Presidente confirmou ter participado de uma reunião com executivo da Odebrecht, mas negou que tivesse discutido valores de caixa 2
O presidente Michel Temer afirmou neste sábado, em entrevista a TV Bandeirantes, que achou “constrangedor” e “desagradável” ter seu nome citado na delação do ex-presidente da Odebrecht Márcio Faria da Silva. O executivo disse, em colaboração premiada à Operação Lava-Jato, que em uma reunião com Temer foi combinada uma doação por meio de caixa 2 para o PMDB, no valor de US$ 40 milhões.
O presidente afirmou ter participado de uma reunião com o executivo, mas negou que houvesse discutido valores. Ele alegou que naquela época as doações de empresas a partidos políticos eram permitidas pela lei.
– Não sabia de valores. Não se falou de contratos, evidentemente, e de nenhum tema escuso. Não tratamos de valores, nada disso – disse o presidente: – É uma coisa desagradável para quem está na vida pública há tanto tempo, graças a Deus sem manchas. É muito desagradável ouvir aquele depoimento. É constrangedor.
Temer contou que foi Eduardo Cunha quem agendou a reunião com Silva e disse que o executivo da Odebrecht queria apenas conhecê-lo. Em seu depoimento à Procuradoria Geral da República, o delator disse ter ficado “constrangido” com a forma aberta como foram tratados os pagamentos de propinas. Temer relatou que Cunha teria dito que Silva queria apenas “apertar a mão” do presidente:
– O deputado Eduardo Cunha me disse na época “olhe, há uma pessoa aí que quer colaborar, quer contribuir para o partido, mas ele quer pegar na sua mão. Quer cumprimentá-lo.” Aí ajustamos um dia que eu estava em São Paulo – contou Temer, lembrando que foi presidente do PMDB por 15 anos e presidente da Câmara, e que em sua vida teve contato com diversos empresários: – Quando se chegava na época da eleição, não era incomum que aquele que ia colaborar com o partido, depositar oficialmente as importâncias, quisessem cumprimentar o presidente do partido foi o que aconteceu.
Questionado se, diante da abertura de inquéritos contra oito de seus ministros, mudaria a “linha de corte” que havia estabelecido, de só pedir exoneração após o oferecimento de denúncia, Temer disse que sim. Mas ponderou que, eventualmente, um ministro pode pedir exoneração “se se sentir confortável”.
Sobre o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, Temer justificou que ocorreu pelo fato do PT não ter votado a favor de Cunha no processo que ele era alvo no Conselho de Ética.
– Se o PT tivesse votado nele naquela comissão de ética, era muito provável que a senhora presidente continuasse. E quando conto isso é para contar, primeiro, que ele não fez o impedimento por minha causa. Segundo: jamais militei para derrubar a presidente, como muitas vezes se diz – afirmou o presidente.
Temer disse ainda que, em função de seus baixos índices de popularidade, governa sustentado no apoio que tem no Congresso Nacional.
– Eu governo ancorado e apoiado pelo Congresso. Eu não tenho um índice elevado. Um índice pequeno. O grande apoio que eu tenho é do Congresso Nacional – disse.
*Com Estadão Conteúdo