BOM DIA BRASIL: Funcionários da Assembleia Legislativa do RS recebem salário sem trabalhar

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Funcionária do PDT viajou durante período em que deveria estar trabalhando. Já na Serra, assessor presta serviços como corretor imobiliário durante horário de expediente no parlamento.

Por Giovani Grizotti, RBS TV

Novos casos de servidores que recebem salário sem dar expediente na Assembleia Legislativa foram revelados hoje pelo Bom Dia Brasil, da TV Globo, em reportagem produzida pela RBS TV. Na Serra, um assessor superior foi flagrado atendendo numa imobiliária, mesmo recebendo vencimentos de R$ 10.257,42. Já uma servidora da bancada do PDT chega a permanecer 15 dias fora do trabalho no parlamento, em viagens pelo Brasil e exterior, para participar de atividades ligadas ao partido.

Postagens em redes sociais revelam que, por várias vezes, Miguelina Vecchio, presidente da Ação da Mulher Trabalhista (AMT) e vice-presidente nacional do PDT, viajou pelo país e até exterior enquanto deveria estar trabalhando na bancada do partido na Assembleia Legislativa, onde é lotada. No Brasil, os deslocamentos aconteceram a estados como Maranhão, onde esta semana, participou de atos políticos no interior do estado.

Com salário, pago pelo contribuinte, de R$ 30.471,11, Miguelina também recebeu diária de R$ 409,62 da Assembleia numa viagem a Brasília, no dia 16 de setembro de 2015, onde discursou no ato de filiação de Ciro Gomes no PDT.

Miguelina (de vermelho) durante evento partidário (Foto: Reprodução/RBS TV)
Miguelina (de vermelho) durante evento partidário (Foto: Reprodução/RBS TV)

Ela também costuma participar de encontros em países como Paraguai e Colômbia, nesses casos, com autorização da mesa diretora da assembleia. Em janeiro deste ano, esteve por cinco dias no Congresso Internacional Socialista na República Dominicana. Em 2015, se ausentou do trabalho, por 15 dias, para encontro socialista no mesmo país caribenho, e em Angola.

“Personas sem caráter hay em qualquer gobierno”, disse, em espanhol, durante um dos encontros, em entrevista em que defendeu os governos Lula e Dilma.

Por telefone, Miguelina chegou a afirmar que costuma descontar das férias os dias em que se ausenta da Assembleia. Mas reconheceu que isso não ocorre, no caso das viagens realizadas para atividades do partido. Ela afirmou não lembrar ter retirado diárias para esse tipo de deslocamento. E alegou que as atividades das quais participa possuem interesse público.

“Normalmente, quando eu vou fazer um evento desses, ou eu faço uma capacitação, ou eu faço uma palestra. E eu acho que isso é de interesse público sim. Tu ir fazer uma fala sem receber nada, sem ganhar nenhum centavo por isso”, defende-se.

Agraciada este ano por um prêmio dado pela própria Assembleia no dia internacional da mulher, Miguelina Vecchio é conhecida da justiça e do Ministério Público. Em 2014, foi denunciada pela promotoria por envolvimento em um suposto esquema venda de funções gratificadas.

A investigação foi deflagrada após reportagem de Zero Hora, que flagrou uma então colega dela, Lídia Schons, passeando com o cachorrinho em horário de expediente. Desde então, ela não apenas permaneceu no cargo (licenciou-se apenas para concorrer a deputada federal) como também teve salário aumentado. Na época, o vencimento era de R$ 19.885,53, 30.

Em Farroupilha, na Serra, outro flagrante: a reportagem descobriu que Daniel Maccari, assessor do deputado Álvaro Boésio (PMDB), presta serviços a uma imobiliária da cidade, da qual utiliza até cartão de visita com seu nome. Por três vezes, o repórter simulou negociar um apartamento com Maccari, que em nenhuma das ocasiões se apresentou como funcionário do parlamento.

Funcionário da assembleia trabalha como corretor de imóveis no interior do estado (Foto: Reprodução/RBS TV)
Funcionário da assembleia trabalha como corretor de imóveis no interior do estado (Foto: Reprodução/RBS TV)

Nas ruas da cidade, a atividade do corretor como servidor público é desconhecida. Taxistas, comerciantes e até vizinhos da imobiliária onde foi flagrado trabalhando demonstraram surpresa ao serem informados do vínculo de Maccari com o parlamento.

“Também queria ser assessor. Ganhar R$ 10 mil por mês e ninguém ficar sabendo”, ironizou o taxista Delmar de Assunção.

Indagado sobre a surpresa dos moradores, o corretor não vê problemas em não ser identificado, nas ruas como auxiliar do deputado. “Aqui em Farroupilha não tenho a necessidade (de se identificar como assessor do deputado)”, afirmou.

Indagado se tal afirmação não contradiz a função de um assessor, que é estreitar os laços entre um deputado e sua comunidade, Maccari respondeu: “não em Farroupilha, obrigatoriamente”.

Já a imobiliária afirma desconhecer que o corretor era assessor da Assembleia, e pondera que sua postura não foi ética. A advogada da empresa, Aline Maurer, anunciou o rompimento com o corretor.

“Não tem mais relação. Para esta imobiliária, ele não prestará mais nenhum tipo de serviço”, garantiu a advogada. O Ministério Público de Contas anunciou abertura de uma investigação.

O deputado Álvaro Boésio garantiu que não sabia que Maccari trabalhava como corretor de imóveis e negou que ele seja um fantasma do gabinete. “(O assessor) vem toda a semana sim, trabalha sim”, afirmou.

Já o corregedor da Assembleia, Marlon Santos (PDT), reagiu indignado. “Diante de turbulência que o Brasil vive de denúncias e coisas estratosféricas, que envolvem propinas e fantasmas, eles continuam fazendo isso. Ao invés de usarem o argumento para parar com esse tipo de investida, eles requintam as atitudes. Ou nem tanto. Alguém tem que pagar por isso. E não vai ser o contribuinte”, afirmou.