Inferno, da Divina Comédia, deve encontrar semelhanças com o Presídio Central”, lembrou o secretário se referindo a uma visita que fez ao presídio acompanhado do juiz Sidnei Brzuska.

Segundo ele, em 30 dias, deve ser inaugurado o Centro de Triagem com 84 vagas, anunciado em novembro.

Schirmer também respondeu à notícia anunciada na semana passada, de que a Procuradoria Geral da República (PGR) deve abrir investigação sobre o sistema prisional de quatro estados, entre eles o Rio Grande do Sul. “Se a PGR tiver dinheiro, nós resolvemos todos os problemas dos presídios no Rio Grande do Sul. Mas a situação não é só aqui, o país todo tem problemas”.