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OSCAR BESSI: Mulheres do front

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OSCAR BESSI: Mulheres do front
(Foto do bolo que comemorou os 25 anos da chegadas das mulheres na Brigada Militar)
(Foto do bolo que comemorou os 25 anos da chegadas das mulheres na Brigada Militar)

Por Oscar Bessi Correio do Povo

Eu a observo antes de entrarmos na viatura. Ela retoca o batom discreto. Limpa os óculos de sol, ajeita o colete, confere a pistola e as algemas, regula o volume do rádio e me avisa que a viatura está em condições, checou antes. Minutos depois, sob as luzes da cidade agitada, já fala sobre assaltantes que precisamos prender, questão de honra. Comento que é bom abrir o olho, eles andam em trio e estão sempre armados. “Que venham”, ela sorri. E eu penso em como é bom sentir firmeza, confiar em quem está ao seu lado, quando o destino poder ser o campo de batalha.

É recente a presença feminina nas forças de segurança pública brasileiras. A Guarda Civil de São Paulo criou o seu primeiro Corpo Feminino em 1955 e a atitude gerou desconfiança e polêmica. O espaço das mulheres ainda era tímido, a cultura masculina e patriarcal dava as regras sem se preocupar em disfarçar e, por óbvio, os homens ocupavam a quase totalidade dos espaços gerenciais na sociedade organizada. Mas o ato jamais foi desfeito. Ao contrário, na década de 70 elas foram incorporadas à Polícia Militar paulista, que passou a admitir mulheres em 1959. Aqui no Rio Grande do Sul, a Brigada Militar iniciou a formação da primeira turma de policiais militares femininas em 1986. Elas deveriam estudar e atuar em separado, com atividades restritas ao policiamento escolar, trânsito e eventos. Com o tempo, porém, toda e qualquer diferenciação desapareceu. Hoje todas as missões são executadas de forma igualitária.

A Polícia Civil gaúcha, primeira instituição policial da América Latina a inserir a disciplina de direitos humanos em seus cursos de formação, também está entre as pioneiras no país quanto ao ingresso de mulheres. Em 1970, a primeira turma formou 42 investigadoras. Hoje, é grande o número de delegadas, escrivãs e inspetoras, assim como também se amplia a presença feminina nos quadros de oficiais e praças da Brigada Militar. E ambientes há pouco tempo tão masculinizados pelo uso da força, pela dureza do enfrentamento a criminosos ou pela vulgaridade típica do submundo, hoje veem belas policiais, agentes penitenciárias e peritas transitando com desenvoltura e harmonia por entre as piores frestas de nossa conturbada sociedade. O tempo mostrou que, sim, lugar de mulher é na delegacia, no quartel e onde mais ela quiser que seja. Nos quatro cantos de um país onde a violência contra a mulher ainda atinge números absurdos, onde uma cultura de simpatia pelo crime insiste em se alastrar, elas se erguem corajosas, resolutas, guerreiras convictas. São índias, são negras, são brancas. E são mães, filhas, esposas e avós. São mulheres brasileiras. Cidadãs. Elas lutam no front por todos nós.

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