
Aconteceu na sexta, três dias antes do Natal, em São Sebastião do Caí. Pouco antes do meio dia.
Quando os dois policiais militares chegaram no casebre, perto da rodovia, o calor sufocante talvez passasse dos 40ºC ali dentro. Naquela fornalha de miséria e absurdo, uma criança de 12 anos estava deitada, sem água ou luz, sem nada para comer, beber ou se refrescar. O menino estava suando. Fora abandonado pela mãe, usuária de crack.
O nome dele é Kauã.
Sua única companhia era um cãozinho preto com pouco mais de um mês de vida.
Os policiais militares tomaram todas as providências cabíveis. Era os Soldados Jacobsen e Eckert, do 27º BPM.
Eles não haviam recebido nem salário nem 13º e podiam resmungar sobre qualquer despesa de final de mês. Mas esses dois PMs têm outro olhar sobre a vida e a humanidade, eles se colocaram no lugar daquela criança castigada pela vida cujo sonho é crescer e ser policial e lhe compraram presentes de Natal. Brinquedos e roupas. Permitiram que Kauã conhecesse a viatura, acionasse os sinais, operasse no rádio para falar com eles.
Ganharam, de presente, o sorriso de uma criança que horas antes estava condenada à morte e à falta de amor.
Falou mais alto o coração de pai, a alma de um guardião da cidadania.
Disse-me o soldado Jacobsen, e eu me emociono ao reler sua mensagem:
– Não o fizemos por mídia, o Sr. sabe, capitão, fizemos por sermos policiais e acreditar que nem tudo está perdido. Uma vida que consigamos ajudar e salvar, vale mais que todas as ocorrências de prisões juntas. Pelo menos o Kauã sorriu e o natal dele será um pouco mais alegre. O sonho dele, que quando saiu dá casa nos falou qual é? Ser policial, mesmo sabendo que seu pai está preso e dá situação de sua mãe. E decidimos juntos por não divulgar, pois não há necessidade, o sentimento de dever cumprido esse sim é o nosso combustível. Optamos pelo reconhecimento do próprio Kauã.
Pois bem, Jacobsen. Mas o grandioso gesto de vocês precisa servir como combustível de amor para milhares de almas perdidas por aí, entre seus rancores, egoísmos, consumismos e ódios. O gesto de vocês com Kauã precisa repercutir. O sorriso de vocês três, juntos, tem a força de uma estrela guia.
CORREIO DO POVO