Polícia Militar versus “fake news”, entenda
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Com uma frequência assustadora, somos expostos a notícias que distorcem as ações da nossa Polícia. E se você fosse o jornalista responsável por informar a sociedade, como escreveria os seus textos?
Você acaba de mudar de profissão, agora é um jornalista. Seu primeiro trabalho é escrever duas matérias sobre criminosos que atacaram a Polícia Militar. Você deve apurar os fatos, produzir seus textos e criar títulos que descrevam com precisão os conteúdos que você redigiu. Simples né?
Nem tanto. Por algum motivo ideológico, ou por pura estupidez, alguns títulos são feitos para atacar a Polícia Militar, causando o perverso e irresponsável efeito de manipular a percepção da realidade.
Abaixo você irá ler duas curtas descrições de ocorrências Policiais reais. Na sequencia verá a proposta de dois títulos, escolha um deles para ilustrar a sua matéria. Você não vai acreditar no que vai ler, mas é 100% verdadeiro.
Primeira ocorrência real – Vila Carrão, São Paulo, 25 de junho 2017
Neste domingo a Policia Militar recebeu uma denuncia, pelo 190, sobre um possível distúrbio de sossego. No local a PM identificou um homem e pediu para ele diminuir o som do seu carro. O individuo partiu para agredir os Policiais, foi preso e levado para uma delegacia. Lá ele foi algemado a uma barra de ferro presa numa parede. De alguma forma ele se livrou e, com a barra de ferro nas mãos, partiu ao ataque contra os Policiais. Um PM saca sua arma e efetua um disparo.
O homem, que teria passagem criminal por roubo de arma, morre no hospital. Uma testemunha disse que antes de atirar, o Policial Militar pediu para o homem soltar a barra de ferro, fato confirmado por Policiais Civis que estavam no local. “Ele foi pra cima do PM. Aí aconteceu o disparo. Ou acontecia isso ou acontecia uma tragédia. O cara estava disposto a machucar, a fazer qualquer coisa com quem estivesse ali”, afirmou a testemunha.
Qual seria o título que você escolheria para esta matéria?
1) PM mata suspeito preso dentro de delegacia na Zona Leste de SP
2) Criminoso tenta agredir Policiais com barra de ferro numa delegacia e é alvejado por PM
A primeira chamada é a que foi usada. O que ela diz? A que conclusão ela induz o leitor? Que um Policial tirou a vida de um suspeito preso dentro de uma delegacia. Ao relatar uma situação da Polícia combatendo o crime, o jornalista comete seu próprio crime contra a realidade: além de desinformar, o título da matéria leva o leitor a tirar uma conclusão errada ao que realmente ocorreu!
O que motiva alguém a escrever de forma tão irresponsável? Quem é esse profissional de imprensa que, por padrão, assume que a Polícia está errada? Esse profissional é aquele que, quando seu gatinho não quiser descer de uma árvore, irá ligar para o 190 e pedir ajuda para a Polícia Militar. Até o gatinho sabe quem é o seu dono e tem seus motivos para não querer descer da árvore.
Segunda ocorrência reral – Contagem, Belo Horizonte, 19 de junho
Um Sargento Policial Militar de 58 anos, que estava fardado a caminho do trabalho, foi abordado dentro de seu carro por dois marginais armados e sofre uma tentativa de assalto. Um terceiro bandido aguarda dentro do carro de fuga. O PM reage, e usando uma arma particular, alveja e mata um dos criminosos. Antes de fugirem, os outros marginais efetuam dois disparos que acertam o carro do Sargento. O Policial é conduzido para receber um auto de prisão em flagrante.
Você tem duas opções para fazer a chamada desta matéria. Escolha uma:
1) Sargento da PM é suspeito de reagir a tentativa de assalto e mata ladrão em Contagem, na grande BH
2) PM que é vítima de três assaltantes, reage em legítima defesa e é preso
Se você escolheu a opção (1), parabéns, sua intuição funcionou bem, foi exatamente essa idiotice que foi publicada. Mesmo que no texto da matéria conste o fato de que o Sargento agiu em legítima defesa e ainda assim foi preso, o autor julga que isso não possui relevância suficiente para fazer parte do título. O importante é ressaltar na manchete que o Policial é “suspeito” e que houve uma “tentativa” de assalto.
Se você escolheu a opção (2), junte-se ao grupo dos que se atém aos fatos. Você não irá escrever que o PM é suspeito, pois na realidade ele é a vítima! Ou será que o Sargento deveria exercitar a resiliência, entregar seus documentos, dinheiro, arma, munição e equipamentos e esperar que os marginais fossem se despedir e deixa-lo sair vivo?
O Policial seria executado, como acontece em todos os casos semelhantes a este. Se infelizmente isto tivesse ocorrido, a culpa continuaria sendo do PM, e isso provavelmente seria retratado da seguinte forma numa nova manchete: “Sargento da PM não soube reagir de forma adequada e é morto por um ladrão com sua própria arma”.
Veja esse vídeo que está viralizando nas redes sociais e que retrata bem essa situação:
Voltando ao início desta matéria, que tipo de jornalista você escolheria ser? Aquele que reporta fatos, emite claramente a sua opinião (não importa qual seja) e permite o leitor formar seu próprio juízo, ou você teria a pegada de distorcer e filtrar os fatos para induzir o leitor a ter a mesma opinião que a sua?
As redes sociais, que inicialmente eram responsabilizadas pela disseminação de notícias falsas, adquiriram um tamanho e interconectividade tão vastos que, curiosamente passaram a servir como um eficaz e rápido instrumento para identificar, dificultar e encurtar a patética vida profissional de quem escolhe a segunda opção e ganha a vida atacando nossa Polícia Militar.