SUL21: ‘Troca do chefe de polícia não muda nada, é preciso aumentar investimentos’, diz Ugeirm

11/02/2016 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Coletiva da SSP sobre a troca de chefia de polícia | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
11/02/2016 – PORTO ALEGRE, RS, BRASIL – Coletiva da SSP sobre a troca de chefia de polícia | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Luís Eduardo Gomes

O delegado Emerson Wendt foi apresentado oficialmente nesta quinta-feira (11) como novo chefe da Polícia Civil do Rio Grande Do Sul. Wendt era diretor do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc). Ele substitui Guilherme Wondracek, que estava no cargo desde março de 2014, na gestão Tarso Genro (PT).

Para o presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores da Policia Civil do RS (Ugeirm), Isaac Ortiz, tanto Wendt como Wondracek são profissionais altamente qualificados. No entanto, ele diz que a troca do chefe de polícia não terá efeito se não houver um maior investimento do governo em segurança pública. “Não é a troca do chefe de polícia que vai mudar a segurança pública, o que tem que mudar é a política do governo, que não investe um centavo”, diz Ortiz. “Não vai mudar nada porque não tem recurso. Polícia não se faz com um só homem”, complementa.

Na coletiva à imprensa destinada a apresentar Wendt, o secretário estadual de Segurança Pública, Wantuir Jacini, descartou que a mudança no comando da Civil tenha sido feita em razão de críticas ao trabalho de Wondracek e afirmou que a troca trata-se de o encerramento de um ciclo. “Exatamente pela experiência e excelência do trabalho dele (Wondracek) que ele foi levado a continuar neste governo, que tem um ano”, disse Jacini. “Agora está se dando uma outra ênfase e um outro enfrentamento ao tráfico de drogas e aos crimes conexos, crimes contra a vida e contra o patrimônio. O Denarc, com os recursos que tem, realizou um trabalho diferenciado, daí porque foi buscado o delegado Emerson para ele ampliar essa política de enfrentamento às drogas e aos crimes conexos”, justificou o secretário.

Por outro lado, Jacini voltou a afirmar que não há previsão de contratação dos cerca de 2 mil concursados da Brigada Militar e 650 da Polícia Civil. Ele disse que, embora a lei não permita a contratação de policiais temporários enquanto aprovados aguardam chamamento, o governo do Estado estudará se essa possibilidade é permitida diante do quadro financeiro.

Como novo chefe de polícia, Wendt afirmou que pretende ampliar a utilização de técnicas de crimes cibernéticos – área em que tem atuação destacada – para o restante das investigações criminais e que implementará uma polícia de gestão por resultados. “Essa sempre foi a minha forma de trabalhar. Eu consegui estabelecer isso no Denarc e o objetivo é colocar isso em toda a Polícia Civil”, diz.

Questionado como fará para contornar o problema da falta de motivação de policiais civis diante da ausência de investimento do Estado e se irá, assim como seu antecessor, cobrar publicamente maiores investimentos e a contratação dos concursados, Wendt preferiu não responder diretamente à pergunta. Ele lembrou que, apesar da escassez de recursos, alguns departamentos contam com disponibilidade para horas extras e diárias de viagens. “Certamente, a gente vai procurar diagnosticar onde podemos usufruir melhor desses recursos para dar o retorno que a sociedade está esperando”, disse.

Em relação à motivação, ele disse que vai primeiro tratar da questão com conversas e depois irá trabalhar a questão da entrada de novos policiais e de promoções, mas “dentro das possibilidades de recursos do Estado”.

Crime está mesclado

Tanto Jacini quanto Wendt afirmaram na coletiva que, atualmente, não é mais possível fazer a diferenciação entre criminosos. O novo chefe de polícia destacou que, no último final de semana, uma ação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) contra assaltantes de bancos resultou na prisão de indivíduos com antecedentes criminais por tráfico de drogas.

“Há dez anos atrás, talvez se pudesse setorizar: esse é assaltante de banco, esse é traficante. Hoje a mescla é muito grande. Ou seja, a atuação criminal deles é por várias áreas. Então, assaltam o banco para se capitalizar para poder comprar droga e com isso angariar recursos”, explica Wendt.

11/02/2016 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Coletiva da SSP sobre a troca de chefia de polícia | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Para o secretário, Wntuir Jacini: “É preciso enfrentar a receptação representada pelos desmanches”, no combate ao roubo de veículos| Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Em razão disso, Jacini afirmou que uma das principais medidas que está sendo tomada pelo governo do Estado é o combate aos desmanches de veículos, que fomentam o roubo de carros – crime que mais cresce no RS – e que está diretamente relacionado a outros delitos. “É preciso enfrentar a receptação representada pelos desmanches. Temos mais de 1,2 mil desmanches no RS e apenas 200 e poucos que estão legalizados”, disse Jacini, acrescentando ainda que a partir deste mês serão implementadas ações previstas na Lei de Desmanches para aumentar o controle sobre a receptação de veículos roubados.

Por outro lado, Jacini afirmou que para melhorar os indicadores de segurança pública no Estado é preciso que haja uma legislação mais rigorosa, maior integração das forças de segurança municipais e também um orçamento federal para a área.

“É preciso que a segurança pública tenha orçamento próprio da União, e não tem. Assim como tem a Saúde e a Educação. Qual é o significado disso? A descontinuidade de políticas. As políticas nacionais elas dão continuidade enquanto houver recursos para manter a execução. Se tivesse recursos, ainda que pequenos, sistemáticos, previstos no Orçamento, as políticas de enfrentamento à criminalidade teriam continuidade, e o que se vê hoje é uma descontinuidade”, afirmou.

SUL21