Em meio à incerteza sobre o pagamento em dia dos salários do Executivo em novembro, o governador José Ivo Sartori disse nesta quinta-feira (26) que os servidores “devem dar graças a Deus que têm estabilidade”. A declaração ocorreu durante solenidade no Palácio Piratini para assinatura de contratos de financiamento de energia renovável junto ao BRDE.
Ao fazer um pronunciamento sobre as dificuldades financeiras e os índices de desemprego, Sartori fez referência ao que teria dito a um grupo de servidores do Estado nesta manhã:
“Ainda hoje numa reunião com os servidores eu disse: ‘vocês às vezes reclamam porque têm penalização, às vezes parcelou salário, às vezes não receberam em dia. Deem graças a Deus que vocês têm estabilidade, que têm garantia no trabalho. Agora os outros que estão perdendo o emprego e não têm oportunidade, o que nós estamos fazendo aqui? É tentar movimentar a economia, dar oportunidade de ter mais trabalho e mais renda porque, afinal, o poder público também tem que se mudar’”, disse.
Nesta semana, o Piratini conseguiu que fosse aprovado na Assembleia Legislativa o adiantamento de R$ 302 milhões de débitos da GM para pagar a folha do funcionalismo na próxima segunda-feira (30). Apesar disso, até agora não houve confirmação de que os salários serão pagos na íntegra.
Servidores se indignam com declaração de Sartori sobre estabilidade
Enquanto falava das dificuldades do Estado garantir salários em dia e na íntegra, governador afirmou que funcionários públicos deveriam “dar graças a Deus por terem estabilidade”
A polêmica declaração do governador José Ivo Sartori, de que os servidores deveriam “dar graças a Deus” por terem estabilidade, é rebatida por lideranças sindicais do funcionalismo público em tom de indignação. A frase de Sartori veio em meio a um discurso em que falava das dificuldades do Estado em garantir os salários em dia e na íntegra.
Leia o que disseram presidentes de sindicatos sobre a declaração do governador:
Helenir Aguiar Schürer, presidente do Cpers
“Ele só reforça aquela caracterização que temos do governo: para fora, ele fala de diálogo e compreensão, mas está sempre produzindo conflitos interno. Foi uma frase desrespeitosa. É um governo que veio para terminar serviço público, acabar com o Estado. Somos efetivos e isso é uma pedra no caminho para quem quer implementar uma politica neoliberal total”.
Sérgio Arnoud, presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Fessergs)
“Nós daríamos graças a Deus se todos os trabalhadores tivessem estabilidade, mas entendemos que estabilidade não é um privilégio, mas uma conquista muito cara. É o que faz com que os trabalhadores não sejam jogados no olho da rua na primeira ameaça de crise. Essa fala do governador reflete a postura política do governo: de cortar gastos a qualquer custo e não ir buscar novos recursos. Ele deveria é estar abordando o aumento no número de crimes divulgadas nesta manhã, reflexo da política adotada pelo governo do Estado”
Leonel Lucas, presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Brigada (Abamf)
“Que barbaridade. Se não houvesse estabilidade estaríamos na rua? Não prestamos para o serviço público?”
Isaac Ortiz, presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores, e Investigadores de Polícia Civil (Ugeirm)
“É um desastre essa frase. É típico de quem não conhece a importância do serviço público. Ele não conhece o trabalho da polícia, por exemplo. Não sabe que a gente arrisca a vida, não sabe que muitos perdem a vida no serviço. Fala como se a estabilidade fosse um favor. A gente lamenta que uma declaração dessas tenha vindo de uma pessoa que há tanto tempo depende do serviço público, porque ele é um aposentado da Assembleia e se aposentará como govenador. Ele tbm é um servidor público”.
Nesta semana, o Piratini conseguiu que fosse aprovado na Assembleia Legislativa o adiantamento de R$ 302 milhões de débitos da GM para pagar a folha do funcionalismo na próxima segunda-feira. Apesar disso, até agora não houve confirmação de que os salários serão pagos na íntegra.
* Rádio Gaúcha