Aumento da criminalidade força a população a mudar hábitos

Mesmo com o fim da greve, Brigada segue com operação padrão|Foto: Diego da Rosa/GES-Especial
Mesmo com o fim da greve, Brigada segue com operação padrão|Foto: Diego da Rosa/GES-Especial

A sensação de insegurança, segundo especialistas, está relacionada a várias razões, entre elas o número reduzido de policiais nas ruas

Levar um tiro sentado em uma parada de ônibus depois do trabalho. Ser assaltado dentro do trem ou ter o carro roubado em pleno dia. Todas são situações que infelizmente já se tornaram rotineiras inclusive em cidades da região. A sensação de insegurança é cada vez maior e o motivo não é psicológico, mas é motivada por fatos, cuja frequência vem aumentando na proporção da crise econômica que parcela salários de policiais. No sábado, o Jornal NH publicou matéria sobre o aumento do número de roubos a veículos em Novo Hamburgo. O número de casos em setembro (60 até sexta-feira) já supera todo o mês de agosto (56 casos).
Para Charles Antonio Kieling, professor do curso superior de Tecnologia em Segurança Pública da Feevale, a sensação de aumento na criminalidade está relacionada a várias razões, entre elas o número reduzido de policiais nas ruas. O Jornal NH foi ouvir de que forma a falta de segurança está mudando hábitos. São casos pontuais de alguns hamburguenses, mas com dramas compartilhados pela maioria dos moradores.
Onda de assaltos fecha postos durante as madrugadas
Um posto de combustíveis localizado na Avenidas 7 de Setembro, no bairro Ideal, decidiu fechar as portas do estabelecimento durante as madrugadas por conta da onda de assaltos que atingiu o estabelecimento. Conhecido pelos clientes por oferecer atendimento 24 horas, a direção da empresa mudou o horário de funcionamento depois dos dois últimos assaltos. De janeiro a agosto, o posto foi alvo de bandidos, em média, três vezes por mês.
Conforme o chefe de pista, Eliezer Alves da Silva, 28 anos, os clientes que estavam acostumados a completar o tanque no caminho do trabalho, antes das 6 horas, não acreditam que o posto esteja fechado neste horário.

“No penúltimo assalto, que aconteceu às 6 horas, o ‘guri’ chegou com uma arma e esfaqueou nosso funcionário porque não havia dinheiro. Depois, foi pra cima de um cliente, que se trancou no caminhão, e ficou batendo com a faca no vidro”, conta. O assaltante ainda tentou ferir um segundo frentista em quatro oportunidades. No último ataque, o criminoso chegou de carro e disparou com arma de fogo quatro vezes contra as pessoas que estavam no local. Por sorte, ninguém se feriu.

Ilson dos Santos, 30, que agora trabalha durante o dia porque o quarto turno foi extinto no posto, perdeu as contas de quantas vezes foi vítima de ladrões enquanto trabalhava. Segundo Santos, alguns assaltos foram tranquilos e outros muito agressivos. “Graças a Deus nunca fui agredido, mas a pressão psicológica foi grande. Tenho quatro filhos para criar e não está fácil para ninguém”, comenta.
Foto: Débora Ertel/GES-Especial Daniel de Oliveira, taxista há quatro anos, já pensou em abandonar a profissão
Foto: Débora Ertel/GES-Especial
Daniel de Oliveira, taxista há quatro anos, já pensou em abandonar a profissão

Agora, taxista só aceita pedidos por telefone

Daniel de Oliveira, taxista há quatro anos, trabalha no ponto da Estação Santo Afonso. Às vésperas do Natal do ano passado, recebeu um presente de grego. Foi rendido por dois homens que pediram para o motorista levá-los até São Leopoldo. “Era 23 de dezembro. Pedi que não fizessem nada comigo porque tenho família”, recorda.
É com medo que ele fica no ponto até a meia-noite quase todos os dias. Oliveira já pensou em desistir da profissão, mas acredita que não estará livre de ser vítima da criminalidade em outro emprego. Hoje, para se precaver, durante a noite ele seleciona os clientes e procura fazer apenas corrida de pessoas que solicitam o serviço por telefone.

Sem levar celular para escola

A industriária Erli Nunes, 38 anos, tem uma filha de 15 anos. Apesar de nunca ter sido vítima de assalto ou de outro tipo de crime, teme pela segurança da filha. “Eu não deixo mais ela levar o celular para o colégio para evitar de ficar andando na rua com o telefone na mão”, conta. Ela diz que vizinhos e um irmão tiveram os veículos roubados em plena luz do dia. Segundo Erli, ela evita caminhar sozinha pela rua. “Não tem como se sentir segura. Olha o que está acontecendo”, desabafa.

Foto: Débora Ertel/GES-Especial Usuários e profissionais de ônibus também enfrentam o medo de assaltos
Foto: Débora Ertel/GES-Especial
Usuários e profissionais de ônibus também enfrentam o medo de assaltos

Temor ronda quem trabalha em ônibus

O fiscal de tráfego Gerson Fucolo Aires, 42 anos, que já trabalhou como cobrador e motorista de ônibus, presenciou o colega ser assaltando enquanto estava no volante. Para ele, a insegurança neste ramo é grande, pois qualquer pessoa pode utilizar o transporte público. “E se corre o risco de qualquer passageiro ser o assaltante”, diz.
Já um cobrador de ônibus de 55 anos, que prefere não ser identificado por receio de sofrer represálias, morador do bairro Canudos, já foi assaltado quatro vezes. Uma, enquanto trabalhava, e outras três quando caminhava pela Rua Sapiranga, que dá acesso ao bairro Canudos. No ônibus, foi calçado por dois revólveres. Na rua, ele teve roubada uma bicicleta, relógio, dinheiro e celular. “A insegurança é total e está em todo o lugar, não só dentro do ônibus”, lamenta.