Matéria de ZH confirma alerta da ABAMF sobre desmotivação da tropa na BM

Matéria publicada no Jornal Zero Hora, edição de 8 de setembro, confirma o alerta da ABAMF sobre a desmotivação da tropa em razão do parcelamento do salário. O número de prisões caiu e apesar do grande esforço dos militares outras preocupações como contas vencidas e dificuldades da família dificultam o desempenho na atividade.

De 2015 a 2017, as prisões realizadas em  flagrante diminuíram consideravelmente. Em 2015, foram 41.928. Já, neste ano alcançam 24.164 detimentos. Os números já haviam caído bastante no ano passado, quando houve 34.196 prisões em flagrante delito.

Em entrevista ao Jornal ZH, a direção da ABAMF declarou: “Há desânimo generalizado na tropa. Hoje, o policial militar não consegue exercer o trabalho sem ter a pressão da vida particular. São contas estourando e cobranças da família. Isso não funciona”.

Jà são 21 meses de parcelamento, sendo que em agosto o governo depositou apenas R$ 350,00 e o total pago atingiu R$ 800, 00 somente dia 8 de setembro.

Paulo Rogério N. da Silva

Jornalista ABAMF

ZERO HORA: Em 10 anos, Brigada Militar nunca prendeu tão pouco no Rio Grande do Sul

Com efetivo reduzido a 15,8 mil PMs e sem vagas nas cadeias, corporação fez 24.164 detenções de suspeitos no primeiro semestre

Por: Eduardo Torres ZERO HORA
Em 10 anos, Brigada Militar nunca prendeu tão pouco no Rio Grande do Sul Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS 

A situação dos presos se acumulando em delegacias e viaturas, que se tornou rotina desde o final do ano passado, poderia ser ainda pior. Isso porque, comparando o primeiro semestre de 2017 com o mesmo período dos últimos 10 anos, a Brigada Militar nunca prendeu tão pouco.

Foram 24.164 prisões em flagrante feitas pela BM em seis meses deste ano. É como se, a cada hora, cinco pessoas fossem capturadas por policiais militares no Estado. Este índice chegou, em 2010, por exemplo, a 12 pessoas por hora.

O volume de capturas deste primeiro semestre é 29,3% menor do que os 34.196 que haviam sido presos no mesmo período do ano passado. No comparativo dos primeiros seis meses de cada ano, o número de prisões feitos pela corporação tem baixado desde 2014, mas a variação entre 2016 e 2017 é a maior do período.

O dado faz parte dos indicadores de eficiência da Segurança Pública, divulgados na última semana em cumprimento à Lei Postal. A mesma divulgação revelou, no entanto, que, apesar de prendendo menos e com efetivo deficitário, o trabalho investigativo — que demanda mandados judiciais — tem resultado em mais suspeitos presos.

Desde o início da série histórica, em 2003, o primeiro semestre de 2017 foi o que registrou o maior volume de detidos pela Polícia Civil em cumprimentos de mandados. Foram 3,3 mil presos dessa forma — 22,1% a mais do que no mesmo período de 2016. É como se as investigações policiais resultassem em 18 pessoas presas diariamente no Estado.

Para o sociólogo e especialista no tema da segurança, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, um dado não compensa o outro.

— A perda de efetivo inegavelmente diminui a capacidade da BM atender ao seu papel fundamental, de impedir os crimes e fazer o policiamento ostensivo. Talvez a Polícia Civil, diante das dificuldades estruturais, tenha conseguido manter um planejamento melhor, mas as duas forças policiais deparam com a ausência de uma política de segurança pública, que se reflete, por exemplo, nas delegacias e viaturas lotadas de presos — aponta.

O subcomandante geral da BM, coronel Mario Ikeda, admite que a baixa nas prisões feitas pelo policiamento ostensivo não significa que a criminalidade reduziu, mas a tradução do momento histórico vivido na área da segurança no Rio Grande do Sul.

— O déficit de vagas no sistema prisional afeta diretamente o trabalho do policiamento. Temos optado por muitas ações de visibilidade, para que as pessoas percebam uma maior sensação de segurança, do que propriamente em ações de repressão. A prioridade é a prevenção dos crimes — aponta o oficial.

Ainda comparando os primeiros seis meses deste ano e de 2016, apesar da redução de latrocínios (roubos com morte), de 26,5%, os roubos tiveram uma pequena alta de 2,04% no Estado. Uma tendência, em relação aos assaltos, acredita o subcomandante, que deve se reverter no segundo semestre.

— Nos primeiros meses do ano, enfrentamos ainda uma baixa de efetivo significativa. Só a partir de março esse volume começou a se reverter. Já tivemos o ingresso de mil PMs no policiamento e, até o final do ano, outros estarão formados. Nos próximos meses, a ação dele deve começar a surtir efeito e esperamos que, no próximo ano, com o problema do sistema penitenciário menos agravado, tenhamos resultados positivos — diz Mario Ikeda.

O efetivo atual da BM é de 15,8 mil policiais — 57,3% abaixo do considerado adequado. Acrescente a isso a sequência de meses com parcelamentos de salários, que já chega a 21.

— Há um desânimo generalizado nas tropas. Hoje, o policial não consegue exercer o seu trabalho sem ter o tempo todo a pressão da sua vida particular, com as contas estourando, a cobrança da família. E o governo ainda aposta no cobertor curto, cobrindo Porto Alegre e desguarnecendo o Interior. Isso não funciona — critica o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Leonel Lucas.

Segundo o brigadiano, a fórmula para reverter os índices do trabalho da BM deveria incluir dois itens: salários em dia e plano de carreira aos policiais militares.

Desde o começo do governo Sartori, 2017 é o primeiro ano com maior ingresso do que aposentadorias de policiais na corporação. Entrarão, até o fim do ano, 1,5 mil PMs, com as aposentadorias previstas de 1,2 mil. Ainda assim, o saldo dos três anos de Piratini é deficitário. Aposentaram-se 5,5 mil policiais militares, com as entradas de 2,05 mil.