Entidades de PMs planejam ações contra maior contribuição previdenciária no RS

Líderes da categoria dizem que Estado pode viver situação semelhante ao atual cenário do Ceará. Secretaria afirma que situação gaúcha é “totalmente divergente”

Familiares e policiais da reserva realizaram protesto em frente ao 9ª BPM, em Porto Alegre, no mês de dezembroFernando Gomes / Agencia RBS

GAUCHAZH

O cenário beligerante no Ceará, com policiais militares amotinados por aumento salarial, pode servir de estímulo para que brigadianos gaúchos pressionem o governo de Eduardo Leite nas próximas semanas. A possibilidade foi exposta por três dirigentes sindicais. Segundo eles, há insatisfação da categoria com o pacote de mudanças na carreira protocolado na Assembleia pelo Piratini e aprovado pelos deputados em janeiro. Esse descontentamento pode se acirrar ainda mais quando o projeto que ficou de fora e que altera as alíquotas previdenciárias da categoria for levado a plenário, o que deve acontecer até abril.

O Piratini sugere aumento progressivo do atual percentual de 14%, podendo atingir até 22%, conforme a faixa salarial. A matéria foi excluída do pacote votado no mês passado porque a reforma federal feita pelo Congresso impôs novas alíquotas para militares da União com limite de 10,5%, em 2021, gerando dúvida, entre deputados aliados, sobre a segurança jurídica da alteração nos Estados. O Piratini conseguiu, no Supremo Tribunal Federal (STF), liminar contra a lei federal. Com a decisão, o governo deve garantir o apoio da base aliada na Assembleia para mudar o desconto de brigadianos e bombeiros.

— Tanto a gente é pisoteado, que uma hora explode. É como um barril de pólvora — alerta Aparicio Costa Santellano, presidente da Associação dos Sargentos Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar (ASSTBM).

Mesmo ciente da proibição constitucional de greve por policiais militares, o dirigente se diz solidário aos colegas amotinados em cidades cearenses.

— A situação que os policiais enfrentam lá chegou ao extremo e aqui está se encaminhando para isso também. Eles têm toda a nossa solidariedade e apoio — acrescentou, lembrando que está sendo organizada uma manifestação para março no Rio Grande do Sul, ainda sem data definida.

— As decisões do governo gaúcho têm incentivado que façamos atos mais radicais — complementa José Clemente, presidente da Abamf, entidade que representa os servidores de nível médio da BM.

Leonel Lucas, presidente da Associação Nacional dos Policiais Militares e Bombeiros Militares, considera que o governo gaúcho tem sido “insensível” com a categoria.

— Sabemos que a população tem sido prejudicada no Ceará e será no Rio Grande do Sul se algo parecido acontecer, mas é preciso entender que a polícia também já faz parte da população. Tem sofrido com diminuição de salários. Muitos não conseguem nem comprar comida — pontua o sindicalista, também se solidarizando com os agentes do Nordeste.

Já a Associação dos Oficiais da Brigada Militar (AsofBM), apesar de se mostrar descontente com o governo, descarta qualquer ato inconstitucional. Presidente da entidade, o coronel Marcos Paulo Beck explica que acordos serão discutidos na base do diálogo:  

— Acredito que nosso sistema político tem seus erros, mas é o sistema que temos e, portanto, no qual temos de acreditar. Em última instância, buscaremos o equilíbrio na Justiça. Mas está absolutamente descartada qualquer greve.

A Secretaria da Segurança Pública do RS disse, em nota, que a situação no Rio Grande do Sul é “totalmente divergente do atual quadro no Estado do Ceará” e que mantém os serviços sob “absoluta normalidade e tranquilidade”. A pasta justifica esse entendimento, entre outros motivos, pelo “histórico de responsabilidade, respeito e abnegação com que os profissionais da segurança no RS sempre trataram a sociedade gaúcha durante o encaminhamento dos seus pleitos”. Leia a manifestação no governo na íntegra no final deste texto.

Ceará e Minas Gerais

O motim de policiais militares no Ceará chegou ao sétimo dia nesta segunda-feira (24). Pelo menos três batalhões de Fortaleza e da região metropolitana seguem ocupados por grupos de amotinados. Até a noite de domingo (23), mais de 200 agentes de segurança haviam sido afastados por participação nos atos. Em meio à paralisação, continua a onda de violência no Estado, com registros de homicídios e assaltos na Capital e no interior. 

Desde terça-feira (18), homens encapuzados que se identificam como agentes de segurança do Ceará invadiram e ocuparam quartéis, depredando veículos da polícia. Policiais militares reivindicam aumento salarial acima do proposto pelo governador Camilo Santana. Entre quarta-feira (19) e domingo (23), 147 homicídios foram registrados no Estado pela Secretaria da Segurança Pública (SSPDS). Por conta da crise na segurança, a Força Nacional e o Exército passaram a atuar em Fortaleza

Outro caso emblemático é o de Minas Gerais, um dos Estados em pior situação fiscal do país e que não pagou o 13º salário de professores. Mesmo assim, acaba de conceder aumento escalonado de 42% para policiais militares, pressionado pelas forças de segurança

Nota da Secretaria de Segurança Pública do RS

“A categoria da Segurança Pública foi uma das únicas a receber reajuste nos últimos anos, com aumentos aprovados em 2014 e executados escalonadamente até 2018, sempre nos meses de maio e novembro. Em janeiro deste ano, o governo obteve na Assembleia, por ampla maioria, a aprovação de projetos para modernizar as carreiras no Estado, inclusive às da segurança pública. 

Para a Polícia Civil, foi assegurada paridade e integralidade aos servidores que ingressaram antes da criação do regime contribuição complementar para previdência estadual. E na Brigada Militar, foi atendida demanda da categoria com a migração do regime de remuneração para a forma de subsídio. Em relação as alíquotas previdenciárias dos militares, há uma semana o STF concedeu liminar ao Estado garantindo a autonomia para estabelecer os percentuais para previdência estadual, o que traz segurança jurídica ao modelo adotado pelo Estado até aqui e para a retomada do debate na Assembleia. Além disso, o governo mantém permanentemente aberto o diálogo com as categorias, tanto que já realizou audiências com representantes após a aprovação da Reforma RS. 

Por fim, cabe destacar o histórico de responsabilidade, respeito e abnegação com que os profissionais da segurança no RS sempre trataram a sociedade gaúcha durante o encaminhamento dos seus pleitos. Portanto, a situação no RS é totalmente divergente do atual quadro no Estado do Ceará e mantém os serviços sob absoluta normalidade e tranquilidade.