OSCAR BESSI: Truculência contra policiais

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O sonho de qualquer democrata é viver num país governado com decência e justiça, onde os poderes públicos representam, de fato, a vontade do povo, pois é para o povo que toda a estrutura pública existe e se justifica. Não para grupos. Muito menos castas. Nesta sociedade ideal, a Polícia deve ser uma força garantidora da ordem e da tranquilidade, com a premissa de respeitar
a cidadania e as garantias individuais e coletivas. Pois é. Utopia.
Desde o berço, todos nós aprendemos que respeito é uma via de duas mãos, pois se for unilateral é medo e tirania. Que é preciso respeitar para ser respeitado. Que respeito de verdade não se impõe, se conquista. E quando vejo na retrospectiva de 2017 o número absurdo de policiais mortos no Rio de Janeiro, o que mais me dói é uma viúva, jovem, que entre lágrimas de raiva e desespero brada por “direitos humanos aos policiais”.
Pois é essa tristeza, e pedido desesperado por respeito, que toma conta dos corações de quem conhece a segurança pública por dentro ao vislumbrar os acontecimentos atuais no Rio Grande do Norte.
Os policiais militares estão sendo desrespeitados no seu direito mais básico, que é o de prover alimento a si e aos seus familiares.
Quem comete tal crime contra esses cidadãos, quem está escancarada e assumidamente incorrendo em ilegalidade nada sofre, não muda de atitude e ainda acena para a multidão na maior desfaçatez.
Os policiais, que não aguentam mais a tortura, param. Então vem a decisão judicial, tomada por alguém cujo auxílio-moradia pagaria um pelotão inteiro, mas afirma que o policial tem que trabalhar mesmo sem salário e manda prendê-los. Proíbe a manifestação e até o apoio em pensamento. Ou seja, que sofram quietos. Tal truculência, no terceiro milênio, talvez mostre que há uma sociedade escravagista e preconceituosa que sonha em voltar aos seus doces tempos de troncos, açoites e nenhum direito aos “humanos inferiores” que lhe servem. É. Tem coisa que não morreu na Idade Média.
Numa cidade gaúcha, os médicos não foram pagos pelo hospital público e, dois meses depois, cruzaram os braços. Não apareceu decisão judicial a ameaçá-los de prisão e, ligeirito no más, se deu
um jeito e foram pagos. Por quê? Porque desde sempre os médicos são unidos e impõem respeito enquanto classe profissional. São protagonistas. Não é bem assim para meter bronca com eles. Policiais seriam coadjuvantes nessa sociedade de medos e violências? Aí faço minha mea-culpa. Quantos policiais colocamos nos legislativos para nos representar? Poucos. E sabemos quem são e quais suas lutas. Mas é possível ver um bom número de colegas lustrando as botas de legisladores que, inclusive, odeiam a polícia ou deveriam ser presos por ela. Pois é. Truculência vinga fácil onde a desunião ameaça o respeito próprio.

CORREIO DO POVO