JORNAL O SUL: Uma pergunta ao pé do ouvido: – Já incorporaste?

17516038Wanderley Soares

A hierarquia, aponto eu, como um humilde marquês, aqui da minha torre, é o primeiro quando não o apanágio maior daqueles que defendem a não desmilitarização das polícias militares estaduais. No conteúdo e desenvolvimento desta hierarquia, que é vertical, sem as nuances republicanas dos organismos civis, está, entre outras coisas, não só a unificação plástica das continências e a sonora das batidas de calcanhares, como o rigoroso cumprimento da lei, doa em quem doer. Jeitinho aqui e ali, nem pensar. Pois nesta moldura, diante da crise pregada à exaustão pelo governador José Ivo Sartori, era de se esperar que na Brigada Militar não houvesse apenas a redução de seu efetivo, o congelamento de salários, o corte de horas extras e diárias, a economia de combustível, mas também a confirmação de que milico não admite jeitinhos. Sem temer decepções, sigam-me.

Castas

Quando nos escalões militares elevados, mais do que direitos são distribuídos privilégios que atingem, inevitavelmente, poucos entre muitos, começam a se desenhar as castas. E as castas tendem a enfraquecer comandos, pois desmoralizam a hierarquia que, nos dias de hoje, está claramente abalada nas políciais militares. A partir disso, atento para a edição do DOE (Diário Oficial do Estado) de 27 de abril último, que registrou a nomeação para funções de diretores de departamento na SSP (Secretaria da Segurança Pública) os tenentes-coronéis Haroldo Édison Knebel e Andreis Silvio Dal Lago, posição que corresponde a uma gratificação de representação de 75 por cento. No entanto, Knebel exerce o comando do CRPO (Comando Regional de Polícia Ostensiva) do Vale do Sinos e Dal Lago é chefe do Estado Maior da Brigada Militar. Ao se completar um ano do recebimento de tal gratificação, ela será incorporada ao soldo dos oficiais, o que possibilita uma gorda aposentadoria, bem diferenciada dos demais oficiais que não conseguiram o benefício de tal expediente. A menos que a decisão publicada no DOE de 27 de abril seja revogada, os oficiais continuarão a receber por funções que não exercem. Há outros oficiais nesta casta, mas por hoje não tenho mais espaço.

Pergunta estranha

Nos bastidores da Brigada Militar, a questão da distribuição de funções gratificadas que beneficia aos mais próximos do rei, há uma estranha pergunta que está sendo repetida ao pé do ouvido entre um grupo seleto, mas cujos fluídos terminam por escoar e ecoar para toda a família brigadiana: – Já incorporaste?

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