JUSBRASIL: O menino de 10 anos

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impunidade1465146782(*) Humberto Gouvêa Figueiredo

Aquele menino de 10 anos não tinha um nome, era uma criança abandonada no mundo… Mas passou a ser chamado, conhecido e reconhecido pelo nome e sobrenome: Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira.

Aqueles menino de 10 anos também não tinha uma Mãe presente, aliás, ele fora criado pela avó, pois sua genitora nunca tinha de fato exercido seu papel: já tinha inclusive sido presa e cumprido pena. Mas agora, de uma hora para outra, Cintia Ferreira Francelino se transformou na “Super Mãe”, aquela que sabe detalhes imperceptíveis da vida de um filho… Já pode até dar aulas de “maternidade responsável”!

Aquele menino de 10 anos não tinha quem olhava pelos seus direitos: já tinha praticado várias condutas antissociais, já tinha sido recolhido a abrigos e fugido, não estava na escola, estava desprotegido e, literalmente, “jogado no mundo”: mas também, como num passe de mágica, ganhou defensores, advogados, membros de Conselhos que dizem defender direitos, autoridades públicas, políticos e mais um tanto de gente que se aproveita dos holofotes, não para falar de pessoas, mas para “levantar bandeiras”, para defender ideologias.

Aquele menino de 10 anos não tinha culpados para justificar o caos que era sua vida e a invisibilidade perante a sociedade: mas, nos poucos minutos que durou a perseguição, a troca de tiros e sua morte em confronto com a Polícia, ele conseguiu o que lhe faltava. Serão os policiais militares que atuaram na ocorrência que serão (já estão sendo) os responsáveis por Ítalo ter a sua história concluída de forma tão trágica.

Não foram os policiais militares que trouxeram Ítalo ao mundo, nem o abandonaram à própria sorte; também não foram os responsáveis por ele não estar na Escola, nem por inseri-lo no mundo do crime: a culpa dos PM é a de fazerem parte do braço do Estado que mais tangência e interage com o situação de falência e degradação em que se encontra a sociedade brasileira.

Será esta mais uma oportunidade para, simplisticamente, acusar a Polícia Militar, ofender todos os seus integrantes e, gananciosamente, brigar na Justiça por uma indenização milionária.

Até que venham outros Ítalos…

(*) é coronel da Polícia Militar e comandante do policiamento na região de Ribeirão Preto

Temístocles Telmo Ferreira Araújo

Temístocles Telmo Ferreira Araújo

@profelmo

Doutor, Mestre e Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Especialista em Direito Penal. Professor de Direito Penal e Prática Jurídica Penal. É Tenente Coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo – Atual Chefe do Estado Maior do Comando de Policiamento Rodoviário