Lajeado: um brigadiano para cada 26 mil pessoas

Crédito da foto: Natalia Nissen
Crédito da foto: Natalia Nissen

Lajeado – Quantos policiais são necessários para garantir a segurança da população de um município? A resposta varia de acordo com o número de habitantes e os índices de criminalidade, mas no caso de Lajeado, a proporção chega a um policial para cada 26.162 pessoas. O cálculo considera a projeção de população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o número de brigadianos em patrulhamento na tarde de ontem (18).

A reportagem do Informativo do Vale circulou pelas ruas da cidade e encontrou as duas guarnições que faziam o policiamento no turno. Por volta das 13h50min, dois policiais conduziam um flagrante na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Pouco depois, às 14h15min, o outro militar em serviço fazia um atendimento na Avenida Senador Alberto Pasqualini, no Bairro Americano. As mesmas guarnições ainda atenderam a outras ocorrências ao longo do dia.

Segundo o soldado Leonel Lucas Lima, presidente da Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar e Bombeiros Militares (Abamf), a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda um policial para cada 400 habitantes e que o profissional nunca trabalhe sozinho. Ele afirma que alguns municípios no interior do Estado já têm a situação problemática com um policial para 3 mil habitantes. “Essa realidade coloca a população e o próprio brigadiano em risco”.

Lima ainda alerta para o sucateamento dos equipamentos usados pelos brigadianos. “Muitos policiais estão com um revólver calibre 38, um colete vencido e em viatura com motor 1.0. Os bandidos usam carros 2.0 e metralhadoras. Eles (policiais) estão trabalhando no sufoco e com medo. A situação é perigosa e a população precisa saber disso. Nos preocupa muito”.

Defasagem

A falta de pessoal é um problema que se arrasta por anos, mas agrava-se a cada temporada de Operação Golfinho, quando dezenas de militares deixam o Vale do Taquari para reforçar o policiamento e o salvamento no litoral e balneários. Desde o mês de dezembro, 77 servidores da região foram deslocados para participar da operação. O conjunto é dividido entre as companhias da região para garantir que nenhum município fique sem policial durante o dia e o número de policiais da 1ª Companhia do 22º Batalhão de Polícia Militar (22º BPM) de Lajeado remanejados para a Golfinho não é divulgado.

Conforme o presidente da Abamf, mesmo com o reforço dos servidores do interior, a própria Operação Golfinho está com efetivo reduzido em aproximadamente 60% em relação a anos anteriores. “O deslocamento de policiais não é proporcional ao deslocamento de população de cada cidade que perde brigadianos. Mesmo assim, muitas cidades do litoral estão com pouco efetivo”.

De acordo com a Abamf, o Rio Grande do Sul precisaria de 37 mil policiais militares. Atualmente, a Brigada Militar conta com menos de 15 mil servidores ativos e, até o final deste ano, cerca de 6 mil podem deixar a instituição devido a aposentadorias. Em 2015, foram 2,1 mil aposentadorias.

Outro lado

Na quinta-feira da semana passada, a Brigada Militar foi acionada para atender a um homicídio, no Bairro Santo Antônio. No entanto, segundo o boletim de ocorrência, nenhuma guarnição foi ao local pois não havia efetivo disponível. O subcomandante do 22º BPM, major Inácio Caye, defende que a situação não faz parte da rotina, que o caso foi analisado e a Polícia Civil tinha condições de assumir a ocorrência.

Em relação ao número de policiais nas ruas, ele esclarece que o efetivo disponível é dividido em ações específicas realizadas diariamente e que nem sempre são percebidas pela comunidade. E acrescenta que, se necessário, essas guarnições atenderão aos chamados para complementar o policiamento, assim como poderá ser solicitado o reforço de outras localidades.

O oficial cita a Patrulha Maria da Penha; a segurança externa do Presídio Estadual de Lajeado; escoltas de presos para audiências e julgamentos; patrulhamento feito por servidores administrativos do Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO-VT); Operação Balada Segura; e patrulhamento integrado com militares de cidades próximas, entre outras. “Atendemos a muitas ocorrências simultaneamente e não posso revelar a rotina dessas guarnições. Mas não são apenas duas viaturas e três policiais em serviço, as guarnições específicas se suplementam”.

Saiba Mais

O decreto 52.862 do governador José Ivo Sartori, publicado no Diário Oficial do Estado no dia 12 deste mês, veda por 180 dias a abertura de concurso público; criação de cargos; contratação temporária; nomeação para cargos de provimento efetivo; criação ou reestruturação de quadro de pessoal e promoções ou progressões dos servidores, entre outros gastos.

A Abamf não descarta a mobilização dos brigadianos de Nível Médio em protestos contra o ato do governo. O último concurso para a Brigada Militar aprovou 2,5 mil candidatos, mas não há previsão para nomeação. Após a chamada, os alunos ainda passam cerca de sete meses no curso preparatório até assumirem seus cargos e irem para as ruas.

Crédito da notícia: Natalia Nissen
O Informativo do Vale