Patrulhamento também está sendo feito com o uso de motocicletas
A nomeação dos aprovados no concurso da Brigada Militar ainda segue suspensa pelo governo estadual, mas a percepção de que o número de policiais nas ruas de Santa Maria é maior não é mera ilusão. De fato, há mais policiais em locais estratégicos da cidade, onde o fluxo de pessoas é mais intenso, como no Centro. A medida faz parte do projeto do novo comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva Central (CRPO), coronel Worney Dellani Mendonça, que prevê, também, aumentar o número de patrulhas com motocicletas nas ruas. O objetivo é chegar mais rápido para o atendimento das ocorrências. Tanto que, na sexta-feira, foi lançada a Operação Coração do Rio Grande, justamente para reforçar o policiamento ostensivo na cidade e na região.
— Elencamos alguns pontos da cidade como prioritários. Não é priorizar a área central, mas é onde tem maior fluxo de pessoas, são pontos de maior visibilidade. Isso (mais policiais) dá uma sensação de segurança, não só para as pessoas, mas os delinquentes também sentem essa presença — diz o coronel Worney.
Apesar de novos policiais não terem vindo para Santa Maria, pois ainda há déficit de efetivo, houve o acréscimo de quem estava na Operação Golfinho. Ao todo, 150 policiais militares voltaram para a região, sendo 113 para Santa Maria. Outra medida adotada é a conhecida como “Fecha Quartel”, em que policiais da área administrativa são deslocados para o policiamento ostensivo. Assim, determinada seção fica com apenas um PM para o atendimento ao público, e os demais passam a atuar nas ruas.
Outra mudança adotada foi a extinção da Patrulha Tático Móvel (Patamo). Os policiais que faziam parte desse grupamento foram integrados ao Pelotão de Operações Especiais do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) para formar a Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas, a Rocam. O 1º RPMon conta com seis motos para fazer este trabalho. O novo projeto prevê, no mínimo, 21 veículos para atuar em sete pontos estratégicos.
— O coronel Worney tem muita experiência e conhece todos os nossos problemas. Só é preciso ter muito cuidado com a retirada do efetivo administrativo. Isso não pode ser uma constante, porque é necessário para a parte logística e pode refletir ali na frente — pondera o vereador João Ricardo Vargas (PSDB), que já foi comandante do 2º Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar.
Segundo dados da BM, do dia 1º de março até a última sexta-feira, alguns crimes diminuíram em relação ao mesmo período do ano passado, como furtos a residência (37 contra 18), a veículo (32 contra 24) e em estabelecimentos (26 contra 17). Porém, os roubos a estabelecimentos (13 contra 21) e a pedestres (73 contra 92) aumentaram. Para o coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), Eduardo Pazinato, nas áreas centrais, onde esses tipos de crimes são mais comuns, é importante que haja esse reforço no policiamento para dar mais sensação de segurança.
“Tenho compromisso com Santa Maria”
Worney Dellani Mendonça, 51 anos, não é santa-mariense. Mas o fato de ter nascido em Tapes não diminui a paixão por Santa Maria, onde mora há 44 anos. A maior parte da infância viveu na Vila Schirmer. Agora, reside no bairro João Goulart. Filho de policial militar, optou por seguir a carreira do pai. E teve sucesso na empreitada. A dedicação pelo trabalho e a máxima de que “lugar de policial é nas ruas” estão entre as principais marcas do coronel Worney, que está à frente do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) Central. Casado e pai de três filhos, tem tanta ligação com Santa Maria que nem mesmo quando foi comandante do Comando Regional Fronteira Noroeste, em Santa Rosa, e diretor do Departamento de Logística e Patrimônio da Brigada Militar, em Porto Alegre, afastou-se da cidade.
— Tenho um compromisso com Santa Maria, por ter esses vínculos. Amo o que eu faço, adoro a Brigada Militar e procuro passar isso para as pessoas — diz o coronel Worney.
Confira uma breve entrevista sobre a estratégia adotada pelo novo comandante do CRPO Central:
Diário de Santa Maria — O que os santa-marienses podem esperar da Brigada Militar?
Coronel Worney — Que o santa-mariense se acostume com a disposição da Brigada em ter policiais atuantes nas ruas. Aos delinquentes, que saibam que a Brigada tem um grande compromisso em proteger as pessoas do bem. Eles podem cometer o crime em um dia, mas estaremos atentos no segundo, no terceiro. Queremos uma Santa Maria boa de se viver.
Diário — Há mais policiais nas ruas da cidade?
Coronel Worney — Não tivemos aumento de efetivo, estamos trabalhando com o mesmo do ano passado. O que está se fazendo é uma dinâmica diferente. A atividade da polícia na rua tem uma dinâmica que é semanalmente reavaliada. Temos dados estatísticos de ocorrências. O diferencial é que os policiais estão em pontos estratégicos. Também há reforço do pessoal da parte administrativa em determinados eventos ou períodos.
Diário — O quanto a defasagem no efetivo prejudica o trabalho?
Coronel Worney — Temos uma defasagem histórica. Hoje, na nossa região, temos uma defasagem de cerca de 31%. Inclusive, estamos fazendo um estudo de policiais que desejam ser movimentados na região, para atender municípos que estão mais carentes. Não gosto de tratar disso, estamos aqui para trazer soluções. Se há um policial que se apresenta aqui transferido, já fizemos festa.
Problema crônico, não crítico
É unanimidade entre especialistas e responsáveis por órgãos de segurança que o problema no bairro Nova Santa Marta, na Zona Oeste, é grave. E que, apesar de estar sendo controlado atualmente pelo reforço no policiamento, em determinado momento acabará voltando. Para o coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Fadisma, Eduardo Pazinato, que foi secretário de Segurança Pública e Cidadania de Canoas entre 2009 e 2012, o que acontece na Santa Marta é semelhante ao que ocorre em vários outros lugares do país, como os bairros Guajuvira e Matias Velho, em Canoas, e na Restinga, em Porto Alegre.
— De tempos em tempos, ciclicamente o tema volta à tona quando há um homicídio ou o fechamento de uma escola. A polícia vai com um número maior de policiais por um período X, reduz a sensação de insegurança, mas, depois, tudo volta. Só que não adianta, é preciso haver integração da Polícia Civil, dos sistemas prisional e judiciário e, principalmente, do Estado, que fica de costas para essas comunidades — salienta.
O delegado Sandro Meinerz, titular da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), vai na mesma linha na questão da falha por parte do Estado. Ele contou que, em visitas recentes à Nova Santa Marta, moradores relataram que estão se sentindo incomodados com a presença mais forte da Brigada Militar.
SEGURANÇA EM NÚMEROS
– Cerca de 150 policias voltaram da Operação Golfinho para a região. A operação foi realizada de novembro até o início de março
– Desses 150, 113 estão em Santa Maria
– A defasagem no efetivo do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon), que atua em 19 cidades da Região central, fica entre 28% e 30%
– A média de defasagem no efetivo do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) Central, que abrange 29 municípios, é de 31%
– Há municípios da região que chegam a estar com defasagem de 50%
– Por questões estratégicas de segurança, o CRPO não divulga o número de policiais
Maior movimentação de policiais foi notada no Centro
Nas ruas centrais de Santa Maria, a percepção da maior movimentação de policiais foi sentida por quem passa pelo local, principalmente de viaturas. Isso também foi sentido por quem trabalha no comércio.
— Notamos que aumentaram as motos, mas não sentimos aumento no número de policiais. Mas notamos as movimentações em horários específicos como o meio-dia e o final da tarde — contam Aldacir Malezan, 25 anos, e Daiane Capeletto, 32, vendedores de duas lojas que ficam no Calçadão.
Durante os 90 minutos em que a reportagem do “Diário” circulou pelo Centro na última terça-feira, foram vistos três policiais a pé: um em cada ponta do Calçadão e um próximo ao Paradão da Rio Branco. Além disso, duas viaturas foram visualizadas na Rua do Acampamento, assim como um trio de motocicletas em dois momentos, entre a Rua dos Andradas e a Avenida Rio Branco.
Para o especialista em Segurança Pública Eduardo Pazinato, essa é uma medida clássica que tem um primeiro efeito com as pessoas se sentindo mais seguras. Mas o especialista alerta que, estabelecendo-se esse policiamento em determinado horário e local, os criminosos irão migrar para outros endereços.
DIÁRIO DE SANTA MARIA