Em 12 dias, cinco ataques a bancos são registrados na Serra

A Brigada Militar fez buscas pela região Foto: Cristiane Barcelos/ Agência RBS
A Brigada Militar fez buscas pela região
Foto: Cristiane Barcelos/ Agência RBS

Último caso foi em Nova Pádua

Os cinco ataques a bancos em menos de duas semanas voltam a colocar em xeque a fragilidade do policiamento nas ruas. Nesta segunda, por volta das 11h30min, três homens quebraram os vidros do Banco do Brasil de Nova Pádua com uma marreta, levaram dinheiro dos caixas e usaram reféns para um cordão humano. Três ações semelhantes foram registradas no último dia 8 emEsmeralda e em Otávio Rocha, distrito de Flores da Cunha, quando três agências foram assaltadas simultaneamente. No dia 7, ladrões já haviam arrombado o Banco do Brasil, também em Esmeralda, para roubar armas e coletes balísticos.

Esse é o janeiro mais violento no segmento bancário da Serra desde 2007, com mais casos em relação a anos anteriores. De acordo com o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, que controla ações desse tipo no Estado, não houve roubos com reféns na Serra em janeiro nos últimos dois anos.  no mês de janeiro. Em 2015, quatro explosões de caixas eletrônicos foram contabilizados no primeiro mês do ano. Em 2014, apenas um.

Ainda que as autoridades policiais não admitam a relação entre o baixo efetivo e os ataques, Esmeralda só tinha um PM de plantão, que foi orientado a nem sair do posto porque seria quase inútil enfrentar criminosos em maior número e com equipamento superior. Otávio Rocha e Nova Pádua não tinham policiais.

Nesta última, aliás, a prefeitura repassa, mensalmente, R$ 2 mil à BM para o auxílio moradia de soldados que sequer residem na cidade. Desde a metade do ano passado,  o comando do 36º Batalhão de Polícia Militar integrou as equipes de Flores da Cunha e Nova Pádua. Com isso, os quatro policiais lotados em Nova Pádua (dois deles moravam na cidade) passaram a atuar também em Flores. Por conta disso, os dois policiais preferiram mudar-se para a cidade vizinha.

—Continuamos repassando essa verba para que não digam que falta auxílio, que a segurança não é uma preocupação. Respeitamos a decisão do comando, mas com a falta de efetivo e com os cortes de horas extras, estamos à mercê do crime, na torcida para que não aconteça nada. É um problema sério e sem perspectiva de solução. Antes, tínhamos a referência de, em determinado horário, saber que havia policiais na cidade — avalia o prefeito municipal, Itamar Bernardi.

A justificativa do comando da BM responsável por Flores e Nova Pádua, é a de que, com mais policiais, são organizadas patrulhas nas duas cidades 24 horas por dia, alternando rondas e sem horários fixos, o que era impossível sem a unificação de equipes. Em dezembro, uma agência do Sicredi, em Nova Pádua, havia sido arrombada de madrugada, mas os criminosos não conseguiram acessar o cofre.

—  Estamos tentando gerenciar os recursos humanos da melhor forma possível na execução do policiamento. Não dá para trabalhar de forma isolada. Unir as equipes é uma resposta técnica, é uma questão de matemática: ter policiamento 24 horas por dia. Foi a melhor solução para cobrir todas essas horas e fazer rondas nas duas cidades — alega o comandante do 36º BPM, responsável pela região de Flores da Cunha, Luiz Fernando Becker.

Quadrilha pode ser a mesma

Uma das hipóteses investigadas pela Delegacia de Roubos do Departamento Especial de Investigações Criminais (Deic) é de que o assalto em Nova Pádua tenha ligação a um dos outros roubos a banco que ocorreram em Esmeralda e Flores da Cunha.

—  Acho difícil, apesar de todas as possibilidades serem analisadas, que uma mesma quadrilha tenha feito assaltos simultâneos em bancos de Esmeralda e Flores da Cunha, apesar do modo de operação ser parecido. É algo pouco comum pela articulação que exige. Se admitirmos a existência de dois bandos, é bem provável que um deles tenha praticado o assalto em Nova Pádua — acredita o delegado Joel Wagner.

A investigação tenta estabelecer se os crimes estão relacionados com alguma progressão de regime prisional de criminosos especializados em assaltos a bancos ou até com a formação de uma quadrilha na Serra. O fato é que as ações são planejadas para evitar o confronto e garantir a fuga.

— O fato de usarem escudo humano e pegarem dinheiro só dos caixas, evitando o acesso a cofres, ação mais demorada, indica que os assaltantes querem pegar o que der apesar de ser um valor menor, para garantir a fuga. Os assaltantes não agem às cegas. Há todo um planejamento, um conhecimento do local, e até o uso de informações privilegiadas. Nas cidades menores, se aproveitam da inexistência ou do baixo número de policiais — continua Wagner.

Conforme a polícia, o dinheiro roubado abastece a própria quadrilha, que investe na compra de armamento e na articulação das próximas ações, e também os próprios integrantes. Como uma organização, cada criminosos tem uma tarefa e recebe de acordo com a importância dela.

O coordenador da Secretaria de Organização e Política Sindical do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e Região, Nelso Bebber, lembra que os ataques estão mais ousados. Ou seja, os criminosos não estão mais se contentando em explodir caixas eletrônicos durante a madrugada como vinha sendo tendência nos últimos tempos. Agora, voltaram a agir com força durante o dia e usando reféns:

—  A lei que rege a segurança nos bancos é de 1987, portanto, muito velha. Isso precisa mudar. Também cobramos constantemente melhorias nos bancos. Hoje, é preciso investir em câmeras e vidros blindados. O bancário já sofre com o stress diário e ainda se preocupa com a própria segurança — diz Bebber.

ZERO HORA