Polícias rodoviárias estaduais não conseguem a atender a todos os acidentes na Serra

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Em alguns casos, os patrulheiros chegam a sair sozinhos para atender a ocorrências, o que não é considerado seguro Foto: Felipe Nyland / Agencia RBS
Em alguns casos, os patrulheiros chegam a sair sozinhos para atender a ocorrências, o que não é considerado seguro
Foto: Felipe Nyland / Agencia RBS

Com baixo efetivo, os poucos policiais em atuação se desdobram para atender ocorrências

Por: Cristiane Barcelos

O perigo causado pela má conservação das estradas da Serra tem mais um ingrediente: o baixo efetivo de policiais para atender a acidentes e patrulhar as rodovias estaduais, fruto da conhecida crise financeira enfrentada pelo Rio Grande do Sul. Motoristas que se envolveram em colisões e felizmente não se machucaram enfrentam muita dificuldade para registrar a ocorrência, isso quando conseguem fazê-lo. Os grupos rodoviários da Serra fazem uma verdadeira ginástica para manter o serviço em dia. Na área federal, a situação é mais tranquila.

Os grupos rodoviários não estão autorizados a divulgar o efetivo, mas a reportagem apurou que a situação é dramática. Patrulheiros fazem o que podem: chegam até a sair sozinhos na viatura para atender a um acidente, situação considerada arriscada porque o policial precisa, além de registrar o caso, orientar o trânsito no local.

Em Gramado, cerca de cinco policiais rodoviários ao mês são responsáveis por atender a mais de 500 quilômetros de rodovias. O número de profissionais pode se aproximar de 10, ainda longe do ideal, mas há casos de férias e outros afastamentos. Em Farroupilha, os poucos policiais atendem a 480 quilômetros de estradas. As perigosas RSC-453 e ERS-122 estão entre as atendidas por esses grupos.

Em Bento Gonçalves a situação também é complicada, embora tenha sido amenizada desde que a BR-470 foi federalizada, em abril do ano passado, deixando de ser atendida pelos policiais estaduais. Mesmo assim, Bento ainda atende a mais de 100 quilômetros de estradas com poucos policiais.

Outro agravante é a distribuição geográfica das estradas a que cada núcleo é responsável. Farroupilha, por exemplo, atende a 140 quilômetros da ERS-122, até Campestre da Serra, distante cerca de duas horas.Patrulheiros trabalham no limite. Em dias com mais de um acidente ao mesmo tempo, a alternativa é atender àquele com feridos.

— O tempo que demoramos para atender é relativo, depende se tem ferido, se está chovendo, se foi um caminhão que tombou… Nós corremos risco de vida atendendo sozinhos — diz um policial rodoviário que preferiu não se identificar.

O que fazer
:: Os grupos rodoviários orientam a ligar para o 198 e aguardar até que o acidente seja atendido.

:: Se a pessoa não puder esperar, uma alternativa é registrar na Polícia Civil. Para acidentes sem feridos, é possível fazê-lo pela internet pelo endereço encurtado http://pioneiro.co/registroacidentes. Se alguém se feriu, mesmo que de forma leve, o registro deve ser feito pessoalmente.

:: As seguradoras orientam a tirar fotos, fazer vídeos e colher testemunhas.

:: Para acidentes em estradas estaduais (RSCs e ERSs) o telefone é 198. Para as federais (BRs), o número é 191.

Sem previsão de mais policiais

O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) reconhece que o efetivo é baixo, mas lembra que a contratação de novos profissionais ou a realização de concursos depende de dinheiro do Estado. Segundo o comandante do CRBM, tenente-coronel Francisco Vargas, não há previsão exata, mas a expectativa é de contar com mais profissionais no segundo semestre ou no ano que vem.Vargas acrescenta que todos os grupos rodoviários podem acionar outros núcleos caso não tenham condições de atender. Quanto ao fato de os grupos atenderem a pontos muito distantes, Vargas explica que isso ocorre por falta de um batalhão em determinadas regiões.

— Temos previsão de instalar um pelotão em Tainhas, e quando isso acontecer, toda aquela região vai ser atendida por lá — exemplifica.

Para o tenente-coronel, a situação de Farroupilha é uma das mais complicadas. Ele lembra que a ERS-122 é uma das com maior acidentalidade no Estado:

— É um grupo que trabalha muito, é o nosso grupo mais pesado.

Vargas pondera que o serviço costuma demorar em função do alto número de detalhes. Se há feridos, a primeira providência é socorrer as vítimas. Depois é preciso fazer levantamento do local e da documentação, além de providenciar remoção dos veículos. O comandante reconhece, ainda, que há casos em que patrulheiros saem sozinhos para ocorrências:
— Não é o ideal, mas é o que podemos fazer.

O CRBM não divulga o efetivo disponível.

Sem registro após longa espera

Mesmo depois de esperar quase duas horas, Tairo Piroli, 28 anos, não conseguiu registrar um acidente com danos materiais. Ele se envolveu em um engavetamento no dia 5 de maio na ERS-122, em Farroupilha, em que ninguém ficou ferido. Ele conta que aguardava em um retorno para seguir em direção a Caxias do Sul quando a sua Montana foi atingida na traseira por um Gol, por volta de 17h30min.

Com o impacto, o carro de Piroli bateu em um Clio que estava parado à frente, também esperando para retornar. Para piorar a situação, havia a suspeita de que o motorista que causou o acidente estivesse alcoolizado.

_ Liguei no 198 e mandaram aguardar porque estavam atendendo outro acidente. Revolta muito. Nós pagamos impostos, taxas, e quando realmente precisamos, não somos atendidos — relata Piroli.
Por volta de 19h30min, os envolvidos desistiram de esperar e foram embora. Piroli pretende registrar o acidente na delegacia de Trânsito.

ZERO HORA