As aposentadorias nas organizações policiais, além das compulsórias por idade ou tempo de serviço, são incentivadas por pressões políticas e/ou administrativas, assédio moral, baixos salários, neste caso, com o agravante do atual parcelamento. De outra banda, em número significativo, os profissionais da segurança são atraídos pela iniciativa privada que, exatamente pelo enfraquecimento da máquina estatal, busca montar seus próprios dispositivos. Nesta busca, nada melhor do que contratar profissionais que, além da passagem pelas academias de Polícia Militar ou Civil, ostentam vasta bagagem de experiência. As empresas contratam profissionais prontos, treinados e formados pelo Estado tanto nas tarefas de campo como nos complexos de inteligência artificial. Como há, atualmente, a obrigatoriedade de curso superior para grande parte das funções policiais, também isso acelera a saída de profissionais para montar seus próprios escritórios ou consultórios. Os que ficam na ativa obrigam-se aos bicos, sempre com o risco de serem punidos, especialmente os de postos mais baixos. Neste jubilado, sigam-me.
Déficit
Os pedidos de aposentadoria na Polícia Civil e Brigada Militar, tema que tenho abordado como uma rotina, vez por outra acorda o governo sem que se livre do pesadelo. Neste ano, a média chega a seis aposentadorias por dia. Pelo menos 308 policiais civis se aposentaram de janeiro até agosto. A Polícia Civil está com um déficit de quatro mil profissionais. Na Brigada Militar se aposentaram 1.239 servidores desde janeiro. Hoje, o efetivo brigadiano é de 20.542 profissionais, o mesmo de 1975. Trata-se de um policial para cerca de 540 habitantes. A ONU recomenda um para cada 250. Para um trabalho aceitável, a Brigada precisaria de 37 mil brigadianos. Isto mostra, simplesmente, que a segurança pública, há décadas, está longe de ser prioridade dos governos que tentam com estatísticas maquiadas, com mutirões eventuais, com os antigos e engomados desfiles de tropas e com discursos escorregadios desafiar a inteligência da sociedade.
JORNAL O SUL