Criminosos matam policial no Rio e picham ‘morre PM’ em veículo

PMRJMARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO FOLHA DE SP

Encontrado morto com cinco tiros na madrugada desta segunda (27), o PM José Alves dos Santos, 31, tornou-se o 54º policial assassinado no Rio em 2016, segundo levantamento feito pela Folha a partir de estatísticas oficiais.

Durante o mesmo período de 2015, esse número chegava a 16 mortos, incluindo agentes de folga e a trabalho.

A morte de Santos chamou a atenção dos investigadores da Polícia Civil porque os criminosos fizeram duas pichações no carro em que ele foi encontrado, em um dos acessos à rodovia Washington Luís, na altura do bairro de Cordovil, zona norte do Rio.

Do lado do motorista, a inscrição “CV”, iniciais da facção Comando Vermelho, que comanda a venda de drogas na maior parte das favelas do Rio. Do lado do carona, outra pichação: “Morre PM”.

Divulgação
Pichação do lado do motorista faz referência à facção criminosa Comando Vermelho
Pichação do lado do motorista faz referência à facção criminosa Comando Vermelho

O aumento no número de mortes foi acompanhado pelo de policiais baleados: neste ano, já são 224 feridos. No mesmo período de 2015, esse número foi de 108 policiais.

Dos feridos, 76 PMs foram atingidos em áreas que o Estado chama de “pacificadas”, ou seja, ocupadas pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). São policiais jovens, recém-admitidos na corporação, que se deparam com a tentativa de traficantes de retomar o território.

“É um momento crítico. Dentro dos ciclos mais duros e mais comedidos da história, eu não me lembro de ações semelhantes. Há indícios de que há uma estratégia de busca, identificação e eliminação dos policiais”, afirma o antropólogo Paulo Storani, ex-oficial do Bope (Batalhão de Operações Especiais).

O recrudescimento da violência do tráfico veio na esteira da crise financeira do Estado, que decretou estado de calamidade e receberá ajuda federal de R$ 2,9 bilhões.

Salários de PMs vêm sendo parcelados, como os dos demais servidores, e a falta de material básico afeta o trabalho e desgasta os agentes.

Reprodução/Facebook
O policial militar Denilson Theodoro de Souza foi baleado após sofrer uma tentativa de assalto na Pavuna, zona norte do Rio
Denilson Theodoro de Souza foi baleado durante assalto na Pavuna, zona norte do Rio

O policial José dos Santos era lotado na UPP da comunidade de Manguinhos, na zona norte. Policiais apuram a informação de que ele foi vítima de uma falsa blitz realizada por traficantes. Para fugir, ele saltou do carro e iniciou os disparos contra o grupo. Levou um tiro na cabeça, dois nas costas, um no braço e outro no abdome.

Sua morte foi a segunda de um PM em 24 horas. Na madrugada de domingo (26), o tenente Denilson Theodoro de Souza, 49, sofreu tentativa de assalto na Pavuna, também na zona norte. Ele integrava a equipe de segurança do prefeito do Rio, Eduardo Paes.

O secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, afirmou em nota que se solidariza com os familiares das vítimas e acompanha de perto as investigações.

A Polícia Militar disse lamentar a “perda de qualquer um de seus policiais” e afirmou que tomaria “as providências para auxiliar a família, além de dar um sepultamento com honras de herói”.