Secretário de Segurança descumpre acordo, falta à audiência pública e servidores chamam o Batman

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18/06/2015 - Audiência Pública, no Teatro Dante Barone da ALRS, discute situação da segurança pública do estado. | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
18/06/2015 – Audiência Pública, no Teatro Dante Barone da ALRS, discute situação da segurança pública do estado. | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Luís Eduardo Gomes

O que era para ser a primeira visita pública do secretário de Segurança do Estado, Wantuir Jacini, à Assembleia Legislativa, acabou se tornando um festival de vaias e críticas às políticas do governo Sartori para o setor, diante da ausência do representante do governo. Indignados com o tratamento que recebem do poder público, especialmente pela ameaça de corte de direitos e pela não convocação de aprovados em concursos, policiais civis e militares, bombeiros e servidores da Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários) e do IGP (Instituto Geral de Perícias) não economizaram em reclamações e ironia. Em meios às declarações dos presentes na audiência sobre a situação da Segurança no Estado, os trabalhadores pediram, em diversas oportunidades, que o Batman fosse chamado para o lugar do secretário – uma alusão ao fato de um comandante da Brigada Militar ter sugerido que participantes de um evento no Parque da Redenção chamassem o Batman em vez da Brigada Militar.

“Lamentável que o secretário não veio para explicitar e tornar claras as políticas que a Secretaria vai produzir para enfrentar esse momento de agudização na segurança do nosso Estado”, disse o deputado estadual Nelsinho Metalúrgico (PT), presidente da Comissão de Segurança e Serviços Públicos. “Era importante que o secretário estivesse aqui e pudesse ouvir a manifestação dos servidores e da sociedade, porque também falaram prefeitos e vereadores, que têm essa preocupação da falta de efetivos e perspectivas de contratação e ampliação do efetivo das nossas polícias aqui no Estado”, completou.

Segundo Nelsinho, a comissão não recebeu nenhuma justificativa para a ausência do secretário na audiência. “Até ontem, ele tinha confirmado a presença. O líder do PMDB (Álvaro Boesio) aqui na Casa nos garantiu que ele estaria presente e agora, minutos antes de começar, o secretário não se fez presente. É lamentável, (a ausência dele) que tem a obrigação funcional de ouvir a AL e as pessoas do Estado”, disse.

Nelsinho explicou ainda que o secretário deve agora ser convocado para conversar com os deputados na Assembleia. Caso não responda à convocação, Jacini poderia então responder por crime de responsabilidade, segundo o deputado.

A posição oficial da Secretaria de Segurança é que o secretário Wantuir Jacini estava em Santa Maria para reuniões com representantes da Brigada, do Exército e com o prefeito, Cezar Schirmer. Segundo a assessoria, a presença de Jacini na audiência pública não tinha sido confirmada, apenas a de um representante da pasta.

O deputado Nelsinho Metalúrgico, presidente da comissão, criticou a ausência do secretário Jacini| Foto: Caroline Ferraz/Sul21
O deputado Nelsinho Metalúrgico, presidente da comissão, criticou a ausência do secretário Jacini| Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Críticas constantes

Apesar de não contar com a presença do secretário Jacini, a audiência se alongou por quase quatro horas no Teatro Dante Barone, lotado de servidores da área de Segurança do Estado. Um a um, os palestrantes que foram se alternando no palanque iam expondo a grave situação da segurança do Estado, agravada pelo anúncio de cortes em horas extras, combustíveis para viaturas e diárias para policiais militares, que fazem parte da política de corte de gastos do governo Sartori, e pela não convocação de aprovados em concursos da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Civil e outras áreas.

Ao abrir os trabalhos, o presidente da comissão, Nelsinho Metalúrgico, anunciou a ausência de Jacini, o que foi respondido com vaias pela maioria dos ocupantes das tribunas. Em sua fala, o deputado afirmou que o Estado vive uma “guerra civil não declarada”, com 650 mortes no primeiro trimestre do ano, que resulta em uma média de 7,2 mortos por dia no Estado. Ele questionou o governo sobre a possibilidade de revisão do plano de reajustes concedido na gestão passada a policiais civis e militares, bombeiros e trabalhadores da Susepe – o PLC 206 ameaça suspender os reajustes anuais até 2018 – e exigiu uma posição sobre a nomeação dos concursados.

Na sequência, o deputado estadual Maurício Dziedricki (PTB) lembrou que a presença de Jacini tinha sido acordada entre a oposição e representantes do governo para que fosse realizado um único debate com o secretário. “Lamento essa postura desrespeitosa”, disse.

Líder do PMDB, Álvaro Boesio tentou justificar a ausência de Jacini e foi vaiado | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Líder do PMDB, Álvaro Boesio tentou justificar a ausência de Jacini e foi vaiado | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Após declarações dos deputados petistas Valdeci Oliveira e Miriam Marroni, que afirmaram ser inaceitável o governo incluir nos cortes as áreas de Segurança e Saúde, o líder da bancada do PMDB na AL, Álvaro Boesio, afirmou que vai trabalhar junto ao governo para ser um parceiro da Segurança Pública, mas também foi fortemente vaiado. Sob críticas, ele explicou que fez um esforço para a presença de Jacini, mas que este não pode comparecer porque estava em Santa Maria. Os aplausos só vieram quando ele afirmou que o governo Sartori vai pagar o reajuste concedido aos servidores da área.

O pronunciamento de Boesio foi seguido pelos discursos dos deputados Stela Farias (PT), Jeferson Fernandes (PT), Juliano Roso (PCdoB) e Bombeiro Bianchini (PPL), todos aplaudidos após duras críticas à situação da Segurança Pública do Estado.

Aciona o botão vermelho

Após os deputados, foi aberta a oportunidade para que representantes das categorias de servidores se pronunciassem. O primeiro a falar foi o soldado Leonel Lucas, presidente da Abamf (Associação Beneficente Antônio Mendes Filho), que incluiu em seu discurso a brincadeira que já vinha sido repetida nas tribunas ao falar sobre a ausência do secretário no evento. “Está na hora de acionar o botão vermelho. Está na hora de chamar o Batman”, disse, arrancando aplausos.

Outro momento de ironia ocorreu quando Ubirajara Pereira Ramos (Bira), coordenador geral da Abergs (Associação de Bombeiros do Estado do RS), começou a sua fala puxando um “parabéns a você” para lembrar que faz um ano que foi aprovada a separação entre Bombeiros e Polícia Militar sem que fossem aprovadas medidas para a implementação dessa decisão. “Está na Constituição do Estado, mas não está sendo respeitada”, afirmou.

Bira da Abergs criticou os cortes do governo sobre as diárias e horas extras dos oficiais da BM e dos Bombeiros| Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Bira da Abergs criticou os cortes do governo sobre as diárias e horas extras dos oficiais da BM e dos Bombeiros| Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Ele também usou a ironia ao afirmar que os cortes em diárias vão ter um impacto negativo na Operação Golfinho, realizada todos os verões nas praias do Estado. “Quem sabe o governo não emite um novo decreto pedindo para o cidadão não ir para a praia?”, disse.

Seguiram-se então representantes de todas as categorias da Segurança Pública, exigindo a convocação dos aprovados em concurso e o não corte no reajuste concedido aos servidores. Além disso, convocaram os presentes para uma grande manifestação no próximo dia 7 de julho.

“Se não vamos nos indignar agora, quando vamos? Até a Marcha das Vadias reúne mais gente que nós?”, disse o presidente da ASSTBM (Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da BM e dos Bombeiros Militares do RS), Aparicio Costa Santellano.

Servidores viram as costas para representante da Secretaria

Após três horas de pronunciamentos, foi então a vez de Nelsinho Metalúrgico convocar as falas de representantes das categorias dentro do governo do Estado, mas nenhum  deles se pronunciou sobre as reivindicações dos servidores. Quando enfim o diretor de Gestão Estratégica Operacional da pasta, Luiz Dulinski Porto, representante da Secretaria e substituto de Jacini se deslocou ao palanque, foi recebido com vaias mais uma vez.

Servidores viraram de costas para o palanque durante o pronunciamento do representante da secretaria | Foto: Luís Eduardo Gomes/Sul21
Servidores viraram de costas para o palanque durante o pronunciamento do representante da secretaria | Foto: Luís Eduardo Gomes/Sul21

Sem falar sobre as reivindicações dos servidores, Porto tentou apresentar estatísticas sobre a violência no Estado nos primeiros cinco meses do ano, mas a todo o momento era interrompido pelos presentes. Em determinado momento, os servidores viraram de costas e cantaram o hino riograndense enquanto Porto tentava seguir seu pronunciamento.

Quando que conseguiu se pronunciar, Porto não deu prazo sobre a nomeação de concursados e  afirmou que a crise financeira do Estado exigia esforços de todos, e que somente após superado o contingenciamento das contas públicas as reivindicações poderiam começar a ser atendidas.

Após a fala de Porto, o deputado estadual Jorge Pozzobon (PSDB) ainda prometeu que “em hipóteses alguma” será votada uma lei para “mexer no reajuste” dos servidores da área da Segurança Pública do Estado.

Por Caroline Ferraz/Sul21

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Fotos: Caroline Ferraz/Sul21

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