ZERO HORA: Delator diz ter repassado R$ 1,5 milhão de propina de Aécio para campanha de Sartori

Segundo executivo da JBS, repasse ocorreu durante a eleição de 2014, como “doação oficial dissimulada”. Coordenador de campanha afirma que doação respeitou a legislação eleitoral vigente

Por: Guilherme Mazui / RBS Brasília e Fábio Schaffner / Brasília

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, o executivo da JBS Ricardo Saud diz ter repassado R$ 1,5 milhão em propina à campanha do governador José Ivo Sartori. O pagamento, feito a pedido de Aécio Neves (PSDB-MG), que concorria à Presidência,  teria ocorrido na campanha de 2014, como “doação oficial dissimulada”.

Trata-se de um trecho de 26 segundos do interrogatório, gravado em vídeo, no qual o delator está detalhando uma série de pagamentos para candidatos de todo o país.

— Uma coisa aqui que você vai achar engraçada: o Aécio pediu pra dar R$ 1,5 milhão para o PMDB do Rio Grande do Sul — diz Saud.

— Mas o PMDB já não estava com o PT? — pergunta o procurador.

— Só que lá o Ivo Sartori era dissidente, porque o PT tinha candidato lá. Aí, Aécio deu R$ 1,5 milhão desse dinheiro, dessa propina, pro Sartori.

— Entendi. Doação oficial?

— Doação oficial, dissimulada — responde o executivo.

O dinheiro para o comitê de Sartori chegou em 24 de outubro, durante a disputa do segundo turno, quando o peemedebista declarou apoio a Aécio no pleito nacional. No primeiro turno, Sartori havia feito campanha para Marina Silva, então no PSB.

Confira trecho do depoimento do executivo no vídeo abaixo

Em outro trecho do depoimento, Saud diz que Aécio também pediu o repasse de mais R$ 1,5 milhão para o PTB gaúcho. O executivo diz que o senador mineiro teria comprado por R$ 20 milhões o apoio do PTB nacional, dos quais uma parte caberia ao diretório do Rio Grande do Sul. Mais uma vez, seria dinheiro de propina dissimulada por meio de doação oficial. O pagamento foi feito no dia 3 de julho de 2014, em uma conta do Banrisul.

Anotações apresentadas pelo delator mostram os destinatários de repasses feitos a pedido de Aécio NevesFoto: Reprodução / Reprodução

STF já abriu precedente para punir propina paga via doação legal 

Ao tornar o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) réu por corrupção e lavagem de dinheiro, em março deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou clara a diferenciação entre as doações eleitorais legais das doações que são feitas para disfarçar o pagamento de propina.

Investigações do Ministério Público apontam que o financiamento de campanhas por meio de empresas, prática proibida pelo STF desde 2015, era utilizado como “método de corrupção” por políticos e empresários. De acordo com o procurador regional da República Douglas Fischer, ex-integrante da força-tarefa da Operação Lava-Jato, ao mesmo tempo em que doavam os recursos, declarando os valores à Justiça, empreiteiros descontavam o montante de propina destinado a determinado político na doação. Assim, em alguns casos, o dinheiro ilícito era repassado por meio do próprio caixa 1 da empresa, com doações legais que contabilizavam recursos ilegais.

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CONTRAPONTO

Em nota, o coordenador financeiro da campanha de Sartori, João Carlos Bona Garcia, reconhece o recebimento do dinheiro, declarado à Justiça Eleitoral. “As doações recebidas da empresa JBS pela campanha José Ivo Sartori foram realizadas dentro da legislação vigente, sendo efetivadas através de transferência eletrônica, saindo da conta da empresa diretamente para a conta da candidatura, bem como emitidos os respectivos recibos eleitorais, conforme informações contidas na prestação de contas do candidato e constantes no site do TRE. A origem dos valores foi dada como legal pela empresa”, diz o texto.