Policiais denunciam más condições de trabalho em delegacia de Gravataí

Confusão aconteceu em celas de delegacia em Gravataí 10/02/2017

Ao chegar na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Gravataí, nos deparamos com os policias comunitários da Guarda Municipal fazendo a entrega da segunda refeição do dia. Na caixa, acompanhavam oito marmitas para oito presos que se encontravam nas dependências da DPPA. Durante uma semana acompanhamos o dia a dia de uma das maiores delegacias de pronto atendimento do estado. Além dos registros de ocorrência, a DPPA de Gravataí lavra prisões também dos municípios de Cachoeirinha e Glorinha.

Devido ao déficit no quadro de servidores da Polícia Civil e ao parcelamento dos salários, tem sido um desafio cumprir a escala de 24 horas. Os problemas relatados pelos policiais são dos mais variados, desde a falta de estrutura para acomodar os presos até os desvios de função.

Policial civil lavando louça e presos no banho de mangueira

A superlotação na DPPA tornou o trabalho do policial civil mais árduo e perigoso. Em uma cela onde poderiam ficar apenas presos de passagem, a situação se agravou tanto que detentos permanecem há mais de 20 dias no local em condições insalubres.

O espaço que comporta apenas dez pessoas divididas em duas celas já abrigou mais de 17 presos de uma só vez. Na cela, não existe qualquer tipo de espaço para higiene pessoal; em um canto, há apenas um mictório para as necessidades. Como o local não conta com chuveiro, os agentes estendem uma mangueira da cozinha até a cela e, individualmente, os presos tomam banho. Como se não bastasse, os policiais que viraram carcereiros ainda fazem a limpeza das marmitas recebidas duas vezes por dia.

“A comida dos detentos vem em potes de plástico, que só são aceitos de volta se forem lavados. Então muitas vezes é madrugada e eu estou lá lavando os potes nos quais os presos fizeram suas refeições. Ao mesmo tempo, temos que atender a comunidade e monitorar os presos. Nós não estudamos para isso, não fizemos concurso para sermos carcereiros”, contou um agente plantonista.

O cidadão de bem sofre junto

Os desvios de função, os parcelamentos e a falta de vagas nos presídios não dificultam só a vida dos policiais civis, mas também de toda a população, como afirma outro agente que conversou com nossa reportagem.

“O cidadão vem na delegacia para resolver algum problema. Nós temos o dever e queremos ajudá-lo, é o mínimo que podemos fazer por ele, porém, nessa situação, não temos como dar 100% de atenção, devido às demais funções que exercemos aqui dentro. E sentimos isso, de não poder ajudar o cidadão como deveríamos. É complicada essa situação, nós sempre damos prioridade para o cidadão de bem, o trabalhador, mas a demanda dos presos é grande e temos que nos desdobrar”, ressaltou o agente.

Visitas nas celas? Só da equipe médica

Ratos e baratas são comumente encontrados pela delegacia, o que coloca em risco a saúde de presos e agentes. Devido ao calor e à condição de passarem dias trancados sem visitas e sem banho de sol, muitos detentos também se mostram agressivos. No último dia, um preso precisou ser encaminhado ao Hospital Dom João Becker após sofrer um ataque epilético dentro da cela. Após ser atendido, ele retornou à DPPA e foi deixado em um banco, algemado a uma barra de ferro.

De acordo com os próprios agentes, a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) é atualizada diariamente sobre a quantidade de presos que permanecem na DPPA. Assim, um a um eles são encaminhados para presídios de diferentes cidades do estado.

Em nota, o vice-presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores da Polícia Civil (Ugeirm), Fábio Castro,  pede providências urgentes ao Governo do Estado e também afirma que não aceitará mais as condições de trabalhos nas quais se encontram os agentes da DPPA de Gravataí.

“Essa situação não pode continuar. Não aceitaremos que os policiais, além de trabalhar em desvio de função, tenham sua integridade física colocada em risco. É hora da sociedade dar um basta a essa situação absurda”, concluiu.