MÃES POLICIAIS: Elas se dividem entre a família e o policiamento

MAE1Uma é brigadiana e a outra é policial civil. Muitasvezes, as duas precisam agir como mães em ocorrências

É em meio aos filhos que as mulheres da segurança pública recuperam suas esperanças e amenizam as dores de um mundo cheio de cicatrizes e mazelas. Neste Dia das Mães, o Correio do Povo lança um olhar sobre duas mães que lidam diariamente com a dura realidade da violência e, ao mesmo tempo, têm que repassar aos filhos noções de humanidade. A disciplina, a paixão pela carreira, a luta contra o que é mau são algumas das características exigidas pelo trabalho que ajudaram essas mulheres a educarem seus filhos. Por outro lado, estes lhes dão a força necessária para seguirem sempre em frente. Da terceira turma de mulheres da Brigada Militar, a sargento Viviane do Nascimento do Santos, de 45 anos, ingressou na corporação em 1990, seguindo os passos do pai. Natural de Santa Maria, Viviane estava havia três anos na Capital quando engravidou do primeiro filho, Eduardo, hoje com 22 anos. Era o começo de uma etapa “complicada”, conforme ela definiu. “Na época, trabalhava no Ciosp e tinha que cumprir as escalas, inclusive de madrugada. Foi uma correria”, lembra. “Depois fui para o Pelotão de Choque (hoje, POE), e aí ficou ainda mais complicado. Só tinha horário para entrar, mas não para sair”. Apesar dos desafios, veio o segundo filho, Guilherme, hoje com 12 anos. De um segundo relacionamento, nasceu Caroline, de 4 anos. A sensibilidade adquirida com a maternidade e a firmeza exigida pelo trabalho moldaram a personalidade de Viviane. “Na hora de atender uma ocorrência, tu tens que ser imparcial. Já passei por momentos marcantes. Um dia, tive que dar a notícia do estupro de uma criança para a sua família. Me vi numa situação que eu não conseguia falar. Parecia que era eu quem estava recebendo a notícia”, conta a sargento. Olhando para o passado, ela diz que aprendeu a ser forte. “Me sinto uma guerreira. Tudo veio para somar e as minhas crianças sempre me inspiraram a vencer as batalhas”, diz. “A nossa realidade é cruel e sempre esclareci tudo para meus filhos. Não poderia criá-los numa redoma de vidro. Já que não posso protegê-los 24 horas por dia, me cabe orientá-los”, afirma.

MAE2‘Ele ia para a DP comigo’

O juiz de Direito do Tribunal de Justiça de São Paulo Udo Wolff Dick Appolo do Amaral, de 30 anos, cresceu sob os olhos vigilantes da comissária de Polícia Ellen Dick, de 55 anos. “Respeito o espaço do meu filho, mas sempre vou querer saber com quem ele está”. Ellen, que hoje atua no Deic, tinha 25 anos quando Udo nasceu. Estava havia três anos na Polícia Civil e faltava um semestre para a formatura no curso de Direito. “Para conseguir terminar as aulas, o levava para a faculdade para amamentá-lo. Foi tudo muito novo para mim, mas nossa relação sempre foi de muito amor”. Muitas vezes, nas tarefas nas delegacias, Udo esteve “extraoficialmente” ao lado da mãe. “Nunca quis deixar ele com alguém que não fosse da família. Muitas vezes, a única alternativa era levá-lo junto”. Houve uma vez que Udo teve participação especial. “O delegado pediu que ele participasse da reconstituição de um crime, pois precisávamos de uma criança na cena. Ele era um ‘toquinho’ na época”, conta Ellen, divertindo-se com a lembrança. “Os policiais trabalham muito e os filhos ficam carentes. Eu sempre quis estar perto de Udo”. Ao conciliar carreira e maternidade, a comissária conta que priorizou a orientação do filho. “O criei mostrando a realidade. Falava das histórias com o linguajar adequado para uma criança. Usei minha bagagem profissional para atuar como mãe”. Há 17 anos, Ellen teve a oportunidade de receber em sua casa a sobrinha recém-nascida, Júlya. “A trato como uma filha.”

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