Gangues levam confronto para o cotidiano de Porto Alegre

gangConfrontos se intensificaram após um homem ter sido decapitado em janeiro, na zona Leste

Os confrontos dos últimos meses em Porto Alegre, envolvendo gangues ligadas ao tráfico de drogas, expuseram um confronto que até então era desconhecido da população residente na Capital. Com pelo menos dez quadrilhas ligadas ao tráfico, os conflitos até dois anos atrás eram pontuais, sem envolver o restante da população. De janeiro deste ano para cá, as execuções passaram a ser mais frequentes. Os crimes, inclusive, geraram incêndios em ônibus e a invasão de um posto de saúde.

De acordo com o delegado Mário Souza, diretor de Investigações do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc), os confrontos iniciaram-se de forma mais incisiva após a decapitação de um homem, em 17 de janeiro no bairro Bom Jesus, zona Leste de Porto Alegre. As fotos da cabeça e do corpo foram postadas nas redes sociais. Este fato deflagrou uma série assassinatos, envolvendo os grupos criminosos rivais. “Após essa morte (com a vítima decapitada), começa uma série de atentados”, analisa o delegado.

Território

Em um primeiro momento, as autoridades presumiram que as escaramuças seriam para aumentar o território de atuação de uma determinada quadrilha. Na realidade, de acordo com Souza, a hegemonia em uma área até pode influenciar os criminosos, mas, salienta o delegado, é secundária. As gangues estariam aproveitando o momento para acertos de contas e não para conquistar terreno. “Uma disputa por território não seria lógica”, comenta Souza. “Tanto é uma questão pessoal, que integrantes das gangues fazem canções (funk ou samba) desafiando-se mutuamente”.

O Denarc mantém monitoramento nas áreas conflagradas. Segundo Souza, duas gangues se destacam: Bala na Cara e uma rival, intitulada Bala nos Bala. O restante dos grupos criminosos, acentua Souza, fica sob a esfera de influência destas duas quadrilhas.

Luta para conquistar mercado

O tenente-coronel Mário Ikeda, titular do Comando de Policiamento da Capital (CPC), considera que o aumento do consumo de drogas seja um dos motivos para os confrontos entre as gangues porto-alegrenses. Segundo o oficial, atualmente o consumo de drogas é muito grande, fazendo com que os grupos de traficantes entrem em conflito para aumentar as suas áreas de venda. “É tudo uma questão de a facção criminosa aumentar o seu poder, de captar mais recursos”, analisa o comandante do CPC.

A Brigada Militar tem feito ações em áreas conflagradas, como o Morro Santa Tereza, Vila Jardim, Vila Cruzeiro e bairro Bom Jesus. Locais onde as quadrilhas têm se enfrentado constantemente, deixando moradores da região em pânico. No entanto, segundo o oficial, as ações são feitas em toda a Capital e não apenas em pontos específicos. Por isso, salienta Ikeda, as operações da BM não estariam empurrando os traficantes para outras áreas, onde seriam forçados a lutar para manterem-se na liderança. “As ações da Brigada não têm influência direta na movimentação das quadrilhas”, ressalta o tenente-coronel. “A motivação para os confrontos é a conquista de mercado. É econômica”, analisa o comandante do CPC.

As quadrilhas procuram conquistar a hegemonia na venda de entorpecentes em sua região. Os grupos tentam aterrorizar os rivais, usando até mesmo o mundo virtual para isso.

Fonte:Paulo Roberto Tavares/Correio do Povo