Oscar Bessi : O senhor é que deve dar graças a Deus por ainda ter servidores, Governador!

TGFIncrível ouvir, de um gestor de recursos humanos – a princípio o é, ou deveria ser – como o Governador do Estado, o que foi dito hoje pela manhã  a um grupo de servidores do Estado. Defendendo-se do cruel parcelamento salarial, que endivida e coloca em desespero os que ganham pouco – e que são a esmagadora maioria do funcionalismo, como os professores e as categorias de base da segurança pública -, disse que os servidores públicos “Devem dar graças a Deus que têm estabilidade”.

Como é que é?

Com todo o respeito que a sua posição merece (é que nós também merecemos respeito, cá no andar de baixo), mas desde o episódio “piso no Tumeleiro”, o Governador Sartori tem demonstrado uma infelicidade ímpar em suas declarações. Que gosto para brincadeiras sem graça! Que falta de consideração com categorias essenciais ao andar de uma sociedade.

Graças a Deus, Governador, é o senhor que deve dizer, pois os serviços públicos não pararam, e a máquina estatal funciona, mesmo com o sucateamento de um estado rico que, na hora de estrangular e sacrificar, tem administradores que voltam suas garras aos que não têm poder de barganha, além de sua dedicação de uma vida – e dedicação muito mal paga – a prestar atendimento a este povo.

Graças e Deus, Governador, é o senhor que deve dizer, pois ainda tem professores nas escolas, ainda tem policiais nas ruas, ainda tem profissionais de saúde salvando vidas, e as remunerações de todas estas e tantas categorias são esmolas perto de outros, muito bem refestelados no Poder – e que, ainda ontem, se concederam um belo e substantivo aumento, na contramão nos pífios índices aqui ou lá concedidos ao funcionalismo (quando concedidos!), que mal repõem a inflação real.

Graças a Deus, Governador, é o senhor que deve dizer por tem um povo ainda pacífico, embora já irritadíssimo com tudo o que está acontecendo, e que não vai para as situações de extremismo que outros povos no mundo adotam, quando a paciência com o desrespeito, junto com o sufocar sob as botas da intolerância alheia, extrapola qualquer limite humano.

Graças a Deus, Governador, é o senhor que deve dizer por não ver o povo parando tudo ao seu redor e exigindo a sua saída imediata.

Graças e Deus, Governador, é o que dizemos nós, quando pensamos que, neste mundo acelerado e impaciente de hoje, o tempo corre. E – Graças a Deus! – três anos passam rápido.

CORREIO DO POVO