ZERO HORA: Decapitações batem recorde e mudam estratégia policial no RS

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Corpo foi deixado em rótula no bairro Restinga, na zona sul da Capital
Foto: Robinson Estrásulas / Agencia RBS

Em 46 dias, região metropolitana de Porto Alegre registrou quase 40% das decapitações de todo o ano passado

Por: Schirlei Alves 

Crimes violentos, com corpos esquartejados e decapitados, foram um marco de terror provocado pela guerra do tráfico na região metropolitana de Porto Alegre em 2016. E 2017 já dá mostras que a brutalidade não dará trégua: o ano começou com quase 40% do número de decapitações de todo o ano anterior.

Diante de mais dois casos entre a noite desta terça-feira e a madrugada de quarta-feira, a Polícia Civil admite estar especializando equipes para este tipo de crime.

Em 2016, dois casos foram registrados na Capital. A partir de julho, esse tipo de assassinato passou a ocorrer com mais frequência e se multiplicou pelas cidades da região e o ano fechou com 16 mortes.

Nos primeiros 46 dias de 2017, a região já registrou seis. Considerando os esquartejados, já são nove casos. Os crimes ocorreram em Viamão, Sapucaia do Sul, Gravataí e Porto Alegre.

O último crime surpreendeu moradores da zona sul de Porto Alegre na madrugada desta quarta-feira. O corpo de um homem, identificado como Leandro Souto Baptista, 42 anos, foi encontrado decapitado e esquartejado dentro de um saco na Estrada do Barro Vermelho, no bairro Restinga. Ele tinha antecedentes por tráfico de drogas e porte de armas, o que pode ter sido a motivação.

Para o delegado Eibert Moreira, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a violência com que o crime foi cometido representa demonstração de força e algum tipo de recado que pode ser para membros da mesma facção ou para rivais.

Se os peritos confirmarem a suspeita da polícia de quem seja, a suposta vítima já teria envolvimento com o tráfico, o que pode justificar a motivação do crime. Um sobrinho registrou o desaparecimento do tio na mesma tarde.

Na noite de terça-feira, outro jovem foi decapitado em Alvorada. Apenas a cabeça de Deivid Amora, 20 anos, foi encontrada por moradores no bairro Jardim Aparecida. O corpo ainda não foi localizado. A descoberta aconteceu na esquina entre as ruas Mário de Deus e Nossa Senhora Aparecida.

Os familiares fizeram o reconhecimento da vítima. Segundo o delegado André Lobo Anicet, a vítima não tinha antecedentes, mas era conhecido por envolvimento com o tráfico de drogas. A motivação ainda não foi esclarecida.

Para a polícia, a forma violenta de matar iniciou como uma demonstração de força contra bandos rivais e se multiplicou entre os grupos criminosos, banalizou e se tornou comum inclusive em cidades menores.

— Quando um grupo tem essa conduta violenta impacta e gera temor, então o outro grupo acaba adotando a mesma conduta como uma resposta. Eles vão se imitando e adotando esse jeito de praticar os crimes — observa o diretor de investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Gabriel Bicca.

Na avalição do delegado, a polícia e a Justiça precisam acompanhar as mudanças de comportamento dos criminosos e adaptar a forma de trabalhar. Nos casos mais violentos, a prova testemunhal é ainda mais difícil, pois as pessoas têm medo de dar declarações oficiais.

— Estamos avaliando a atuação policial e, nestes casos, especializando equipes dentro das próprias delegacias para atuar nesses casos que dependem mais de prova pericial do que testemunhal — revelou.

Facções espalham terror pelas redes sociais em Alvorada

A decapitação desta terça-feira no bairro Jardim Aparecida, não é o único motivo que causa pavor nos moradores de Alvorada. No último fim de semana, três pessoas foram brutalmente assassinadas no mesmo bairro com armas de grosso calibre, entre elas fuzis.

Uma moradora, que prefere não se identificar, contou à reportagem que a situação está tensa e que as famílias preferem ficar caladas para não sofrer retaliação. As portas e janelas fechadas dão o tom da sensação de insegurança. Aqueles que circulam pela rua dizem não ouvir e nem saber de nada. Alvorada já registrou 25 mortes violentas neste ano, 26,3% a mais que o mesmo período do ano passado, quando 19 foram assassinadas.

Um vídeo circula pelas redes sociais com um funk gravado, supostamente dentro do sistema prisional, e que é investigado pela Polícia Civil. Nele, um homem faz paródia com o crime no município. A letra da música diz que a facção da qual o homem faz parte “retomará o controle (do tráfico) em Alvorada”, cantando os tipos de calibres que seriam utilizados para cumprir o recado: fuzil e calibre 12.

Segundo o delegado de Homicídios da cidade, André Lobo Anicet, a rivalidade mencionada no vídeo pode estar relacionada a alguns crimes cometidos em um dos bairros conflagrados, mas não teria relação com o caso em que a vítima foi decapitada.

Os casos do ano
05/01 – Dois corpos foram encontrados carbonizados e esquartejados dentro de um carro no bairro Santa Isabel, em Viamão.
08/01 – Parte de um corpo foi encontrado no bairro Santa Isabel, em Viamão. Vítima foi esquartejada e decapitada.
14/01 – Corpo foi encontrado em pedaços dentro de quatro sacos de lixo na RS-118, em Sapucaia do Sul.
14/01 – Carro foi incendiado com corpo decapitado no porta-malas no bairro Morada do Vale, em Gravataí.
26/01 – Corpo encontrado decapitado com marcas de tiros no loteamento Timbaúva, no bairro Mário Quintana, em Porto Alegre.
29/01 – Corpo esquartejado e decapitado deixado na rua no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre.
14/02 – Cabeça é encontrada no bairro Jardim Aparecida, em Alvorada.
15/02 – Corpo esquartejado e decapitado é encontrado no bairro Restinga, em Porto Alegre.