ZERO HORA: Schirmer fecha seis meses à frente da Segurança com explosão de violência

Desde que o ex-prefeito de Santa Maria assumiu a pasta, Região Metropolitana tem alta de 12% nos latrocínios e de 10% nos homicídios

Por: Renato Dornelles

Uma semana com três vítimas de latrocínio e outras duas feridas a tiros em assaltos, na Região Metropolitana de Porto Alegre, fechou os primeiros seis meses de Cezar Schirmer na Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP). Desde que ele assumiu a pasta, 36 pessoas perderam a vida durante assaltos nas 19 cidades monitoradas pela editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho. No mesmo período dos anos anteriores (de 8 de setembro de 2015 a 8 de março de 2016), foram 32 casos. O aumento durante a gestão de Schirmer foi de 12%.

O meio ano, completado nesta quarta-feira, também foi marcado por uma explosão de homicídios. Houve um aumento de 10% entre 8 de setembro de 2016 e 8 de março de 2017, comparado ao mesmo período entre 2015 e 2016. Os números saltaram de 773 para 416.

Em meio à onda de violência, uma crise sem precedentes se instalou no sistema carcerário. No primeiro mês, presos começaram a transbordar das celas de delegacias e ocupar as poucas viaturas que deveriam estar fazendo o policiamento.

Por outro lado, entre os poucos pontos positivos da gestão Schirmer, destaca-se a queda no número de roubos de veículos, registrada no segundo semestre do ano passado, se comparado ao mesmo período de 2015.

Como alento ao secretário e esperança à população, nesta quarta-feira, com um atraso de 22 dias, de acordo com o anunciado no lançamento do Plano Nacional de Segurança em Porto Alegre, chegou o esperado reforço da Força Nacional para o policiamento ostensivo. São mais 102 agentes, somando um total de 200 que, aliados a 400 policiais da Brigada Militar trabalharão em regime de hora extra e terão a difícil missão de baixar os índices de assassinatos no Estado.

A redução do número de latrocínios foi um dos desafios assumidos por Schirmer em sua posse, em 8 de setembro de 2016. À época, a média deste tipo de crime era de uma ocorrência a cada sete dias na Região Metropolitana e uma a cada dez dias em Porto Alegre. Um dos casos, inclusive, causou a queda do secretário anterior, Wantuir Jacini. Foi no dia 25 de agosto, por volta das 17h30min, quando a representante comercial Cristine Fonseca Fagundes, 44 anos, foi morta enquanto esperava o filho sair do colégio, no bairro Higienópolis, na zona norte de Porto Alegre. Ela estava no carro com a filha de 17 anos, quando um assaltante, que lhe exigiu a bolsa e o celular, atirou contra a sua cabeça.

Jacini pediu exoneração horas depois. A população exigia um basta. Aquele era o 25º latrocínio do ano em Porto Alegre. A expectativa era de que o governador José Ivo Sartori anunciasse um especialista na área para dirigir a pasta, mas ele surpreendeu ao anunciar, oito dias depois, o nome de Schirmer.

Em relação aos latrocínios, a situação manteve-se inalterada. Nem mesmo o reforço de 136 agentes da Força Nacional de Segurança no policiamento ostensivo, a partir de setembro, ajudou a baixar as estatísticas. Porto Alegre fechou o ano com 34 roubos com morte, mantendo a média de um a cada dez dias.

Na virada do ano, a redução de alguns indicadores criminais chegou a ser comemorada pelo secretário. De acordo com os dados da SSP, o roubo de veículos, um dos crimes que mais preocupam a população, registrou queda de 17,86% no segundo semestre de 2016, comparado ao mesmo período de 2015 (de 10.222 casos para 8.396).

Porém, em janeiro, houve uma explosão nos casos de homicídio. De acordo com monitoramento realizado pela editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, em Porto Alegre e Região Metropolitana 200 pessoas foram assassinadas no primeiro mês de 2017. Um recorde desde que o levantamento começou a ser feito, em 2011. Inclusive com a manutenção da barbárie do ano anterior, com chacinas, decapitações e esquartejamentos.

Outro setor que deu dor de cabeça a Schirmer foi o sistema carcerário. A expectativa, na posse, era de abertura de 6 mil vagas em presídios e penitenciárias. Em vez disso, a Cadeia Pública (conhecida como Presídio Central) manteve-se superlotada. Em decorrência disso, com um elevado número de prisões realizadas, principalmente pela Brigada Militar, faltaram vagas também em celas de delegacias da Polícia Civil.

Como consequência, viaturas passaram a ser utilizadas como celas. Houve casos de presos algemados em lixeiras, corrimões, fugas e rebeliões em carceragens. De positivo, foi o trabalho de investigação do Denarc que descobriu que um túnel estava sendo aberto para possibilitar a fuga de centenas de presos do Presídio Central.

Os seis meses se fecham com a repetição de promessas de abertura de 2,4 mil vagas na Penitenciária de Canoas a partir do meio do ano, de construção de um presídio federal, um estadual e um pela iniciativa privada, ainda sem prazo definido.

Na terça-feira, em entrevista, o secretário disse que o Plano Nacional de Segurança está “demasiadamente demorado”. Por conta disso, ele prometeu anunciar um plano de ação estadual na próxima semana.