DIARIO DE SANTA MARIA: BOE de Santa Maria conta com 15 cães para todos os tipos de missões

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Canil Boina Preta

Meb é o melhor cachorro do canil. Ele atua tanto no farejamento de drogas e munições como em patrulhamentos
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS

Os próprios policiais de Santa Maria fazem o treinamento dos cães

Quem nunca viu filmes policiais feitos em Hollywood que tiveram cães como estrelas. Os peludos foram astros da série K-9, com James Belushi, e de títulos como Uma Dupla Quase Perfeita, com Tom Hanks, por exemplo. Mas não é só nas telas que a relação entre caninos e humanos funciona no quesito segurança pública.

Em Santa Maria, a Brigada Militar (BM) conta com um reforço de peso para auxiliar nos mais diversos tipos de missões. Fundado pelo 2º Batalhão de Operações Especiais (2º BOE), o Canil Boina Preta existe há 16 anos. Atualmente, ele conta com 15 cães das raças rotweiller, pastor-belga malinois, labrador e pastor alemão.

Uma equipe de 11 policiais, habilitada para trato e treinamento dos animais, fica responsável pelo preparo e seleção da equipe de quatro patas. Apesar de ser um requisito importante, gostar de animais não é a única exigências para os militares trabalharem no canil. Todos os que atuam lá têm formação no curso básico em Cinotecnia, oferecido pela Base Aérea de Santa Maria (Basm).

– Assim como outro setores do BOE que necessitam de especialização, os policiais que atuam no canil são altamente especializados. A dedicação deles é louvável. Eles têm muito amor por esses cães – elogia o capitão Leonardo Altafini, comandante da 1ª Companhia do 2º BOE, onde está inserido o canil.

O soldado Rainer Reinstein, que é dono da pastora-belga malinois Núria, de 10 meses, uma das ¿promessas¿ do canil, diz que o serviço é diferenciado.

– Tem de gostar de cães, porque eles pulam, te sujam e tem o cheiro deles, também. Não é um serviço fácil, tem que ter uma dedicação quase que exclusiva. Também tem que ter bastante paciência, porque os treinamento são repetitivos e demorados, mas é recompensador – afirma.

Cães valorizados

Da esquerda para direita: Meb, Era, Blade e Núria. A última, foi comprada por uma idosa por R$ 2 mil, e doada ao BOEFoto: Jean Pimentel / Agencia RBS
Os cães de serviço chegam ao canil do BOE de diversas formas. Alguns são comprados pelos policiais, e, muitas vezes, são usados filhotes dos próprios cães do canil. Núria, por exemplo, foi doada por uma idosa que a havia comprado por R$ 2 mil. Fato é que a Brigada Militar não destina recursos financeiros para adquirir os animais.

– Quando chegamos para pegar a Núria, a senhora estava quase chorando. Disse que não saberia o que fazer se não a levássemos, já que é um cão com muita energia. A idosa fazia caminhadas na Avenida Medianeira e queria um cachorro para acompanhá-la. Tentou uma vez só e não conseguiu – conta, aos risos, Reinstein.

O excesso de energia escondia os talentos da cadela, que deve ser a única do canil que poderá ser empregada em três tipos de operações diferentes: busca por criminosos no mato, faro de entorpecentes e ações de choque. Cachorros da mesma raça de Núria começaram a ser empregados em policiamento no Brasil em 2007, durante os Jogos Pan-Americanos. No ano passado, na Olimpíada do Rio, a grande maioria dos cães utilizadas na segurança era pastor-belga malinois, cujo valor de venda pode chegar a até R$ 5 mil.

Mas, independentemente da raça, é no treinamento diário que os cães demonstram se têm, ou não, a ¿veia¿ policial. Confira nas próximas páginas como o melhor amigo do homem pode se tornar um fiel agente de segurança pública.

Treinamento duro

O rotweiller Blade pesa 45kg e é considerado o cão mais forte do canilFoto: Jean Pimentel / Agencia RBS

Geralmente, os cães ingressam no Canil Boina Preta aos 45 dias de vida. Nos primeiros passos, já é possível notar se eles poderão ser bons policiais ou não. Conforme os brigadianos, de uma ninhada de 10 filhotes, apenas um vai virar farejador. Para desenvolver as qualidades desejadas pelo BOE, os cães fazem treinamento de, no mínimo, um ano.

– Não vou treinar um cachorro hoje para ele sair trabalhando amanhã. Pode demorar até um ano e meio para pegarmos o filhote e prepará-lo até ele estar pronto – explica o soldado Deyverson Carvalho, dono da Era, uma pastora alemã de quatro anos, usada em operações de choque.

Considerado o melhor cão do canil, o malinois Meb é o único, atualmente, que pode ser empregado em dois tipos de missões. Ele é farejador de entorpecentes e de munições e, também, trabalha em patrulhas na rua.

– Durante os testes, ele foi além do que esperávamos, por isso, consegue fazer essa dupla função. Mas, no início, temos de fazer sempre a mesma coisa, até que ele aprenda. De 10 a 15 vezes por dia, porque eles aprendem com a repetição – detalha Reinstein.

Caso o cachorro não responda ao treinamento, ele é doado, preferencialmente para algum policial. O adotante fica como fiel depositário – já que, como ele é propriedade do Estado, precisa ser bem cuidado.

Para os aprovados, os treinos não cessam. São reforçadas e aprimoradas as técnicas que vão transformar os cães em farejadores de droga, animais de patrulha ou de ações choque. E os treinadores desmentem que os cães são viciados para conseguir farejar a droga.

– Existia isso, principalmente nos Estados Unidos. Mas se você deixar um cão viciado, ele vai durar um ano e morrer. O organismo dele não aguenta. Com a evolução das técnicas, usamos apenas o odor (da droga) no treinamento. Os cachorros nem encostam nela. Isso vale também para as munições, porque como eles também são treinados para encontrar explosivos, não pode haver esse risco. Não existe policial batendo em cão, dando choque, não tem maldade nenhuma – enfatiza Reinstein.

Os animais que trabalham em patrulhas ou no choque costumam ter a mesma eficiência. Os policiais contam que é raro que suspeitos tentem fugir depois de ver os cães.

– Geralmente, eles se entregam. Estou no canil há um bom tempo, e só vi um tentar fugir, em 2015. Quando soltamos o cão, ele se entregou. Costumeiramente, os criminosos nem arriscam – exemplifica Carvalho.

Como recompensa pelo empenho, os cães recebem muito carinho dos cinófilos. E, como a maioria dos cães, o que eles mais gostam é de brincar com uma bolinha de tênis.

Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS

Com direto a salário e aposentadoria

Os cachorros do BOE recebem cerca de 400g de uma ração especial por dia. Quando atuam em missões, ganham uma compensação extra, já que gastam mais energia Apesar de terem uma vida regrada e saudável, a rotina também é intensa, Por isso o descanso é merecido: os cães policiais são aposentados entre os nove e os 10 anos de idade.

Em 2016, dois integrantes do Canil Boina Preta penduraram as coleiras. Os pastores-belas malinois Argus, de nove anos, e Greta, de 10, já trabalharam pouco nos últimos meses como policiais. Eles passaram boa parte do ano passado se adaptando à nova morada, na fazenda de um bombeiro, em Nova Palma.

No fim deste ano, outros dois cães policiais devem deixar de lado a intensa vida de operações policiais, ambos de 8 anos. O pastor-belga Bax não sairá mais para os patrulhamentos na rua. Já o rotweiller Uno, não precisará mais adentrar em presídios para, com seu porte de quase 50kg, impor respeito em situações de tensão.

– Procuramos deixá-los com alguém do próprio batalhão, para que possamos ver que estão sendo bem cuidados. Afinal, eles doaram a vida toda para o BOE. São soldados, são colegas para nós. A Era, que é minha, escolhi com 45 dias. Ela tem cinco anos, mas já estou projetando a aposentadoria dela, entre os 8 e os 10 anos. Certamente, vai ficar comigo. É uma relação de muito carinho e confiança. É como se fossemos pai e filha – relatou, segurando uma lágrima, o soldado Deyverson Carvalho.