ENTREVISTA: “Ouvi um gritar: ‘perdeu, perdeu, perdeu’. Logo, ele atirou e saiu”, conta policial baleado

19155446Vítima, que está aposentada da Brigada Militar, já foi baleada na mesma papelaria há seis anos

Já em casa, na companhia da família, o policial da reserva de 61 anos que foibaleado durante uma tentativa de assalto na manhã desta terça-feira, em Santa Maria, falou com a reportagem do “Diário“. A vítima, que não quer ser identificada, contou que lia o jornal e conversava com um amigo, também policial, sobre a onda de assaltos na cidade quando uma dupla de bandidos invadiu o estabelecimento, por volta das 9h.

 Segundo o Batalhão de Operações Especiais(BOE) da Brigada Militar, cerca de meia hora após o assalto, os dois suspeitos foram localizados e encaminhados à Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA). Um deles era foragido da prisão. A polícia também apreendeu com eles um revólver calibre 38.

Como foi a conversa com o vítima:

Diário de Santa Maria – O que o senhor fazia quando os assaltantes chegaram?
Vítima – Eu estava conversando com meu amigo. Falamos da política, de tudo que anda acontecendo e dos assaltos na cidade. Baixei a cabeça para ler o jornal, não deu 10 segundos e ouvi um gritar: “perdeu, perdeu, perdeu. É um assalto, vamos, vamos.” Quando olhei para frente, vi que o cara estava com a arma na cabeça do meu amigo. Logo, ele atirou e saiu correndo.

Diário – E o que aconteceu depois?
Policial – Foi aquela correria, tinha uma dez pessoas lá dentro. Eu levei o tiro no braço direito e logo perdi a força da mão. Tentei correr atrás do que me atirou, mas ele fugiu com o outro que estava esperando na porta. Estavam de cara limpa, sem touca. Meu amigo, que é policial, pegou meu carro e saiu atrás deles. Eu fui no banheiro me levar e, depois, me levaram de carro à UPA.

Diário – Então, o senhor estava lá a trabalho?
Vítima –Não. Até porque não sou funcionário. Sou um colaborador, ajudo o pessoal há tempos, sou amigo deles. Eu estava lá para pagar umas contas. Eles recebem luz e água lá.

Diário – O senhor não estava armado?
Vítima – Tenho arma registrada, tenho porte, mas hoje não saí armado.

Diário – O senhor já tinha passado por situação como a de hoje quando estava na ativa?
Vítima – A trabalho não. Nunca fui baleado e nunca baleei ninguém em mais de 30 anos. Já trabalhei fazendo patrulhamento em vários bairros de Santa Maria, conheço todo mundo. Trabalhei tempo no presídio daqui e na Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas. Mas, no dia 18 de janeiro de 2010, eu estava na porta da mesma papelaria quando dois assaltantes armados chegaram. Tentei tirar o revólver de um deles e acabei levando um tiro na perna direita. Eles fugiram e nunca fiquei sabendo o que aconteceu com eles.

Diário – O senhor pretende continuar indo lá ou vai ficar mais em casa?
Vítima – Eu estou tranquilo. Não há o que fazer. O problema não é a falta de segurança, é a Justiça falha que prende hoje e solta amanhã.

ZERO HORA