Policiamento reduzido no litoral preocupa moradores

Viatura da BM faz parte do cenário de abandono no Litoral gaúcho | Foto: Mauro Schaefer
Viatura da BM faz parte do cenário de abandono no Litoral gaúcho | Foto: Mauro Schaefer

Associação de municípios do litoral critica falta de PMs, reconhecida pela própria Brigada Militar

A sucessão de arrombamentos, os roubos e até mortes nas praias do Litoral Norte estão deixando a população local apreensiva. Passados os dias de calor, há uma redução drástica na movimentação na área, apesar de não ser tão grande como há uma década. E não é apenas o movimento que diminui. O policiamento também reduz na região. Ao percorrer a orla, de Torres a Balneário Pinhal, numa extensão de 120 quilômetros, foi possível identificar um esvaziamento nos postos da Brigada Militar (BM) e, como resultado, o medo que assombra quem escolheu o Litoral para morar o ano inteiro.

Os tipos de crimes mudam de acordo com a praia. Em algumas, os arrombamentos de residências têm maior frequência, como em Arroio do Sal. Em outras, predominam os casos envolvendo tráfico de drogas, como em Tramandaí e Imbé. Mas a principal reclamação recai sobre a redução do efetivo da BM. Por exemplo, o posto da Brigada de Torres, uma das principais praias, contava com apenas um servidor de plantão numa manhã de dia útil. O mesmo funcionário era responsável por atender aos chamados no rádio, receber a demanda externa e atender ao público.

A falta de policiais militares se repete nas ruas. Em mais de meia hora, não foram encontrados brigadianos ou viaturas na cidade. Porém, no estacionamento do batalhão, motos e viaturas estavam paradas. Em Xangri-Lá, dois servidores atuavam no plantão. Do lado de fora, duas viaturas danificadas estavam paradas no pátio.

“A situação está insustentável”, diz Paulo Lang, presidente da Associação dos Municípios do Litoral Norte e prefeito de Palmares do Sul. “Estamos caminhando para a possibilidade de as prefeituras terem que assumir a responsabilidade pela segurança, colocando guardas municipais”, desabafa. Lang explica que a falta de efetivo predomina em todas as praias. O mesmo ocorre com a ausência de viaturas. Somente em Palmares do Sul, recorda, há quatro PMs, sendo que dois estão prestes a se aposentar. Diante desse panorama, que não tem previsão de alteração, outra constatação preocupante é com o maior esvaziamento do Litoral. “As pessoas simplesmente vão partir. Pelo menos nas cidades maiores têm mais segurança”, comenta.

O coronel Rogério Alberch, comandante da BM no Litoral Norte, reconhece a falta de efetivo. No entanto, salienta Alberch, esta dificuldade não é pontual: “Existe déficit de PMs em todas as regiões do RS”. Outro problema enfrentado no combate à criminalidade é o processo “prende-solta”. Ele destaca que mesmo com pouco efetivo é grande o número de prisões, de recuperação de veículos furtados e de detenção de foragidos.

Posto da BM em Salinas está desativado há dois anos | Foto: Mauro Schaefer
Posto da BM em Salinas está desativado há dois anos | Foto: Mauro Schaefer

Celular funcional para contato

Quando saem para atender uma ocorrência, os brigadianos de Arroio do Sal deixam o número do celular funcional fixado na porta para que a população entre em contato, caso seja necessário. A praia é conhecida por sua tranquilidade. No verão atrai 120 mil veranistas. A população fixa é de 8,6 mil habitantes. Uma das suas características é a extensão da orla, que atinge 27 quilômetros, abrangendo vários balneários. Porém, esse perfil torna evidente o déficit no policiamento ostensivo.

Os arrombamentos estão entre os principais crimes. E mais uma vez a falta de efetivo fica evidente. Dois brigadianos são responsáveis pelo policiamento na cidade. Sem equipe, quando eles precisam sair para atender uma ocorrência, trancam a porta do posto da BM, onde é afixada uma folha de papel informando o número do telefone.

Os ladrões costumam roubar os botijões de gás. O casco, como é conhecido na cidade o botijão, custa R$ 120. Os criminosos tentam negociar o objeto com os estabelecimentos locais.

CORREIO DO POVO