JORNAL O SUL: Brigada em Cena

IMAGEM ILUSTRATIVA
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Wanderley Soares

A voracidade do tempo contrasta com a morosidade, quase lerdice, dos movimentos dos cérebros que monitoram a política da segurança pública no que diz respeito à tomada de decisões que não sejam meramente eventuais, como as que levam o carimbo de “reforço”. Dentro de algumas horas teremos “reforço” para a chamada “Operação Papai Noel”, o mesmo ocorrendo para a “Operação Golfinho”, da Brigada Militar, e “Verão”, da Polícia Civil. “Reforço” sem aumentar um só profissional nas organizações policiais. Pelo contrário, a defasagem acontece em forma de cascata com as aposentadorias que são acompanhadas de cedências nunca bem explicadas, desvios de funções, viagens mágicas, palestras esotéricas até mesmo em japonês, alegóricas trocas de comando, tudo com comunicação sofrível, pouca gasolina, sem gente, sem horas extras, jeitinhos para gratificar quem ganha mais e de acrescentar tarefas para quem ganha menos. Em meio a tudo isso, para que não digam que não abro espaço para talentos, neste domingo aponto que atores da família brigadiana estão bombando com o Grupo Teatral Brigada em Cena.

Decisões oficiais

Quatro tenentes e 49 sargentos alcançaram a aposentadoria.


JORNAL O SUL

RELEMBRANDO

Segurança pública08/01/2015 | 07h06

Redução de horas extras vai diminuir número de policiais nas ruas

Brigada Militar terá uma redução de 40% no total de horas extras dos PMs

A série de cortes de despesas anunciada pelo governo atingiu a área da Segurança Pública. No final da tarde de ontem, a Secretaria da Fazenda, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou que a Brigada Militar terá uma redução de 40% no total de horas extras dos PMs. Com defasagem de pelo menos 16 mil servidores, a Brigada vinha concedendo a policiais militares a possibilidade de trabalhar até 42 horas a mais por mês. Com a nova medida, é praticamente inevitável não haver redução de PMs nas ruas.

— Com certeza, o prejuízo da população será muito grande. A maioria dos policiais faz horas extras, eu diria que uns 80%. Se cortarem, vai ficar muito visível nas ruas — analisa o presidente da Associação dos Cabos e Soldados, a Associação Beneficente Antônio Mendes Filho da Brigada Militar (Abamf), Leonel Lucas.

Durante o dia, a Brigada Militar negou a redução, embora todos os indícios apontassem que ela seria inevitável. Pelas mídias sociais, vazou um documento de um batalhão da Capital no qual o comando comunicava aos soldados que as horas extras estariam vetadas. O texto foi tratado como “precipitado” pela corporação, que deverá abrir um procedimento administrativo para localizar o autor.

— Não vai haver qualquer alteração, trata-se da segurança pública. As horas extras aos policiais serão mantidas, não tem qualquer mudança — sentenciou, por volta das 15h, o responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC), coronel João Godoi.

O corte nas horas extras, porém, foi confirmado no final da tarde de ontem, após uma reunião entre o secretário da Fazenda, Giovani Feltes, e o titular da Secretaria da Segurança Pública, Wantuir Jacini. No encontro, estiveram também o chefe da Polícia, Guilherme Wondracek, e o comandante da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas. A ideia é enxugar o máximo possível o caixa do governo, nem que para isso tenha de ser atingida uma área considerada prioritária e prejudicar a já combalida Brigada Militar.

De acordo com a Fazenda, nos próximos dias, técnicos do Tesouro e membros da Segurança Pública vão se reunir para discutir o que o governo chama de “possibilidade de flexibilização” nas horas extras.

Territórios da Paz sofrerão mais

Para reduzir as horas extras, o governo tomará como base os números do primeiro semestre do ano passado. Em março e abril, cada um dos seis batalhões recebeu autorização para ceder 1,5 mil horas extras a seus policiais, mais 4 mil horas para os soldados que quisessem atuar nos Territórios de Paz de seus batalhões (Lomba do Pinheiro, Restinga, Rubem Berta e Santa Tereza). Em janeiro e fevereiro (Operação Verão) e maio e junho (Copa do Mundo), as quantidades foram aumentadas: 2 mil horas nos locais comuns e 5 mil horas nos territórios.

Dessa forma, em média, foram cedidas 1,8 mil horas extras por mês a cada batalhão — mais 4,6 mil para os quatro batalhões onde há Território da Paz (1º, 19º, 20º e 21º BPMs). Esses quartéis terão agora de trabalhar com pouco menos de 1,1 mil horas extras. E, nos territórios, o limite passará a ser de 2,76 mil.

Como cada soldado cumpre uma carga horária de 171 horas por mês, a redução corresponde a retirar do patrulhamento diário cerca de quatro policiais de cada batalhão. Já nos territórios, cuja descontinuidade é analisada pelo atual governo, a situação é bem mais drástica: seria como retirar, todos os dias, 16 brigadianos das ruas.

Economia de R$ 500 mil na Capital

De acordo com a Abamf, pelo menos 80% dos policiais militares que fazem horas extras são soldados e sargentos, que recebem, por cada uma, respectivamente, R$ 17 e R$ 25. Há ainda tenentes (R$ 35) e capitães (R$ 45) designados, além de oficiais de patente mais alta, cujos valores dependem de tempo de serviço. Com isso, o atual governo deve economizar em torno de R$ 500 mil mensais com a medida apenas na Capital — a Brigada não divulgou dados sobre o Interior e a Região Metropolitana, que seguirão o mesmo critério de redução de horas.

— Não quer dizer que a Brigada vai parar, mas vai haver redução em operações pontuais objetivas, como ações. A ideia é suplementar as horas, caso haja necessidade. Por exemplo, se chegar no dia 25 do mês, e tem mais atividades a serem feitas, a gente espera que o governo nos conceda mais cotas de horas extras — afirmou durante a noite desta quarta-feira o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas.

— Teremos de administrar muito bem essa questão das horas. Nossa preocupação é que os batalhões possam não dar conta, talvez tenham dificuldade para manter a qualidade do serviço. Mas esperamos que haja flexibilidade, em caso de necessidade — continuou.

Na reunião desta quarta, ficou definida ainda a diminuição das diárias da Operação Verão Numa Boa, a antiga Operação Golfinho, na qual há reforço de policiamento no Litoral. Até a primeira quinzena de março, o orçamento previa gastos de R$ 27,1 milhões com diárias dos policiais. Mas o governo anunciou redução de 25% da verba, que será de R$ 20,3 milhões.

DIÁRIO GAÚCHO