‘Aqui todo mundo pega junto’, diz comandante do 15º BPM

1_sala_de_radio_15__bpm-1454349Há um ano à frente do batalhão, tenente-coronel Oto Eduardo Amorim exalta espírito de equipe dos brigadianos

Há 28 anos na Brigada Militar, o tenente-coronel Oto Eduardo Amorim fez sua formação na Academia da Polícia Militar, pós-graduação em Segurança Pública e Violência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o curso de Polícia Interativa da Polícia Militar do Espírito Santo. Há pouco mais de um ano, comanda o 15º Batalhão da Polícia Militar, em Canoas. Amorim abriu o 15º BPM à reportagem do Diário de Canoas e conversou sobre este período na cidade.
Diário de Canoas – Qual tem sido sua principal função no comando do 15º Batalhão da Polícia Militar?
Tenente-coronel Oto Eduardo Amorim – Trabalhar o coletivo, independentemente da função do policial. Tem policial da Companhia de Operações Especiais, tem policial do administrativo e outros. Dentro dessa filosofia, a gente procura dar valor a todos. Tem a questão da qualificação e o trabalho que os policiais militares fazem, com seu conhecimento em cada área. O que temos feito nesse primeiro ano, então, é o seguinte: a companhia faz seu planejamento operacional. Não tem ingerência do comandante em cima do planejamento da companhia. O que verificamos, seja por meio de grupos de WhatsApp ou em alguma reunião, é que as companhias estavam afastadas da comunidade.
DC – Qual a medida tomada nesses casos?
Amorim – Em alguns casos, a comunidade nem sabia que era tal companhia que fazia o policiamento. Então, hoje, por exemplo, se uma pessoa do bairro Rio Branco quiser fazer uma visita aqui à Companhia… o pessoal tinha muita referência da sede do 15º, todo mundo vinha à sede do 15º… O que procurei fazer, até para valorizar o trabalho que os oficiais fazem? Quando alguém quer marcar uma reunião, pergunto em qual o bairro a pessoa mora, e, aí, procuramos fazer dentro daquela companhia. Além do conhecimento dos policiais da companhia e do Coe, temos reunião toda quarta-feira, da qual participam oficiais e sargentos na função de tenente. Verificamos o que aconteceu durante a semana e planejamos ações. Quando verificamos certo tipo de ocorrência como: “estão arrombando bancos na madrugada”, procuramos, claro, dar atenção no horário em que essas ocorrências acontecem.
DC – Isso é feito em todos os bairros?
Amorim – Deixo claro que temos de dar atenção a todos. Nem tem ‘bairro tal, rua tal’. Não. Isso vale para todos os bairros. E tu tens acompanhado que não existe só prisão no bairro “X”. Dentro de o que nós temos, procuramos valorizar todos os bairros, em vez de centralizar em alguns. Sei que em Canoas se fala muito em Guajuviras e Mathias, mas temos de dar atenção a todos.
DC – Fala-se porque são os mais populosos. Não tem como evitar que haja mais ocorrências nesses dois. E vai haver porque é onde tem mais gente, não?
Amorim – Mas também cria uma imagem… Daqui a pouco ficamos com uma imagem da pessoa que mora no Guajuviras e no Mathias de que é marginal. Não é assim. Então, damos atenção igual a todos os bairros, e para todo tipo de delito. Exemplo: um roubo a pedestre. “Ah, mas foi só R$ 20”. Mas, espera aí: daqui a pouco tem uma incidência grande desse tipo roubo numa determinada área. Não analisamos o delito pelo que foi roubado, pelo valor, estamos procurando todos. É um pente fino em tudo.
Aceitamos críticas e sugestões, que nos ajudam bastante. Contra algumas temos de nos posicionar, porque infelizmente algumas não têm fundamento.
Comandante falou ao Diário de CanoasDC – E como está o batalhão como um todo? Como os policiais lidam com as dificuldades crescentes: atraso de salário, material sucateado?
Amorim – Tem a questão operacional, mas tem uma coisa em que eu bato bastante, que é a questão do portão para dentro. Nós, aqui, não somos muito de tirar foto, de mostrar como recebemos o batalhão, até porque outras pessoas já fizeram tanto. Tivemos problemas e, sim, temos algumas prioridades. Todo mundo pegou junto e resolvemos arrumar o que achamos que poderia ser melhorado. Na 4ª Cia., inauguramos um alojamento com camas. Trabalho do capitão Corrêa e do tenente Panta, com apoio de empresários. Será a primeira companhia a ter um alojamento com camas. Estamos procurando fazer isso (melhorias), e não só na sede. Aqui dentro do 15, além do investimento que foi feito no canil, porque tinha cachorro que ficava em caixas, fizemos uma reforma na cozinha, para deixar uma cozinha decente para os policiais. Banheiros, recepção… ou seja: temos bastante coisa a fazer, também, do portão para dentro. Sabemos das dificuldades financeiras e tudo, mas há muita coisa a ser feita. E estamos indo por etapas. Terminou uma coisinha, começa outra. No Guajuviras, nós concluímos uma cozinha, que começou a ser feita em 2015 e que vai servir tanto como local para os PMs fazerem refeições quanto para se fazer uma reunião comunitária. Dentro da companhia, com apoio de pessoas da comunidade, possivelmente se vá melhorar o alojamento ali, também. Já foi feito o vigamento, com planta com tudo.
DC – É um trabalho de restruturação?
Amorim – Então, ao mesmo tempo que damos valor às ocorrências policiais do portão para fora, também temos que analisar do portão para dentro e melhorar a estrutura não pensando só no momento (enfático). Vão chegar policiais militares novos e tem de haver condições de se dar adequada recepção.
Dos policiais militares do 15, os mais antigos moram em Canoas, mas os novos, não. Temos que dar condições para que queiram ficar, para que não queriam ser transferidos. Temos que incentivar.
DC – E quais são esses incentivos? Por que sem ter onde passar a noite, o PM quase paga para trabalhar, não?
Amorim – Não vou citar A, B ou C, mas tem faculdades que estão oferecendo desconto para os brigadianos. Cursos de extensão e escolas particulares também dão vantagens a filhos de policiais militares.
DC – Isso foi via reivindicação do 15º e dos PMs?
Amorim – Fizemos documentos e enviamos a todos, e fizemos visitas a escolas, e eles abraçaram esta idéia. Se o filho do brigadiano estiver estudando aqui, é mais fácil de ele querer ficar. Ao mesmo tempo estamos procurando alternativas melhores de trabalho e de estrutura para a família brigadiana. Ninguém trabalha sozinho, e nenhum policial trabalha 24 horas na rua.
DC – E quanto ao trabalho da Brigada Militar, de policiamento ostensivo e combate ao crime?
Amorim – Deu uma incidência de ocorrências em determinado local, temos de saber como é que vamos combater isso aí. Porque essa incidência, ela incentiva a coisas mais perigosas. Se dá muito assalto, um dia isso vai incentivar o criminoso a, além de roubar, dar uma facada, matar alguém.
DC – Sem falar em possível reação da vítima…
Amorim – Também é preocupante, mas falo mais é na própria ação mais abusada do delinqüente, mesmo: “Já é minha a rua, aqui é meu território!”. Às vezes a comunidade vem no grupo de WhatsApp e coloca que “está acontecendo isso e isso na Rua X” e quer policiamento 24 horas por dia ali. Não. Não é assim. Temos que policiar todas as ruas. Claro que, se há ocorrências em determinada rua, vai-se dar atenção, mas não se pode esquecer de todo um universo. Por isso minha maior preocupação, hoje, é: qual a estrutura que temos para receber os policiais militares?
DC – O que é possível fazer para melhorar a estrutura?
Amorim – Orçamento participativo. Quantas vezes pessoas do município, na eleição das prioridades do orçamento participativo, votaram numa viatura para a Brigada? Mas todo mundo quer viatura! Só que a viatura de Canoas anda em 1,6 mil ruas, com ocorrências que, às vezes, se iniciaram em Canoas e terminaram em Esteio ou lá no Humaitá (Porto Alegre). Se o PM for andar pela velocidade permitida na via, ele não busca (o suspeito). Então nessas ocorrências de cerco tem, sim, desgaste do motor, de freios, pneus, enfim. Nós colocamos para todo mundo (no 15º) algumas metas, e em cima disso vemos o que podemos fazer.
DC – E se, mesmo fazendo campanha por verba no Orçamento Participativo, a população decidir que isso não é prioridade?
Amorim – De repente essa verba do Orçamento Participativo nem vem sob meu comando, mas com isso estamos alertando a sociedade. Fizemos um projeto para nossa sala de rádio, encaminhamos via Consepro junto à Vara de Execuções Criminais. Se deu, deu. Se não deu, vamos por outro caminho. Mas temos o projeto. Não estamos fazendo puxadinho. A arquiteta veio aqui, conversou com os policiais militares, analisou tudo. Pode ser que no período em que estiver aqui não consigamos fazer, mas temos um projeto que sabemos que é importante.
DC – Há algum projeto já em andamento?
Amorim – Na Companhia do (bairro) Rio Branco, a cozinha o pessoal fez, com doação de material da comunidade. Tudo, tudo. O que fazemos? Não temos o hábito de pegar recursos, então pedimos material. Daí, o pessoal fala: “Ó, coronel, passa na madeireira tal, lá, e pega o material”. Dentro do nosso planejamento tem funcionado assim.
DC – O que dá para destacar nesse período de um ano que não havia no 15º e já funciona?
Amorim – Em termos de estrutura: o alojamento da 4ª Cia. A 3ª Cia., do Guajuviras, está construindo a cozinha e, aos poucos, também vai levantar um alojamento. Na 2ª Cia., foi aumentado o espaço e, junto com a escola foi construída uma pista de caminhada, e também receberam cadeiras e alguns móveis. A 1ª Cia. tem um grupo de pessoas que ajudou a melhorar as instalações dos banheiros e também na pintura e na parte elétrica da sede. Todos têm recebido colaborações. Aqui dentro do 15 tem as cadeiras e móveis para o 15º que conseguimos em Canoas e fomos buscar também em Porto Alegre, que várias vezes fui buscar. Teve também o canil, o nosso cartório, que tivemos apoio para pintar e trocar o piso. Nossa cozinha, que foi feita. Não havia cozinha. O banheiro masculino é todo novo, e agora queremos fazer o mesmo com o feminino.
DC – Anteriormente o senhor havia citado a situação da sala de rádio, onde os PMs recebem as ligações feitas para o 190 e despacham as viaturas. Quantos PMs trabalham ali?
Amorim – Depende do turno, mas em média cinco PMs por turno. Isso será mantido. O que temos de melhorar ali é a estrutura. Na verdade, temos de tirá-los dali e fazer tudo novo. Precisamos ampliar as instalações, refazer toda a parte elétrica.
DC – Tem muita gambiarra?
Amorim – Se fez muitos “puxados”, então nossa idéia, baseada nessa planta é tirá-los dali e fazer tudo novo. Este é o projeto.
DC – O 15º BPM vinha funcionando nas condições que se tinha?
Amorim – Foi boa tua colocação. Tem muitas idéias que não fui eu que dei. Apenas incentivei as idéias dos policiais militares que estavam aqui. Numa reunião, com diálogo, nós conversamos e os próprios policiais deram idéias de o que fazer. A partir daí começamos a melhorar. Eu chegar numa companhia, no gabinete do comandante, é uma coisa, mas chegar no alojamento do PM, é outra. Na sala de rádio, é outra. Por exemplo: trocamos todas as cadeiras. O PM que senta por 12 horas ali tem que ter uma cadeira decente. O passado… não (interrompe). Nós temos que chegar e dizer: estamos aqui. Aqui é conosco. Ouvimos todo mundo, procuramos ajudar e temos que fazer, mas não adianta querer fazer tudo de uma vez. Estamos indo por etapas.
DC – O comando da Brigada se opõe a alguma dessas ações ou incentiva? Sabe de tudo o que está sendo feito?
Amorim – Sou subordinado ao comandante do CPM, então este é meu contato. Quando fizemos toda essa análise, levamos ao comandante: “Ó, nós vamos procurar, com tempo, arrumar isso, isso e isso”. Então, eles sabem. Da mesma maneira que às vezes vem alguma cobrança em um tipo de ocorrência, também temos de dar atenção a esse tipo de ocorrência para diminuir a intensidade dessa ocorrência. Agora, também tenho que pensar no que posso melhorar em termos de estrutura. Observo que meu ar-condicionado não funciona. Já ganhei quatro. O que é que eu fiz? Mandei para as companhias, porque eu não paro quase aqui, mas sei que nas companhias é importante. Hoje, na Companhia do Rio Branco, os PMs estavam almoçando com o ar-condicionado ligado. Ganhamos da Caixa Econômica Federal, e distribuímos. As melhorias são para o futuro. Para quando um brigadiano vier trabalhar aqui trabalhar com as melhores condições.
DC – Como são feitas as avaliações de o que necessário abordar em termos de policiamento ou de necessidades de cada companhia?
Amorim – Tem reuniões que fazemos todo mês, nas quais tiramos as companhias de serviço exatamente para os oficias conversarem, trocarem informações. Em função dos turnos, nem sempre o pessoal tem muito contato. É o momento de conversarmos e até analisarmos outras coisas como a parte física, por exemplo.
DC – O discurso do governo do Estado é o de “fazer mais com menos”. Como isso funciona na prática, nas ruas?
Amorim – Tem que valorizar o policial militar. Recentemente, PMs pegaram quatro caras numa noite. Aí, chegam aqui e me ouve falar: “Bah, mas não tem isso, não tem aquilo…” Ele vai pensar: “E a minha ação?”. Quando tem alguma exposição para autoridades, não falo do efetivo, o que falta, o que tem. Falo de como é que vou combater a criminalidade com o que tenho. Se vier alguém aqui e eu disser que não tenho efetivo, se eu for essa pessoa, viro as costas e vou embora. Ela veio porque aqui é a Brigada, responsável pelo policiamento ostensivo.
DC – E ainda vai sair dizendo: “Fui lá falar com o coronel e ele disse que não pode fazer nada”!
Amorim – Para tu veres: em fevereiro, que é o mês que fechamos, deu 21 armas apreendidas. Quantas ocorrência foram evitadas sem essas armas na rua, independentemente do tempo que o suspeito ficar preso? É isso que preciso fazer os policiais verem: que o trabalho deles dá resultado, valorizar o efetivo. A responsabilidade do policiamento é comigo. Poderia ser melhor com mais gente? Sim, mas com o que temos tiramos 21 armas de circulação, e isso tem que servir de exemplo. Não gosto de arrumar argumentos.
Comunidade apoia obras
Alojamento da 3ª companhia do 15º BPMUma cozinha concluída (apesar da mesa improvisada sobre cavaletes e da ausência da cadeiras) e 70% da obra de um alojamento que receberá quatro beliches para acomodar oito policiais militares é a nova realidade da 3ª Companhia do 15º BPM. Na 4ª Companhia o alojamento está pronto, com ar-condicionado, camas para quatro PMs, chuveiros e armários para todos os brigadianos.
Responsáveis, respectivamente, pela 3ª e pela 4ª Companhias, a capitã Marisa Halberstadt e o capitão Paulo Eduardo Corrêa fazem questão de exaltar o apoio e a parceria da comunidade que possibilitaram a realização das obras. “A ocorrência não se encerra no boletim. Por vezes, os PMs têm de comparecer no turno inverso ao Foro para depor, e até a construção do alojamento, erguido graças à participação da comunidade, que abraçou a ideia, não tínhamos lugar onde eles pudessem ficar”, diz o capitão Corrêa.
DIÁRIO DE CANOAS