Companheirismo também após a aposentadoria

Atenção na adoção: cães vivem longo período em atividade e ócio pode desencadear doenças e ansiedade (Foto: Jô Folha – DP)

Nova lei permite a adoção de cães atuantes pela BM depois de seu período de atuação

Por: Lucas Kurz Diário Popular

A partir de agora, após a aposentadoria de cães e cavalos atuantes no policiamento e outras atividades eles poderão ser adotados, e não mais leiloados. A preferência será dada ao servidor público companheiro do animal em seu período de trabalho, mas entidades de proteção animal e pessoas físicas também poderão adotá-los. A medida será possível a partir da sanção da Lei Nanquim, pelo governo do Estado. O nome da lei é justamente uma homenagem ao cavalo que acompanhou por cinco anos a ex-policial militar Kelly Thimoteo, em atividades na Brigada Militar (BM).

Em Pelotas, o 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM) é o responsável pelos cães atuantes no policiamento. São quatro os policiais que trabalham neste setor. Localizado na Associação Rural de Pelotas (ARP), o canil da Brigada conta com nove cachorros. Os animais são comumente vistos em eventos públicos com a presença da BM, como jogos de futebol, manifestações e apresentações da polícia. Na busca por drogas em ações policiais e em ações dentro de presídios, eles também são figuras marcantes e determinantes para o melhor desenvolvimento do trabalho de segurança.

Segundo o sargento Carlos Moraes, o período de trabalho dos animais vai, normalmente, até os oito anos de idade, podendo ser estendido um pouco mais, dependendo da resposta física de cada um. Atualmente, nenhum dos cães do batalhão está próximo da aposentadoria. O mais velho é o pastor belga de Malinois, Iron, de seis anos de idade.

Aposentado da função, o tenente Luiz Rocha já adotou dois antigos companheiros. Por possuir um canil em casa e já conhecer os animais, considerou tranquila a adaptação. Em 2009, na sua aposentadoria, levou a cadela Dibs para casa, também aposentada. Os dois cães já morreram de velhice. Ainda assim, ele considera a experiência de ter mantido a companhia algo único em sua vida. “Foi um prêmio, uma recompensa”, garante Rocha.

Para quem adotar animais provenientes da BM, Rocha aconselha: é preciso adaptar-se a eles e manter as orientações. Como estes cães vivem muitos anos sob uma mesma rotina, apenas largá-los no pátio e tratar como outros cachorros comuns pode gerar ansiedade e levar ao desenvolvimento de doenças.

Treinamento
“Os treinos são em ritmo de brincadeira”, explica o soldado Felipe Lourenço. Utilizando bolinhas e a capacidade do faro, eles são treinados a fazer diversos exercícios. No caso de apreensão com drogas, Lourenço garante que eles não possuem nenhum contato direto com as substâncias. Apenas o odor é impregnado em locais para atraí-los, atrás de seus brinquedos. No subconsciente, a procura é apenas por essas peças, e quando encontram a droga através do faro, são premiados com estes brinquedos.

Durante a reportagem, o labrador Marley, de quatro anos e meio, e o pastor suíço Thor, de quatro anos, fizeram demonstrações de treinos na modalidade agility e na busca por entorpecentes. A obediência e o foco dos animais são fatores que chamam atenção. Segundo o sargento Moraes, os animais que não demonstrarem aptidão após os treinos ou no início da prática são reprovados, sendo posteriormente doados.

Os cães
Os nove cães atuantes são divididos em três categorias: detectores de drogas, cães de guarda e proteção e cães de agility. Alguns deles podem exercer múltiplas funções. Atualmente, o 4° BPM possui animais de cinco raças diferentes. São dois pastores alemães, dois pastores suíços, dois pastores belgas de Malinois, dois labradores e um rotweiller.

Os pastores suíços são designados a trabalhos de agility, atividades com obstáculos, exibições em escolas com o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) e eventos da BM. Já o rotweiller e os pastores belgas de Malinois são destinados à guarda e à proteção, enquanto os labradores são costumeiramente detectores de drogas.

O companheirismo faz os policiais militares lidarem com os animais tal qual fosse uma família. “Nosso serviço não é mole. A gente passa mais tempo aqui com eles do que em casa”, lembra Lourenço. As manutenções diárias e a necessidade de atenção e exercícios fazem os animais serem por muitas vezes um ponto central da vida do companheiro. “A gente faz tudo o que for necessário para garantir a qualidade de vida para eles”, encerra o soldado.