

Félix Zucco / Agencia RBS
Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) está com apenas 40% do efetivo previsto. São 616 militares para cobrir 11 mil quilômetros de estradas estaduais
Há menos policiais atuando nas rodovias estaduais do que nas estradas federais do Rio Grande do Sul. Para fiscalizar 6,1 mil quilômetros de BRs no Estado, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) conta com 710 agentes, enquanto o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) tem 616 homens (40% do efetivo previsto) para uma malha de 11 mil quilômetros.
É como se cada servidor estadual precisasse monitorar 18 quilômetros enquanto que a PRF tem um patrulheiro para cada 8,5 quilômetros. Em situações extremas, o aperto na equipe é tanto que tem obrigado os policiais a escolher quais ocorrências serão atendidas. Há relatos de vítimas que ficaram de duas a três horas aguardando a chegada de uma viatura.
Em 25 de abril, atropelamento foi registrado na RS-240, em Portão. Questionado por telefone alguns minutos após a ocorrência, o atendente do comando rodoviário informou ao Grupo de Investigação da RBS (GDI) que não havia policiais para enviar ao local:
— Quem está atendendo é a Brigada São Leopoldo. A informação chegou (ao CRBM), só que não temos efetivo para atender.
Um dia depois, em acidente na RS-239, em Novo Hamburgo, nova demora. Também por telefone, outro atendente do posto de Sapiranga, o mais próximo do ponto da colisão, informou que havia sido necessário acionar viatura de Gramado, que levaria 50 minutos para chegar. Questionado se o problema era falta de veículos na unidade, o servidor respondeu:
— Não. Falta efetivo. Viatura tem bastante.

A situação se agrava porque ao menos um servidor tem de ficar em cada um dos 38 postos de fiscalização para atender às ligações sobre acidentes de trânsito e designar viaturas de socorro. O policial também precisa zelar pelos equipamentos nas unidades. Além disso, os postos costumam servir de pouso para agentes. Em razão dessas essas características, a orientação do CRBM é mantê-los abertos 24 horas.
O presidente da Associação de Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar e Bombeiros (ASSTBM), Aparício Santellano, diz que brigadianos do CRBM procuraram a entidade para alertar sobre falta de segurança uma vez que precisam ficar sozinhos nos postos.
— O policial não pode sortear para atender o acidente mais grave e a população ficando à mercê disso. Os brigadianos, que já estão se sacrificando, são obrigados a tomar essas medidas. E pior, ainda têm que ficar se explicando e ouvindo de tudo, claro, com razão, das pessoas que ligam para os postos ou que ficam esperando a chegada das viaturas nos acidentes — ressalta Santellano.
O dirigente diz que já levou as questões ao comando da corporação e salientou também o prejuízo às ações de controle do tráfego com uso de radar móvel.
— Com prioridade para os acidentes, automaticamente a fiscalização fica zero. Claro que se o policial ver um cometendo infração ele vai tomar providências. Mas isso se torna raro (com a falta de pessoal).
O consultor de segurança do Sindicato dos Transportadores de Cargas (Setcergs), João Carlos Trindade, diz que a situação também prejudica o combate ao roubo de carregamentos.
– Como os veículos têm rastreamento, os bandidos os retiram da rodovia, cerca de 500 metros, 600 metros, e fazem um rápido transbordo para caminhões menores. Os policiais as vezes pegavam esse momento. Tendo menos efetivo, demora mais para chegar.
O comandante do CRBM, coronel Nelson Alexandre de Moura Menuzzi, afirma que tem tratando sobre o aumento de efetivo com a Brigada Militar. O pedido foi reforçado ao novo comandante-geral da corporação, coronel Mario Ikeda. A expectativa é receber mais 30 policiais no mês de junho.
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Demora no atendimento de acidentes chega a três horas e policiais precisam escolher ocorrências mais graves