Diário de Santa Maria: Alternativas na segurança com o fim do policiamento 24h

Prefeitos e comando da BM discutem soluções para a segurança

Após o Comando-Geral da Brigada Militar (BM) determinar a suspensão do Patrulhamento Intermunicipal (Patrin) nas 19 cidades da região do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon), as lideranças das tropas que atuam no policiamento ostensivo no centro do Estado planejam formas de, apesar disso, continuar o combate à criminalidade.

O primeiro passo foi se reunir com os prefeitos dessas cidades para mostrar a realidade e, junto com eles, firmar parcerias que reforcem a segurança em cada cidade (veja no quadro). Especialistas em segurança ouvidos pelo Diário acreditam que a decisão da BM em divulgar os dados que revelam, por exemplo, quantos policiais e viaturas há na cidade foi correta – na edição da última terça-feira, o Diário trouxe uma reportagem mostrando o déficit de policiais militares nesses 19 municípios.

– Ignorância não é uma bênção. Deixar de saber não vai mudar a realidade. Descobrir que não serei atendido pela polícia porque falta efetivo só depois de me tornar uma vítima me soa como irresponsabilidade do poder público. Acreditar que os criminosos descobriram que tal cidade carece de policiais por meio de dados divulgados publicamente me parece ingenuidade. A população precisa estar preparada – relata Geverson Ferrari, especialista em Segurança Pública e Cidadania e mestre em Violência e Criminalidade pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Os dados relativo a esse déficit são da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e dão conta de que 100% dos municípios sob a responsabilidade do 1º RPMon têm efetivo defasado, sendo que 80% deles têm menos da metade do que seria considerado o ideal. O Patrin, que funcionava desde 2014, foi uma alternativa temporária encontrada para amenizar o prejuízo a cidades que não teriam condições de, sozinhas (são 11), manterem o policiamento 24 horas por dia, justamente por conta da falta de efetivo.

– Os efetivos de cidades próximas se juntavam para viabilizar o policiamento todo o dia, sete dias por semana – explica Worney Dellani, coronel da reserva que esteve à frente do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) Central entre 2014 e 2016.

O entendimento do Comando-Geral da BM foi de que, por conta do efetivo deficitário, é melhor que, se a cidade só tiver condições de manter um policial atuando no turno, que ele permaneça no município em vez de se juntar a uma equipe para patrulhar mais de uma cidade. Isso porque, pela avaliação de que se o Patrin estivesse em uma cidade, deixaria outra desguarnecida e vulnerável, e, caso acontecesse um crime nessa cidade, levaria muito tempo para a equipe se deslocar até o local.

– O fim do Patrin foi uma má notícia. Com ele, já não conseguíamos fazer um policiamento condizente. Fica mais difícil agora. Estamos entrando no sinal vermelho – conta o comandante do 1º RPMon, tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues.

Especialistas apontam propostas para este momento de crise

O Coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), Eduardo Pazinato, pensa de maneira semelhante ao tenente-coronel Hernandes, mas supõe que a decisão do fim do Patrin foi tomada baseada no pressuposto de que as equipes disponíveis poderiam dar conta desde que organizadas de forma a combater focos de violência.

– Creio que seja a forma mais interessante. Já que as polícias militar e civil trabalham juntas em muitas operações, essa parceria deve ser ainda mais recorrente. Os dois órgãos enfrentam déficit de efetivo, mas os dois dependem um do outro – relata Pazinato.

Pazinato aponta que os prefeitos e vereadores das cidades podem buscar, junto a deputados estaduais, recursos disponíveis para investir em projetos de segurança, já que existem emendas parlamentares para isso. Esses valores podem custear, por exemplo, a instalação de um sistema de videomonitoramento, que ajuda da BM a coibir crimes, e a Polícia Civil, a identificar suspeitos.

Segundo Pazinato, a instalação da Guarda Municipal nessas cidades também pode ajudar nesse sentido.

– São ações alternativas por conta deste momento de dificuldade. São possíveis, nem sempre fáceis. Vejo um esforço do poder público, e é importante que os diferentes órgãos dialoguem, afinal, trabalham para a população – afirma Pazinato.

O titular da 3ª Delegacia de Polícia Regional, Sandro Meinerz, conta que já existem ações de inteligência que resultam em operações coordenadas por lideranças das duas polícias.

Nesse sentido, o coronel Worney menciona que é possível – e comum – que sejam feitos convênios entre o Executivo e a BM para viabilizar a instalação e a gestão do sistema. Ele também cita como alternativa projetos como os de policiamento comunitário, como o programa Santa Maria Segura, que idealiza a criação de uma rede de contatos junto à comunidade para reforçar a segurança nos municípios.

AS ALTERNATIVAS

Sem Patrin e com defasagem nos efetivos, o que pode ser feito para reforçar a segurança pública:

– Emendas parlamentares: prefeitos e vereadores podem tentar viabilizar recursos, que estão disponíveis para isso, junto a deputados estaduais para viabilizar projetos na área da segurança

– Firmar convênios entre Executivo e BM para viabilizar sistema de monitoramento por câmeras de segurança

– Instalação de Guardas Municipais

–Projeto de policiamento comunitário