Oscar Bessi : Uma linda história real de Natal

Aconteceu na sexta, três dias antes do Natal, em São Sebastião do Caí. Pouco antes do meio dia.

Quando os dois policiais militares chegaram no casebre, perto da rodovia, o calor sufocante talvez passasse dos 40ºC ali dentro. Naquela fornalha de miséria e absurdo, uma criança de 12 anos estava deitada, sem água ou luz, sem nada para comer, beber ou se refrescar. O menino estava suando. Fora abandonado pela mãe, usuária de crack.

O nome dele é Kauã.

Sua única companhia era um cãozinho preto com pouco mais de um mês de vida.

Os policiais militares tomaram todas as providências cabíveis. Era os Soldados Jacobsen e Eckert, do 27º BPM.

Eles não haviam recebido nem salário nem 13º e podiam resmungar sobre qualquer despesa de final de mês. Mas esses dois PMs têm outro olhar sobre a vida e a humanidade, eles se colocaram no lugar daquela criança castigada pela vida cujo sonho é crescer e ser policial e lhe compraram presentes de Natal. Brinquedos e roupas. Permitiram que Kauã conhecesse a viatura, acionasse os sinais, operasse no rádio para falar com eles.

Ganharam, de presente, o sorriso de uma criança que horas antes estava condenada à morte e à falta de amor.

Falou mais alto o coração de pai, a alma de um guardião da cidadania.

Disse-me o soldado Jacobsen, e eu me emociono ao reler sua mensagem:

– Não o fizemos por mídia, o Sr. sabe, capitão, fizemos por sermos policiais e acreditar que nem tudo está perdido. Uma vida que consigamos ajudar e salvar, vale mais que todas as ocorrências de prisões juntas. Pelo menos o Kauã sorriu e o natal dele será um pouco mais alegre. O sonho dele, que quando saiu dá casa nos falou qual é? Ser policial, mesmo sabendo que seu pai está preso e dá situação de sua mãe. E decidimos juntos por não divulgar, pois não há necessidade, o sentimento de dever cumprido esse sim é o nosso combustível. Optamos pelo reconhecimento do próprio Kauã.

Pois bem, Jacobsen. Mas o grandioso gesto de vocês precisa servir como combustível de amor para milhares de almas perdidas por aí, entre seus rancores, egoísmos, consumismos e ódios. O gesto de vocês com Kauã precisa repercutir. O sorriso de vocês três, juntos, tem a força de uma estrela guia.

CORREIO DO POVO