Ao constatarmos a “preocupação” do Estado em dar satisfação e disponibilizar informações sobre o trabalho policial à comunidade, notamos que o açodado momento para aquisição de câmeras corporais demonstra que o Governo do Estado está mais preocupado com os holofotes da mídia do que efetivamente implementar uma política pública eficiente e eficaz de segurança pública.
É verdade que as câmeras corporais colaboram para a segurança pública e favorecem o controle e a fiscalização por parte do Estado, mas não percebemos, nos últimos 04 anos, nenhuma medida do Governo em favor da valorização e do reconhecimento dos Policiais e Bombeiros Militares.
Lamentavelmente, é um Governo que não se preocupa com a valorização dos homens e das mulheres da segurança pública estadual que, permanentemente, estão empregados na defesa e na segurança da sociedade gaúcha, inclusive com o risco de suas próprias vidas.
O discurso midiático e simplista pode, num primeiro momento, indicar e transparecer um grande investimento em segurança pública e, talvez, renda aplausos e ganhos políticos ao Governante.
Mas, é fundamental lembrarmos ao Governo do Estado de que sem Policiais e Bombeiros Militares devidamente valorizados e respeitados pelo Estado, nenhuma ação de segurança pública se sustenta e não se constrói segurança pública em cima da dor e do sofrimento de Agentes da Segurança Pública.
O Policial e Bombeiro Militar que defendem, protegem e salvam a sociedade gaúcha, precisam ser reconhecidos pelos Governantes, através de uma carreira digna e respeitosa, e tenham todos os equipamentos necessários para a execução de sua atividade e para a sua proteção, quando arriscam suas vidas no combate e enfrentamento à criminalidade, à violência e ao risco à vida.
Da mesma forma, a grandiosa propaganda do Governo do Estado que leva à população gaúcha acreditar que os veículos semi-blindados são utilizados pelas Polícias e omite da sociedade que talvez apenas 10% do efetivo policial gaúcho dispõe desse tipo de veículo para as operações de segurança nos municípios gaúchos.
Preocupa ainda, na “visão tacanha” do Estado, a “miopia”, pois não se enxerga ou não quer enxergar a falta de dignidade, de respeito em especial com os militares estaduais (Policiais e Bombeiros Militares), quando estes não tem a carreira digna e o reconhecimento do Estado em relação à política salarial que reduziu os seus vencimentos em 3,01% na transformação para subsídio a forma de remuneração. Sem contar ainda, com a abrupta implantação das alíquotas previdenciárias que também reduziu mais os recursos financeiros dos militares estaduais.
Primeiramente, precisamos de respeito, de dignidade e de nada adiantará as câmeras corporais em agentes que não tem sua proteção garantida nem condições de trabalho dignas e, ainda, convivem com o descaso e a indiferença de seus Governantes.
UMA MANIFESTAÇÃO E REALIDADE ADVERSA
Hoje, ao ver a manifestação do anunciado “novo” Secretário de Segurança Pública do RS na mídia televisiva, claramente nota-se o desconhecimento do mesmo em relação à realidade dos homens e das mulheres da segurança pública estadual.
Foram mais de cinco minutos de manifestação, sem nenhum momento pronunciar qualquer palavra ou referência à atividade desenvolvida pelos Policiais e Bombeiros Militares nem qualquer indicativo, referência ou menção à carreira digna para Policiais e Bombeiros Militares.
Talvez, a excelente condição financeira e de valorização da carreira de Agente Federal, não permita que o futuro Secretário de Segurança Pública enxergue e perceba a triste e cruel realidade dos militares estaduais de nível médio de nosso Estado nem o impacto da ausência de carreira na saúde e na vida familiar dos Policiais e Bombeiros Militares.
Rogamos que não sejam mais quatro anos de discursos bonitos e midiáticos, de divulgação de indicadores de satisfação em relação à violência com o sacrifício ainda maior dos militares.
Finalmente, é necessário recordar ao futuro Secretário de Segurança Pública que o pior e mais grave indicador na segurança pública no país e que não é divulgado intencionalmente pelo Governo do Estado é o número alarmante de suicídios de militares estaduais.
José Clemente da Silva Corrêa
Presidente Estadual da ABAMF/Brigada Militar e Bombeiros Militares
Graduado em Gestão Pública
Pós Graduado em Gestão e tecnologia em Segurança Pública